O antigo chefe de Estado Mário Soares insiste, no artigo que assinou ontem no Diário de Notícias (DN), na ideia de que “o País está num impasse” comandado por um Governo “subordinado à troika” e “protegido pelo Presidente da República”. O histórico socialista deixa, por isso, um aviso: “Se Cavaco Silva continuar a só ver Passos Coelho, Paulo Portas, ignorando o País real, mais cedo ou mais tarde, irromperá subitamente a violência neste país”.
No artigo intitulado ‘A última oportunidade’, que Mário Soares assina hoje no DN, voltam a constar duras críticas à actuação do actual Governo e do Presidente da República, Cavaco Silva. O antigo chefe de Estado socialista insiste que “o primeiro-ministro e o vice não se entendem” mas “têm [em simultâneo a] consciência de que se um deles se demitisse, ou mesmo um simples ministro, (…), o Governo cairia como um castelo de cartas”.
Apesar desse alegado desentendimento, Soares afirma que “têm um objectivo comum: destruir o Estado Social, o que tem vindo a ser feito pouco a pouco mas sistematicamente” não respeitando “a Constituição da República, apesar de terem jurado cumpri-la, e o Presidente da República fazê-la cumprir. O que é muitíssimo grave”.
O histórico do PS reitera, neste sentido, que “o País está num impasse”, sem “qualquer estratégia. Tudo está parado e a incerteza quanto ao futuro é enorme”. Apesar de reconhecer “que a crise não é apenas portuguesa, é europeia, em especial da zona euro”, Soares entende que “Portugal está, cada vez mais, subordinado à troika. Mas com que autoridade?”, questiona, “ninguém sabe”.
Acontece que, explica o ex-candidato a Belém, “o actual Governo, com a sua subserviência e incompetência, obedece ao seu patrão (a troika) e por detrás dela aos mercados usuários, que comandam, sem discussão” e mantém-se em São Bento “pela simples razão que é protegido pelo Presidente da República, que ignora o povo, os partidos da oposição, os sindicatos e todas as outras entidades (….). Isto é: a grande maioria do País empobrecido e desesperado que odeia o Governo, Passos Coelho e Portas”.
“Na verdade, o Presidente da República está com os membros do Governo, não pode sair à rua, nem sequer passear, com medo de ser vaiado. Que tristeza!”, critica Soares.
Referindo-se a um entrevista que recentemente “um amigo do Presidente”, o presidente do Conselho Económico e Social (CES), José Silva Peneda, concedeu ao jornal i, que na opinião de Soares sugere que é preciso “mudar de Governo e acabar com a malfadada austeridade, que só beneficia os mercados usuários e tem vindo a empobrecer e a desgraçar o povo português e a própria classe média”, o socialista diz esperar “que o Presidente Cavaco Silva a leia” porque o “seu amigo verdadeiro, Silva Peneda, está a estender a mão para não acabar mal”.
“Porque se isso não acontecer, só se vai esperar, infelizmente, violência. Não há outro caminho para a defesa do povo português e de Portugal. Se o Presidente Cavaco Silva continuar a só ver Passos Coelho, Paulo Portas e os seus assessores, ignorando o País real, mais cedo ou mais tarde, irromperá subitamente a violência neste País”, avisa Soares, para quem “a troika e a austeridade estão esgotadas” e “o Governo moribundo”.
“Não se deixe ficar na mesma posição. Nesse caso não acabará o seu mandato. E se chegar a sair de cena, será muito mal”, conclui o socialista dirigindo-se a Cavaco Silva.
«NM»
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