.

.

.

.

sábado, 12 de abril de 2014

Impacto do aquecimento global será «grave e irreversível», diz ONU


O impacto do aquecimento global será «grave, abrangente e irreversível», segundo um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC)  divulgado a semana passada.
Autoridades e cientistas reunidos no Japão afirmam que o documento é a avaliação mais completa já feita sobre o impacto das mudanças climáticas no planeta.
Membros do IPCC afirmam que até agora os efeitos do aquecimento são sentidos de forma mais acentuada pela natureza, mas que haverá um impacto cada vez maior sobre a humanidade.
As mudanças climáticas vão afectar a saúde, a habitação, a alimentação e a segurança da população no planeta, segundo o relatório.
O teor do documento foi alvo de intensos contactos em reuniões realizados em Yokohama. Este é o segundo de uma série de relatórios do IPCC previstos para este ano.
O texto afirma que a quantidade de provas científicas do impacto do aquecimento global duplicou desde o último relatório, lançado em 2007.
«Ninguém neste planeta ficará imune aos impactos das mudanças climáticas», disse hoje a jornalistas o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri.
O secretário-geral da Associação Mundial de Meteorologia, Michel Jarraud, disse que se no passado as pessoas estavam a destruir o planeta por ignorância, agora já não existe mais esta «desculpa».
O relatório foi baseado em mais de 12 mil estudos publicados em revistas científicas. Jarraud disse que o texto é «a mais sólida evidência que se pode ter em qualquer disciplina científica».
Nos próximos 20 a 30 anos, sistemas como o mar do Ártico estão ameaçados pelo aumento da temperatura em 2 graus Celsius. O ecossistema dos corais também pode ser prejudicado pela acidificação dos oceanos.
Na terra, animais, plantas e outras espécies vão começar a «deslocar-se» para pontos mais elevados, ou em direcção aos polos.
Um ponto específico levantado pelo relatório é a insegurança alimentar. Algumas previsões indicam para perdas de mais de 25% nas colheitas de milho, arroz e trigo até 2050.
Enquanto isso, a procura por alimentos vai continuar a aumentar com o crescimento da população, que pode atingir nove mil milhões de pessoas até 2050.
«À medida em que avançamos (as previsões) no futuro, os riscos só aumentam, e isso acontecerá com as pessoas, com as colheitas e com a disponibilidade de água», disse Neil Adger, da universidade britânica de Exeter, outro cientista que assina o relatório.
Cheias e ondas de calor estarão entre os principais factores causadores de mortes de pessoas. Trabalhadores que actuam ao ar livre – como operários da construção civil e agricultores – estarão entre os que mais sofrerão. Há também riscos de grandes movimentos migratórios relacionados com o clima, além de conflitos armados.
Em lugares como a África, as pessoas estarão particularmente vulneráveis. Muitos que deixaram a pobreza nos últimos anos podem voltar a ter condições de vida miseráveis.
No entanto, o professor Saleemul Huq, outro co-autor do relatório, disse que os países ricos não estarão imunes.
«Os ricos terão que se preparar para as mudanças climáticas. Estamos a ver isso agora na Grã-Bretanha, com as cheias de há poucos meses atrás, as tempestades nos Estados Unidos e a seca no Estado da Califórnia», disse Huq.
«Estes eventos são multibilionários, têm se ser pagos pelos ricos, e existe um limite no que eles podem pagar», sublinhou.
Outro co-autor, Chris Field, frisou que existem alguns lados positivos do relatório, afirmando que o mundo tem condições de administrar os riscos previstos no documento.
«Aquecimento global é algo muito importante, mas nós temos muitas ferramentas para lidar de forma eficiente com isso. Só é preciso lidar com isso de forma inteligente», diz Field.
Mas um dos problemas que ainda não tem resposta é «quem pagará a conta».
«Não cabe ao IPCC definir isso», disse José Marengo, cientista brasileiro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que participou das negociações em Yokohama.
«O relatório fornece a base científica para dizer que aqui está a conta, alguém tem de pagar, e com essas bases científicas é relativamente mais fácil ir às negociações da UNFCCC  (Convenção Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas) e começar a delinear acordos sobre quem pagará pela adaptação do planeta)», disse.
«Lusa»

Sem comentários: