Gregos cercam Parlamento para impedir discussão de novo plano de austeridade
Os gregos manifestam-se esta quarta-feira em 67 cidades. Sindicatos e movimento de "indignados" juntam-se pela primeira vez num dia que pode tornar-se violento
É um protesto inédito na Grécia e pode marcar mais uma subida na escalada de contestação social contra as medidas de austeridade impostas ao governo de Atenas pela Comissão Europeia, pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Pela primeira vez, o movimento grego de "indignados" (ou "democracia verdadeira já"), que levou 500 mil pessoas à rua há uma semana, decidiu juntar-se aos sindicatos e apoiar as manifestações convocadas em 67 cidades para esta quarta-feira, naquele que é o dia da terceira greve geral na Grécia desde o início do ano.
E também pela primeira vez, o movimento apelou a todos os gregos para comparecerem na praça Syntagma (ou praça da Constituição), em Atenas, em frente ao parlamento, para cercarem o edifício e impedirem os deputados de discutirem o novo plano de austeridade previsto para o país.
A expectativa é que venha ser um dia violento, marcado por confrontos com a polícia. Ontem à noite, na praça Syntagma, centro de todas as manifestações em Atenas, e onde há manifestantes em permanência desde o dia 25 de maio, algumas pessoas confessaram ao Expresso que existe apreensão sobre o que poderá eventualmente acontecer.
"O que anda a correr é que vai haver grupos infiltrados de agitadores que vão fazer com o que o dia se torne sangrento", dizia Eleni Manika, de 35 anos, que tem ido regularmente à praça em solidariedade com o movimento de "indignados". Nos palcos espalhados pela praça, havia palavras de ordem agressivas e, viradas para o parlamento, algumas tarjas exibiam ameaças aos políticos. "Vamos perseguir-vos", lia-se junto de uma encenação com várias forcas montadas, numa alusão a um julgamento histórico na Grécia, em 1929, em que vários políticos foram enforcados por traição à pátria.
Para tentar assegurar um ambiente pacífico, o movimento que ocupa a praça desde o dia 25 de maio criou um grupo de trabalho especializado em manter a calma, mas o medo generalizado é que facções mais radicais de anarquistas possam desencadear uma reacção em cadeia com a polícia de choque. Muita gente (incluindo jornalistas de órgãos locais) fala em agitadores combinados com as autoridades para provocarem actos violência, de modo a facilitar a desmobilização dos manifestantes.
Maioria no parlamento em risco
A greve geral e o cerco ao parlamento acontecem numa altura em que os 300 deputados do parlamento nacional deviam começar a discutir um novo conjunto de medidas de austeridade associado ao segundo plano de resgate que o FMI, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia estão a negociar com o governo helénico. A extensão das novas medidas ainda não é conhecida, mas a oposição já disse que está contra e, nos últimos dias, alguns deputados do partido do poder, PASOK, têm vindo a anunciar que não vão votar a favor, ameaçando quebrar a maioria absoluta que os socialistas mantêm no hemiciclo.
As novas medidas de austeridade precisam de ser aprovadas antes de, na próxima semana, os estados-membros da zona Euro aprovarem um segundo plano de resgate para a Grécia no valor de 85 mil milhões de euros, depois de uma primeira ajuda de 110 mil milhões de euros aprovada no ano passado mas que já não vai ser suficiente para 2012.
Com o risco crescente de o seu partido se desmembrar, o primeiro-ministro Georgios Papandreou tem hoje uma reunião de emergência com o presidente da República, Karolos Papoulias, para discutirem o momento crítico que o país atravessa. Especula-se em Atenas que a reunião vai servir para falarem da possibilidade de eleições antecipadas, cenário que tornaria a situação grega ainda mais caótica aos olhos da comunidade internacional.
http://aeiou.expresso.pt/gregos-cercam-parlamento-para-impedir-discussao-de-novo-plano-de-austeridade=f655586
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