Há mais de 15 anos que chefio pessoas no âmbito da minha profissão no setor privado. É um dos maiores desafios que alguém com cargos diretivos pode ter dentro de uma organização, porque mais do que saber liderar, nem sempre os líderes têm características inatas e o reconhecimento da capacidade de liderança é algo que se tem de saber conquistar. Saber liderar, tem obrigatoriamente implícita a capacidade dialogar com os funcionários, trabalhar em conjunto para que os objetivos da organização sejam atingidos, preservando a motivação do funcionário e sabendo reconhecer o seu desempenho e sem comprometer a sua realização profissional.
Numa Câmara Municipal, não é muito diferente. Ou
melhor, não deveria ser…
Enquanto Presidente da Assembleia Municipal de
Alpiarça e durante quatro anos, trabalhei com a funcionária do Município de
Alpiarça, Eugénia Pereira. Esta funcionária, além das suas funções de
Coordenadora Técnica de Administração Geral, também secretariava e assegurava o
expediente da Assembleia Municipal, sendo um cargo que além de obrigar a uma
dedicação adicional, não é remunerado. E fazia-o com profissionalismo, de forma
exemplar e responsável. Não é uma opinião que partilho isoladamente, até porque
a experiência de mais de 30 anos ao serviço do Município, lhe conferiram os
mais diversos elogios e louvores pelos anteriores Executivos. Eu próprio, na
cerimónia da tomada de posse deste novo Executivo, fiz questão de demonstrar um
reconhecimento público pela lealdade e competência demonstrada pela funcionária
ao serviço da Assembleia Municipal.
Houve quem me alertasse da inconveniência desse gesto,
considerando que a minha atual condição de eleito na oposição, poderia levar a
prováveis ‘represálias contra a funcionária’. Entendi no entanto que o
reconhecimento era devido e justo, e fi-lo com toda a legitimidade enquanto
autarca.
Eis que 10 dias depois da tomada de posse do Executivo
CDU, a funcionária é informada que depois de 33 anos de serviço no edifício da
Câmara Municipal, será transferida para a Biblioteca Municipal! Assim sem mais
nem menos, sem existir uma conversa prévia, tendo inclusive a comunicação sido
feita verbalmente por outra funcionária, como se 33 anos de dedicação à
Autarquia de nada valessem e nem o Vereador responsável pelos Recursos Humanos
pudesse dar a cara. Por menos do que isso, há quem seja acusado de cobardia…
Falta de frontalidade, houve certamente.
Maria Eugénia Pereira |
Tenho vários motivos para manifestar a minha
indignação:
a) A Eugénia Pereira é apenas mais uma vítima. Dentro
da autarquia, já outros funcionários sofreram o mesmo tratamento. Uma chefia
que toma uma decisão sabendo que irá criar uma deliberada agressão psicológica
ao funcionário (vulgarmente conhecido por práticas de mobbing), é culpado e
merece ser advertido. No caso de uma chefia política, o que é o caso, merece
complementarmente ser condenado politicamente pela população.
b) Na ausência de uma política de gestão responsável
do capital humano, deveria ter existido pelo menos o bom senso de abordar de
forma frontal e dialogante a funcionária, e solicitar-lhe uma opinião. Nada
disso aconteceu, e considero um exercício de abuso moral de poder por parte do
responsável pelo pelouro pela obrigação que tem, como eleito, de cuidar de um
ativo precioso do Município. A funcionária não é um objeto, é um ser humano,
com inequívoco valor acrescentado para o Município, tem sentimentos, e é um
quadro da autarquia, ao contrário dos políticos que estão empossados para
apenas temporariamente dirigirem a autarquia por um período limitado no tempo.
A funcionária pôs à disposição da autarquia/população mais de 30 anos da sua
vida. Os atuais eleitos têm períodos experimentais de 4 anos atribuídos pelos
eleitores. E isso faz toda a diferença!
c) A agressão psicológica à funcionária é uma ação
ilegítima de poder que atinge terceiros, nomeadamente os colegas, família e
contraria até o louvor público que eu muito recentemente fiz e que outros
autarcas já fizeram anteriormente à funcionária.
d) Quem demonstrou durante 33 anos de trabalho, uma
dedicação exemplar ao Município e ao serviço da população, não merece a
humilhação dessa dedicação ser agora estropiada, sendo deslocada para um
serviço que lhe é estranho, numa outra unidade orgânica e sem lhe explicar o
enquadramento funcional. É uma ação desmotivante revestida de assédio moral,
atuando negativamente sobre a dignidade e integridade psíquica dos
funcionários, degradando visivelmente o ambiente de trabalho dentro da
autarquia.
e) A política de Recursos Humanos praticada por este
Executivo demonstra práticas erradas de gestão do capital humano, evidenciando
incompetência, insensibilidade, provocando desmotivação, mal-estar e
insegurança no restante quadro de trabalhadores da autarquia, atentando contra
a realização profissional dos mesmos.
f) Para um partido político (PCP) que tanto gosta de
defender os direitos, o bem-estar dos trabalhadores como uma das suas maiores
bandeiras ideológicas, consegue, através dos seus eleitos, praticar exatamente
o contrário. Certamente que já se esqueceram quando o PCP apresentou o
projeto-lei 547/XII onde no seu art. 23º referia a integridade moral como um
direito inabalável do trabalhador…
Face ao acima exposto, venho por este meio, condenar
veemente este tipo de comportamento, assente na perseguição, agressão psíquica
e afastamento de pessoas que nunca em momento algum demonstraram falta de
lealdade para com quem a população democraticamente elegeu.
Alpiarça, 03 de Novembro de 2013
Mário Santiago
Termo de responsabilidade: Esta é uma opinião pessoal, pelo
que assumo a inteira responsabilidade pela mesma, não tendo qualquer conotação
com a minha condição de eleito do movimento TODOS POR ALPIARÇA e nem substitui
a opinião individual ou coletiva dos outros eleitos.