Por: Lurdes Véstia |
Constância, antiga Punhete, teve durante séculos um importante porto que lhe permitiu desenvolver-se economicamente, através do transporte fluvial, da construção naval e da pesca. Estas atividades fluviais foram exercidas até meados do séc. XX, havia pescadores e também barqueiros que faziam a travessia entre as duas margens, mas eram os marítimos, que possuíam barcos de grande porte (20/30 toneladas) que ligavam, comercialmente, Lisboa e as zonas mais interiores do país, quem gozava de certo poder económico e social na Vila. Em Constância confluem dois rios, o Zêzere e o Tejo.
Também aqui os Avieiros se vieram estabelecer, seguiam o ciclo do sável. É conhecido que no Zêzere, o sável, apesar de ser uma espécie migratória, conseguiu adaptar-se à água doce sem ir ao mar para completar o ciclo reprodutivo. Com a construção da barragem de Castelo de Bode, uma colónia desta espécie ficou refém, tendo-lhe sido impedido o regresso ao mar e por isso ter conseguido adaptar-se com algum êxito.
Como já referimos na Crónica passada os tripulantes de embarcações sempre recorreram ao divino para lhes confiar os barcos de modo a livrá-los das situações de perigo. A relação com a natureza, ligada a outros aspetos da vida marítima, resultou em atitudes religiosas muito variadas. Dos perigos da navegação nasceu a devoção dos marítimos a Nossa Senhora da Boa Viagem e a confiança na sua proteção divina.
Em Constância a Festa e a Bênção dos barcos, na segunda-feira de Páscoa, são os emblemáticos momentos de uma devoção cujas festividades remontam, ao século XVIII, concretamente a 1788.
Após a construção da linha férrea, em finais do século XIX, dá-se uma modificação no modo de vida da vila. O transporte de mercadorias, que era antes efetuado pelas embarcações, passou a ser feito, maioritariamente, por comboio o que veio enfraquecer o negócio e as festividades, que até à década de 60, do século XX, eram preparadas e financiadas pelos marítimos, passaram a subsistir porque a paróquia assumiu a organização da missa e da bênção. Até aos anos 80 as festividades cingiam-se às cerimónias religiosas, fazendo os marítimos uma procissão com os barcos engalanados e a banda de Rio de Moinhos a tocar.
Porém, a tradição começava a perder-se e as embarcações que apareciam, para ser benzidas, eram cada vez em menor número. É então que o Município, em 1991, confrontado com a possibilidade da sua extinção passou a organizar as Festas, incentiva os habitantes a enfeitar as ruas com flores naturais e ajuda na implementação de tasquinhas com gastronomia própria da região.
No presente
Durante a semana da Páscoa, as ruas são engalanadas por flores, agora de papel, feitas pela população e com materiais cedidos pela edilidade.
Na segunda-feira de Páscoa, na Igreja Matriz, às 15h30, celebra-se uma missa solene, seguida da Procissão da Nossa Senhora da Boa Viagem. O cortejo sai da igreja e desce até à confluência dos rios Tejo e Zêzere onde se encontram as embarcações, decoradas com bandeirinhas coloridas e flores, a aguardar pela bênção.
Para além da chegada das embarcações engalanadas um dos momentos mais marcantes é a bênção das viaturas na Praça Alexandre Herculano. Exposições, folclore, provas desportivas e atividades radicais são outras apostas da organização das festividades.
Este ano a imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo fez-se presente nas festividades de Constância, porque também aqui os Avieiros se fizeram presentes.
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