Por: J.J.C. |
Vivemos numa sociedade individualista. E que prega a
liberdade do indivíduo como bem maior. Acontece que individualidade e liberdade
nem sempre produzem bons resultados. Na verdade, somadas, podem fazer muito
mal.
Dias atrás, enquanto desenvolvia alguns argumentos teóricos,
entramos num tema muito delicado: a relação que temos com nossos vizinhos. Pode
ser algo bastante prazeroso, mas também provocar dores de cabeça.
Uma aluna contava que, no domingo passado, um vizinho
resolveu fazer um churrasco na calçada da casa dele. Som ligado, gente a beber,
,a rir, falando alto, fumo da churrasqueira invadindo todos os espaços…
Incômodo total para quem queria um domingo mais tranquilo, para quem desejava
estudar, ver televisão.
Outra acadêmica comentou que, no prédio dela, uma das
vizinhas deixa os filhos brincarem nos corredores, entre as portas de entrada dos
demais apartamentos. Os baixinhos espalham brinquedos e outros objetos por todo
o espaço. As crianças gritam, riem, brigam… E quando alguém precisa sair ou
chegar, tem que desviar daquelas coisinhas todas.
Eu tenho uma vizinha que chega em casa quase sempre de
madrugada. Dificilmente antes das 3h da madrugada. Está frequentemente de
salto. E tem o hábito de arrastar os móveis. É rara a noite que não acordamos
com o barulho dela. Na frente do apartamento, tem um dos bares mais badalados
da cidade. As pessoas deixam o local muito tarde da noite. Entretanto, não
sabem fazer isso sem ligar o som alto, acelerar forte e “cantar” os pneus do
carro. Elas se divertem. Entendem ser o direito delas. Respeitar quem está
dormindo parece significar um cerceamento à liberdade delas.
Em todas essas situações, a gente pode pedir para as pessoas
fazerem diferente. A chance de a pessoa aceitar de bom grado a reclamação é
pequena. Quem age desta maneira quase sempre acha ter direito de “ser assim”,
“fazer assim”. Entende estar no direito dela. Atender pedido do outro é sentido
como uma agressão a sua liberdade. Esse tipo de gente tem dificuldade para
respeitar o vizinho, porque está centrada em si mesma. É a tal da
individualidade em ação.
Não gosto desse tipo de liberdade. Liberdade boa é liberdade
com responsabilidade. E não apenas na relação com o vizinho. Mas em todas as
práticas diárias. Quando a gente pensa no outro, se sente responsável por ele.
Não vai fazer churrasco na calçada e nem ligar o som em alto volume, porque o
vizinho pode estar cansado, ter tido uma noite ruim ou mesmo querer
simplesmente assistir sossegado o Faustão. Quem pensa no outro, entra no
apartamento em silêncio de madrugada para não acordar os vizinhos. Nem põe os
filhos para brincarem no corredor.
Quem tem responsabilidade com o coletivo, não bebe antes de
conduzir. Não é só ele que corre risco, alguém inocente, que respeita as leis,
pode ser vítima de sua “liberdade de escolha”. Liberdade boa é encontrar uma
carteira com dinheiro na rua e tentar achar o dono para devolvê-la. É não jogar
papel na rua… É usar o banheiro e facilitar o trabalho do zelador.
Cá com
meus botões, entendo que tem algo errado, distorcido na visão de liberdade.
Certos usos da liberdade representam uma escolha por ser melhor, por ser
superior – como se pudéssemos nos “presentear” com alguns privilégios. Ser
livre é ser igual sim, mas no sentido de reconhecer o outro como digno de meu
respeito. É meu semelhante, é igual a mim como humano, mas diferente em
escolhas, gostos, comportamentos. E isso requer que o aceite e o acolha em sua
diferença.
1 comentário:
Plenamente de acordo com este POST. E acrescento a opinião dos que governam este país os amigps do PS, do PSD, do CDS e dos TPA de Alpiarça:
O deputado centrista João Almeida considerou, esta segunda-feira, que a manutenção por muito mais tempo do salário mínimo nos actuais 485 euros, “isso é altamente prejudicial também para a procura interna”. Neste sentido, João Almeida questionou o presidente do Conselho Económico e Social (CES), Silva Peneda, no Parlamento, sobre a margem para uma subida, conta a edição online do Diário Económico.E agora a minha opinião : Como é possivel viver com 485 euros na Europa onde o consumo está todo no mesmo preço, enquanto os nossos vizinhos franceses vivem com um salário minimo de 13oo euros.
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