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terça-feira, 14 de junho de 2011

Milhões a caminho de Madrid

O Fundo de Coesão da União Europeia tinha 600 milhões de euros disponíveis para financiar as linhas de TGV entre Lisboa e o Poceirão, entre Porto e Lisboa, e entre Porto e Vigo (não confundir com o troço Poceirão-Caia, que tem garantidos 350 milhões de euros do mesmo Fundo). Mas isso foi antes de sermos atingidos por uma crise sem precedentes.
Depois de meses de muita teimosia, e quando já era óbvio que não tínhamos dinheiro para luxos, o Governo cessante acabou por ceder. Deixou cair, está bom de ver, as linhas que ligariam o Porto à capital e à Galiza, nunca por nunca a que ligará a capital a Madrid e daí à Europa civilizada. Podia não haver luxos para o resto do país, mas Lisboa é Lisboa, não é paisagem e merece o melhor.
Desistiu então o Governo de qualquer projecto de alta velocidade que envolvesse a cidade do Porto, mas não desistiu de abocanhar, mais uma vez, todo o dinheiro para Lisboa e arredores. Há muito que os autarcas do Norte reclamavam que esse dinheiro fosse usado, em alternativa, no projecto de expansão do metro do Porto. Alguns eurodeputados até se deram ao trabalho de perguntar aos burocratas de Bruxelas se era possível desviar o dinheiro de um lado para o outro. Até porque, a alternativa ao reaproveitamento destes 600 milhões, era deixar de contar com eles. Deitá-los ao lixo. Finalmente, há umas semanas, lá se percebeu que sim senhor, que só dependia dos portugueses reprogramar os fundos comunitários e usá-los em investimentos mais rentáveis, mais imediatos e provavelmente mais úteis. Ou seja, e entre outros exemplos, na segunda fase da rede do metro do Porto. E com isso, conseguir juntar mais 200 mil potenciais clientes aos que já enchem as carruagens todos os dias.
Ambição legítima, até para Bruxelas; ambição desmesurada, a julgar pelos burocratas lusos que decidem os destinos dos milhões que ainda chegam (por pouco tempo mais, é certo) da Europa. Tal como ontem noticiou o JN, já está feita a reprogramação dos fundos europeus, nomeadamente os tais 600 milhões que o Fundo de Coesão destinava ao TGV. A conclusão é mais do mesmo: nem um euro para o metro do Porto. Não é conhecido o destino exacto dessas centenas de milhões, mas, mais tarde do que cedo, haveremos de lhe encontrar o rasto, provavelmente a caminho de Madrid e a grande velocidade. Apesar da opacidade com que se decidem estas trocas e baldrocas de fundos europeus, há sempre coisas que se conseguem saber. Por exemplo, que ligar Lisboa a Madrid vai custar 1880 milhões de euros e que só este projecto tem mais verbas europeias atribuídas do que todos os projectos da Região Norte.
«JN»

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