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domingo, 19 de junho de 2011

Comunidades avieiras «uma riqueza para a região e país»

Pelo segundo ano consecutivo, a cidade ribatejana de Santarém tornou-se a capital dos avieiros. No primeiro dia do II Congresso Nacional da Cultura Avieira, no Instituto Politécnico de Santarém (IPS), falou-se da necessidade de preservar este património ribeirinho e as comunidades que mantêm viva uma identidade. Um encontro que sublinhou a ideia de criar novos produtos turísticos em torno do rio Tejo, alternativos a destinos já consolidados.

Na sessão de abertura do encontro, Jorge Justino, Presidente do IPS, disse que este Congresso configura «mais um passo importante» para a concretização do projecto da cultura avieira a património nacional e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

«Com o caminho traçado, far-se-á justiça às comunidades avieiras nas margens dos rios Tejo e Sado», considerou, lembrando que «estamos perante um projecto que representa «uma riqueza para a região e país».

Os avieiros são o resultado das migrações internas que surgiram nos finais do séc. XIX em Portugal, e podem dividir-se em dois grupos, os varinos, vindos da região de Ovar, Estarreja e Murtosa e os avieiros originários da Vieira de Leiria.

Jorge Justino realçou que o congresso tem como principal objectivo a valorização desta cultura avieira e o seu desenvolvimento integrado bem como o desenvolvimento local que «a Lezíria tanto merece».

Na mesma comunicação, o responsável do IPS, lembrou o projecto turístico – de 30 milhões de euros - orientado na navegabilidade do Tejo, desde Lisboa até Constância, passando pela intervenção das aldeias palafíticas, o desenvolvimento sustentável do Tejo, o estudo genético das populações avieiras, a criação do museu do Tejo, o aproveitamento das plantas do Tejo para fins medicinais, ao estudo da religião, a música, gastronomia, etnografia e valorização da cultura avieira.

Por seu turno, João Leite, vereador da Câmara Municipal de Santarém, vincou o sucesso do I Congresso da Cultura Avieira, sustentando que «não é por acaso que a iniciativa prossegue». Salientou o apoio da autarquia escalabitana à iniciativa avieira, tendo como uma das maiores preocupações «a revitalização ribeirinha».

«Somos a capital do Ribatejo e temos dificuldade em perceber como é que durante tantos anos não se aproveitou o rio. Vemos este projecto como uma porta para começar a requalificar este espaço. Este também é um domínio cultural e é importante não esquecer o passado que honra a nossa história», vincou João Leite.

Joaquim Rosa do Céu, presidente da Entidade de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo, fez questão de vincar a questão do Turismo no âmbito do projecto avieiro.

O responsável começou por elogiar o PROVERE - ‘Valorização Económica de Recursos Endógenos em Territórios de Baixa Densidade’, programa de fundos comunitários que financia o projecto de criação do destino turístico com base noTejo.

Nessa medida, Joaquim Rosa do Céu realçou que é fundamental «gerar equilíbrios, coisa que o país não tem conseguido». «Mas temo que as actuais circunstâncias nos conduzam, de novo, aos desequilíbrios, com o argumento da escassez de recursos».

Vincou que «o Tejo e o turismo tem forçosamente um encontro marcado», já que defende a aposta e afirmação do rio enquanto produto turístico. «Para tal, o Tejo tem de ser sinónimo de visita, ser uma atracção visível e, enquanto produto, fácil de adquirir», alertou
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«Estamos no tempo de construir os serviços turísticos, com o que temos e com o que somos. E o que temos e somos são os nossos valores, a nossa identidade», sublinhou, lembrando que a Lezíria e o Tejo «têm sido pouco promovidos a nível turístico. O Ribatejo continua a ter um papel residual na oferta turística nacional», lamentou Rosa do Céu.

Acrescentou que o Tejo e a Lezíria «têm um futuro turístico a cumprir, através dos seus recursos e valores» e deixou um aviso: «existe um Portugal dentro de outro Portugal, esquecido, mas que não se reduz aos destinos consolidados, como o Algarve, a Madeira. No Ribatejo, há os avieiros, as suas tradições, o cavalo lusitano, a memória de Alves Redol, saberes e gastronomia que pode ser potenciada. Só precisamos de criar mais oferta a quem nos visita».
Presente neste primeiro dia do II Congresso da Cultura Avieira esteve Clara Bertrand Cabral, representante da Comissão Nacional da UNESCO, e que apresentou os objectivos da UNESCO em Portugal.

A responsável realçou que aquele organismo da ONU «interessa-se pela salvaguarda do património, mas sempre com o desenvolvimento económico das regiões» em pano de fundo. «Qualquer projecto de salvaguarda não pode vingar se não existir uma base económica e social por detrás», afirmou, lembrando que a salvaguarda da cultura tem a ver com o desenvolvimento do território e com os benefícios para as populações.

Candidatura à UNESCO:À margem do Congresso, Clara Bertrand Cabral garantiu 
 que  à Comissão Nacional da UNESCO não chegou, até à data, qualquer intenção formal de candidatura dos avieiros a património daquele organismo. «A minha presença foi apenas para dar a conhecer a Convenção da UNESCO para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial», vincou.

 A especialista fez questão de salientar que se a candidatura se vier a concretizar «é imperativo, em termos de requisitos, que as comunidades avieiras, no caso, reconheçam a existência deste património vivo e que demonstrem que o mesmo é passado de geração em geração».

Nos requisitos impostos pela Convenção, sustenta Clara Cabral, constam exigências como a identificação, preservação, valorização, participação das comunidades e grupos a que respeitam a candidatura, «num processo rigoroso» de testemunho da existência do património cultural imaterial.

«Não havendo participação da comunidade e grupos não há salvaguarda de património», insiste a responsável.

Questionada sobre o assunto, a organização do congresso, disse ao
Café Portugal que a candidatura à UNESCO não deverá acontecer em 2011 e que o mais provável será avançar ao mesmo tempo com a candidatura a património nacional e à UNESCO.

No final da manhã do primeiro dia do Congresso, e no ano em que se comemora o centenário do nascimento de Alves Redol, foi ainda evocada a obra e o trabalho que desenvolveu no campo das comunidades avieiras.

Um projecto, um destino turístico:No painel ‘Políticas Locais de Desenvolvimento – Projectos em Acção’, o coordenador do projecto da candidatura Avieira a Património Nacional, João Serrano, explicou a iniciativa como factor de identidade cultural.

O projecto de investimento que consagra um novo destino turístico em Portugal, com base no rio Tejo, envolve um consórcio que integra 39 instituições e que conta com «a recuperação das aldeias avieiras, ter um Tejo fluvial, o assinalamento marítimo do rio, as aldeias avieiras, a hotelaria, o turismo religioso, a gastronomia, a marina do Parque das Nações, onde está previsto situar-se o centro de interpretação do Tejo, sendo daqui que se inicia a rota fluvial dos avieiros».
Ao todo, esta iniciativa, que conta com 30 milhões de euros de investimento, irá gerar, segundo João Serrano, «140 postos de trabalho directos e 260 indirectos».
João Serrano lembrou que actualmente decorre a fase de reformulação do PROVERE de forma a promover o aumento do investimento.
O II Congresso da Cultura Avieira é uma iniciativa integrante do projecto Candidatura da Cultura Avieira a Património Nacional, no âmbito do Programa de Valorização Económica de Recursos Endógenos, organizada pelo IPS e com o apoio da autarquia local e com o alto patrocínio da Presidência da República.

O evento terminou ontem sábado, 18 de Junho, dia dedicado às comunidades avieiras e contará com uma viagem às aldeias avieiras do Ribatejo, que começa no Escaroupim e segue para as Caneiras e Palhota. 
http://www.cafeportugal.net/




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