Encontro esteve integrado nas comemorações do Dia Internacional dos Museus e juntou profissionais de diferentes sectores de actividade
O Cartaxo recebeu no passado dia 14 de Maio um seminário integrado nas Jornadas do Tejo – 2011 e que pretendeu assinalar também o Dia Internacional dos Museus.
Organizado conjuntamente pelo Museu Rural e do Vinho do Concelho do Cartaxo e a Associação Amigos do Tejo, este encontro teve como tema “O Tejo e a Paisagem Vinhateira” e juntou profissionais de sectores tão diferentes como a museologia, a literatura, o jornalismo, a fotografia ou a enologia.
Pedro Gil, enólogo e vereador da Câmara Municipal do Cartaxo responsável pela área do Turismo e do Projecto Cartaxo – Capital do Vinho, esteve entre os oradores deste seminário, tendo defendido a importância do enoturismo e das Rotas do Vinho na promoção das potencialidades turísticas e de desenvolvimento económico dos territórios.
“O enoturismo e as Rotas do Vinho são excelentes ferramentas para a promoção das diferentes regiões e para a promoção dos vinhos, mas não têm sido devidamente aproveitadas”, afirmou Pedro Gil, que está confiante no novo processo de reestruturação das Rotas do Vinho que está em curso.
Criadas no final dos anos 90, as Rotas do Vinho “não cresceram da melhor forma”, na opinião de Pedro Gil, que enumerou como principais erros a falta de uma regulamentação comum, o facto do número de aderentes ser ilimitado e haver uma grande disparidade de serviços prestados.
Quanto à definição das novas Rotas do Vinho, Pedro Gil considera que o facto de irem funcionar em rede, baseadas numa maior disciplina em termos de desempenho e actividade, com uma central de reservas e canais de promoção mais uniformizados e com os Municípios a fazerem parte integrante destas estruturas “irá trazer maiores benefícios ao nível da competitividade e promoção dos territórios”.
“As Rotas são ferramentas fundamentais para promover o sector vitivinícola e acredito que irão valorizar toda a estrutura económica criada à volta da vitivinicultura. Será o desenvolvimento de uma economia paralela, que deverá entender a paisagem vinhateira como paisagem a preservar”, reforçou o vereador.
A relação dos vinhos com a gastronomia e a diversidade dos produtos característicos de cada região são desígnios a valorizar na afirmação do enoturismo, acrescentou Pedro Gil, que apresentou igualmente alguns indicadores que mostram a importância estratégica do sector.
“A viticultura é o sector da agricultura que melhor se adaptou com a entrada de Portugal na União Europeia. Portugal é o 5.º maior produtor e assume igualmente uma posição de relevo quanto à quota no mercado externo, que é de cerca de 5%. A nossa aposta na qualidade em detrimento da quantidade tem produzido os seus frutos”, frisou Pedro Gil.
Associação Amigos do Tejo lança no Cartaxo ciclo de Jornadas sobre o Tejo e a paisagem vinhateira
Presente neste encontro, Carlos Salgado, presidente da Assembleia Geral da Associação Amigos do Tejo, congratulou-se com a primeira edição de um ciclo de jornadas “que vão debater e permitir conhecer melhor as diversas paisagens que o Tejo possui”.
“Esta iniciativa é mais uma prova de que nestes últimos 27 anos os Amigos do Tejo não têm baixado os braços e não se têm refugiado em gabinetes, porque o seu lugar é no terreno. A sua estratégia programática é não embarcar em modas ou projectos virtuais”, afirmou, fazendo em seguida uma homenagem ao vinho com a “Ode ao Tejo”, de Pablo Neruda.
António Nabais – museólogo, presidente da Associação Amigos do Tejo e director científico do Museu Rural e do Vinho do Concelho do Cartaxo – considerou o Museu Rural e do Vinho um espaço “de referência e de carácter internacional” e lembrou que “todos os historiadores, desde a Idade Média até à actualidade, sempre se referiram à existência de vinhas nas margens do Tejo, inclusivamente no Cartaxo”.
Gil Vicente, Gaspar Frutuoso e António Augusto de Aguiar foram alguns dos autores que se inspiraram nas paisagens vinhateiras do Tejo para escrever as suas obras. A vinha como produto essencial do território do concelho do Cartaxo está também patente nos forais do Cartaxo e de Pontével.
“A paisagem vinhateira é um património cultural dinâmico que se apresenta como um duplo recurso: didáctico e turístico. A paisagem da vinha pode ser um complemento ao turismo enológico, envolvendo o visitante em todo o património associado ao vinho, e ao mesmo tempo pode ser aproveitada em termos da oferta de conhecimentos”, frisou, acrescentando que “estamos perante um recurso que ainda não se encontra devidamente explorado nos domínios da educação e do turismo”.
A paisagem vinhateira e o Tejo apresentados em diferentes perspectivas
A paisagem vinhateira foi ainda vista pelo olhar de profissionais de outras áreas. Da literatura ao jornalismo, passando pela fotografia e pelas experiências vividas no terreno por um viticultor, este encontro permitiu abordar o tema sobre diferentes ópticas.
Jorge Maximino, professor do Instituto Piaget, foi buscar à literatura fontes que documentam a importância que a paisagem das margens do Tejo representaram para autores como Cesário Verde, Eugénio de Andrade, Alberto Caeiro ou Fialho de Almeida.
O viticultor João Morgado enalteceu esta “paisagem suavemente ondulada” – pela qual se apaixonou – porque aí “a vida renova-se todos os anos e o solo não conhece monotonia”. Fez ainda referência às preocupações que se devem ter em termos de ambiente, economia e saúde.
Baseando-se em duas reportagens, a jornalista Ana Fernandes apresentou “o que vai na alma” daqueles pequenos vitivinicultores que receberam a vinha dos pais ou avós, mas que agora não têm a quem passar essa herança, pelo facto do negócio não ser atractivo para os seus descendentes.
E através da imagem, Pedro Inácio, coordenador do Museu da Água da EPAL, mostrou a diversidade e riqueza da paisagem vinhateira, através de fotografias produzidas na Quinta da Romeira (Bucelas) e na Companhia das Lezírias
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