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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Discurso do Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça

CENTENÁRIO DO CONCELHO DE ALPIARÇA

CERIMÓNIA DE 2 DE ABRIL DE 2014
Auditório da Casa dos Patudos

Fernando Louro, Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça

Discurso do Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça, Dr. Fernando Louro 

Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Alpiarça, 
Ex.mos Vereadores e demais autarcas aqui presentes, 
Excelentíssimos Convidados e público em geral. 

Uma mensagem especial para todos os que foram homenageados. As minhas felicitações.
Umas curtas palavras, muito curtas, a fim de poder mostrar quanto estou feliz por estar aqui hoje nesta cerimónia como representante da Assembleia Municipal, porque isso me acontece pela primeira vez, mas principalmente, por coincidir com o dia em que o concelho de Alpiarça celebra 100 anos.
Embora esta cerimónia se realize todos os anos, esta é uma ocasião especial, porque hoje se comemora o centenário do concelho, 1914-2014. 
É a cerimónia do centenário.
Presumo que os homenageados deste ano sintam também um prazer redobrado por esse facto. 
Prazer que simbolicamente fica marcado por neste ano, esta homenagem se realizar neste espaço, novo, bonito, elegante e confortável, que passou a integrar a Casa-Museu dos Patudos.
A Casa de José Relvas.
José Relvas, o grande Republicano, nascido no concelho vizinho da Golegã, mas a quem Alpiarça tanto deve, inclusive o facto de ser concelho.
Não tenho a mínima dúvida que José Relvas amou Alpiarça. Não tenho a mínima dúvida que José Relvas sentiu Alpiarça como a sua própria terra. Assim como não tenho dúvidas de que os Alpiarcenses consideram José Relvas como um dos seus, e que Alpiarça é efetivamente a terra de José Relvas.
Aliás, é mais que isso, José Relvas e Alpiarça, se identificam reciprocamente. 
Para além de tudo o que nos fez, ainda nos deixou o seu património.
Os Alpiarcenses serão eternamente gratos a José Relvas. Só podem.

A situação política, económica e social em 1914, com a existência de leis que proibiam o aumento das despesas públicas, bem como o facto de ainda não estar aprovado o novo código administrativo, desaconselhava que se criassem novos concelhos.
Foi a importância de José Relvas e certamente compromissos assumidos para com o povo de Alpiarça, por parte do movimento republicano, pela importância que esta terra e os Alpiarcenses tiveram na implementação da Republica.
José Relvas não era apenas mais um Republicano. Ele era um Republicano com muito peso, com muita influência, com muito prestígio e com muitos amigos.
Foi preciso usar toda essa força, de modo a conseguir separar a freguesia de Alpiarça do concelho de Almeirim e dessa forma constituir um concelho autónomo.
O concelho de Alpiarça nasceu com a República, que teve origem no positivismo iluminista, preocupada com a evolução e progresso da humanidade, onde se acreditava que o interesse coletivo superava os interesses particulares, na ideia de bem comum, na efetiva transformação e democratização do país.
Era dado ao Estado um papel central, ao contrário dos valores liberais que a antecederam, e tal como hoje nos aflige a todos.
Por culpas próprias, foram cometidos erros, divisões, o que enfraqueceu drasticamente todo o projeto republicano, dando aso ao golpe militar em 1926 que instalou um regime ditatorial, que deu origem ao Estado Novo.
Assim surgiu o interregno com o Estado autocrático e corporativista, interregno dos valores republicanos plenos, ao não assegurar o interesse geral, capitulando aos interesses de uma oligarquia dominante e conservadora e tudo fazendo para impedir a soberania popular. Sem caraterísticas democráticas, com práticas ditatoriais. Onde o povo era oprimido.
Finalmente, a democracia portuguesa saída da Revolução de Abril de 1974, como a legítima herdeira da fibra e dos valores republicanos.

O concelho de Alpiarça viveu 
- 12 anos em plena 1ª Republica, numa fase embrionária da sua existência; 
- 48 anos na vigência da Ditadura militar e do Estado Novo, onde as liberdades democráticas foram cerceadas, e onde os Alpiarcenses souberam fazer da luta e da coragem, a sua arma.
- e os restantes 40 anos, vividos na república nascida com o 25 de Abril.

Ao longo destes 100 anos deu ao país gente prestigiada, gente com muito mérito, na área do desporto, na área das artes, da medicina, agricultura, etc. etc.
Mas quero realçar, que Alpiarça e os Alpiarcenses souberam viver todos estes 100 anos no lado certo da barricada, no lado certo da vida.
Com um povo fraterno, solidário, o concelho de Alpiarça optou sempre por estar do lado liberdade.
Já antes de serem concelho estiveram comprometidos nas lutas liberais.
Durante o derrube da monarquia e implantação da República, o papel dos Alpiarcenses foi muito importante, quiçá decisivo. 
Mas já na vigência do concelho, numa época mais próxima da nossa existência atual, e como todos sabemos, Alpiarça teve um papel preponderante na luta contra a ditadura, contribuindo para o surgimento do regime democrático de 25 de Abril.
Foram imensas as vítimas Alpiarcenses nesta luta corajosa, marca da nossa terra. 
Nas últimas eleições realizadas durante a ditadura, o concelho de Alpiarça, juntamente com o concelho da Moita e Barreiro, foram os únicos onde a oposição saiu vencedora.
Nem com a falta de liberdade, nem com toda a corrupção verificada no processo eleitoral, foi possível evitar esta vitória da liberdade em Alpiarça.
Mas estas coisas não acontecem por acaso. Dão muito trabalho. 

Para terminar, quero pedir uma grande salva de palmas para este concelho, que hoje é menino.
Obrigado.