.

.

.

.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

AMOR EM TEMPO DE CRISE

Deixa lá. Esquece
Conheceram-se e amaram-se há sete anos. Tantos quantos os separam nas idades e tantos quantos de pastor Jacob servia…
Ele acabara o Curso. Um curso superior, tirado numa escola secular; na Universidade de Coimbra. Ela estava a começar outro.
Continuaram a amar-se. Com dedicação e lealdade raras.
Ele começou a trabalhar, em regime livre. As coisas estavam correndo razoavelmente.
E continuavam a amar-se. Dedicadamente. Lealmente.
Logo que concluiu o Curso, ela empregou-se. Não era grande a paga, mas depois se veria…
Continuavam a amar-se. Dedicadamente. Alegremente. Felizes.
Casaram-se, mas continuaram a amar-se. Dedicadamente. Enternecedoramente.
Há cerca d’um ano começaram a dar conta de que a crise estava a rondá-los.
Ela percebeu que tarde seria promovida e aumentada, parecendo-lhe que mais certo seria perder o emprego por encerramento da empresa – das maiores do país no seu sector.
E os clientes dele começaram a “atrasar-se” e a atrasá-lo”: Suspenda lá isso até ver onde vamos parar, porque as coisas estão a ficar negras…
Noutro dia desabafaram comigo – por serem meus leitores.
O pai dela dá-lhe o “Ribatejo” todas as semanas depois de o ler.
-Você escreve coisas acertadas, mas não deve conhecer a dureza da vida que muitos jovens estão a sofrer. Olhe que nós, paga a prestação da casa, pouco sobre depois do que gastamos a comer. E a poupar quanto podemos. O cinema acabou-se. Vá lá uma 2.ª feira quando o rei faz anos. Jantar fora nem pensar. Nem vamos ao café, nem compramos um livro, nem gastamos nada em revistas ou jornais e comprometemo-nos a não fazer despesas em….
Algo lhe ocorreu de repente que o fez calar-se.
E voltou para a mulher. Mas deteve-se depois um pouco. Segundos decorridos, disse:
-Olha, não te contei, mas tenho que te dizer: ontem, em Santarém, estava tanto calor que não resisti e bebi uma cerveja.
Desculpa-me…
Ela olhou-o ternamente e, com uma mão lágrima a apontar, pousou a mão nas dele e disse:
-Não faz mal. Deixa lá…Esquece
De: Eurico Heitor Consciência
(O Ribatejo”)

Sem comentários: