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terça-feira, 5 de novembro de 2013

Práticas de ‘mobbing’ sobre funcionários do Município de Alpiarça


Há mais de 15 anos que chefio pessoas no âmbito da minha profissão no setor privado. É um dos maiores desafios que alguém com cargos diretivos pode ter dentro de uma organização, porque mais do que saber liderar, nem sempre os líderes têm características inatas e o reconhecimento da capacidade de liderança é algo que se tem de saber conquistar. Saber liderar, tem obrigatoriamente implícita a capacidade dialogar com os funcionários, trabalhar em conjunto para que os objetivos da organização sejam atingidos, preservando a motivação do funcionário e sabendo reconhecer o seu desempenho e sem comprometer a sua realização profissional.
Numa Câmara Municipal, não é muito diferente. Ou melhor, não deveria ser…
Enquanto Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça e durante quatro anos, trabalhei com a funcionária do Município de Alpiarça, Eugénia Pereira. Esta funcionária, além das suas funções de Coordenadora Técnica de Administração Geral, também secretariava e assegurava o expediente da Assembleia Municipal, sendo um cargo que além de obrigar a uma dedicação adicional, não é remunerado. E fazia-o com profissionalismo, de forma exemplar e responsável. Não é uma opinião que partilho isoladamente, até porque a experiência de mais de 30 anos ao serviço do Município, lhe conferiram os mais diversos elogios e louvores pelos anteriores Executivos. Eu próprio, na cerimónia da tomada de posse deste novo Executivo, fiz questão de demonstrar um reconhecimento público pela lealdade e competência demonstrada pela funcionária ao serviço da Assembleia Municipal.
Houve quem me alertasse da inconveniência desse gesto, considerando que a minha atual condição de eleito na oposição, poderia levar a prováveis ‘represálias contra a funcionária’. Entendi no entanto que o reconhecimento era devido e justo, e fi-lo com toda a legitimidade enquanto autarca.
Eis que 10 dias depois da tomada de posse do Executivo CDU, a funcionária é informada que depois de 33 anos de serviço no edifício da Câmara Municipal, será transferida para a Biblioteca Municipal! Assim sem mais nem menos, sem existir uma conversa prévia, tendo inclusive a comunicação sido feita verbalmente por outra funcionária, como se 33 anos de dedicação à Autarquia de nada valessem e nem o Vereador responsável pelos Recursos Humanos pudesse dar a cara. Por menos do que isso, há quem seja acusado de cobardia… Falta de frontalidade, houve certamente.


Maria Eugénia Pereira

Tenho vários motivos para manifestar a minha indignação:

a) A Eugénia Pereira é apenas mais uma vítima. Dentro da autarquia, já outros funcionários sofreram o mesmo tratamento. Uma chefia que toma uma decisão sabendo que irá criar uma deliberada agressão psicológica ao funcionário (vulgarmente conhecido por práticas de mobbing), é culpado e merece ser advertido. No caso de uma chefia política, o que é o caso, merece complementarmente ser condenado politicamente pela população.
b) Na ausência de uma política de gestão responsável do capital humano, deveria ter existido pelo menos o bom senso de abordar de forma frontal e dialogante a funcionária, e solicitar-lhe uma opinião. Nada disso aconteceu, e considero um exercício de abuso moral de poder por parte do responsável pelo pelouro pela obrigação que tem, como eleito, de cuidar de um ativo precioso do Município. A funcionária não é um objeto, é um ser humano, com inequívoco valor acrescentado para o Município, tem sentimentos, e é um quadro da autarquia, ao contrário dos políticos que estão empossados para apenas temporariamente dirigirem a autarquia por um período limitado no tempo. A funcionária pôs à disposição da autarquia/população mais de 30 anos da sua vida. Os atuais eleitos têm períodos experimentais de 4 anos atribuídos pelos eleitores. E isso faz toda a diferença!
c) A agressão psicológica à funcionária é uma ação ilegítima de poder que atinge terceiros, nomeadamente os colegas, família e contraria até o louvor público que eu muito recentemente fiz e que outros autarcas já fizeram anteriormente à funcionária.
d) Quem demonstrou durante 33 anos de trabalho, uma dedicação exemplar ao Município e ao serviço da população, não merece a humilhação dessa dedicação ser agora estropiada, sendo deslocada para um serviço que lhe é estranho, numa outra unidade orgânica e sem lhe explicar o enquadramento funcional. É uma ação desmotivante revestida de assédio moral, atuando negativamente sobre a dignidade e integridade psíquica dos funcionários, degradando visivelmente o ambiente de trabalho dentro da autarquia.
e) A política de Recursos Humanos praticada por este Executivo demonstra práticas erradas de gestão do capital humano, evidenciando incompetência, insensibilidade, provocando desmotivação, mal-estar e insegurança no restante quadro de trabalhadores da autarquia, atentando contra a realização profissional dos mesmos.
f) Para um partido político (PCP) que tanto gosta de defender os direitos, o bem-estar dos trabalhadores como uma das suas maiores bandeiras ideológicas, consegue, através dos seus eleitos, praticar exatamente o contrário. Certamente que já se esqueceram quando o PCP apresentou o projeto-lei 547/XII onde no seu art. 23º referia a integridade moral como um direito inabalável do trabalhador…
Face ao acima exposto, venho por este meio, condenar veemente este tipo de comportamento, assente na perseguição, agressão psíquica e afastamento de pessoas que nunca em momento algum demonstraram falta de lealdade para com quem a população democraticamente elegeu.
Alpiarça, 03 de Novembro de 2013
Mário Santiago 
Termo de responsabilidade: Esta é uma opinião pessoal, pelo que assumo a inteira responsabilidade pela mesma, não tendo qualquer conotação com a minha condição de eleito do movimento TODOS POR ALPIARÇA e nem substitui a opinião individual ou coletiva dos outros eleitos.