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segunda-feira, 26 de abril de 2010

Um bar de alterne em Alpiarça

Seria possível um "25 de Abril" nos tempos que correm?
- Seria difícil a Salgueiro Maia chegar a Lisboa vindo de Santarém com todos aqueles veículos pesados com o gasóleo ao preço actual. Um exercício difícil de imaginar. Impossível talvez. Provavelmente não chegaria aos portões da Escola de Infantaria. Se os transpusesse o mais provável era te de ligar para o número verde do ACP alguns metros depois.
2 - Isto claro se o saldo do telemóvel permitisse. Porque de outra forma teriam de fazer um primeiro desvio até o multibanco mais próximo para fazer um carregamento, esperar a mensagem de carregamento efectuado com 7,50€ (e não escudos), e aí sim poderia ligar para a assistência na estrada. Se o telemóvel estivesse sob escuta (o mais provável) acabava logo ali a revolução.
3 - Mas imaginando que conseguia andar alguns quilómetros, certamente Maia teria de parar na primeira rotunda que encontrasse forçado pelos sinalizadores luminosos duma brigada de trânsito da GNR (curiosamente uma das forças que se manteve fiel a Marcelo Caetano até ao fim). Aqui começavam os problemas. Centenas de homens a soprar no balão e outros tantos sem coletes reflectores para além de atrasarem os planos a Maia fariam desde logo reduzir substancialmente o número de homens autorizados a ir a Lisboa. Muitos detidos, muitas contra-ordenações e terminava ali a revolução.
4 - Mas supondo que de facto conseguiam passar a rotunda (os agentes tinham sido destacados para um tiroteio num bar de alterne de Alpiarça) e avançavam pela A1 até Lisboa. Depois de uma paragem em Aveiras para café, tabaco e afins higiénicos chegavam às portagens e a coisa ficava feia: gritaria com o portageiro por causa da exorbitância dos valores cobrados, alguns talões desaparecidos. Enfim: estava tudo tramado. Chegava a BT e a revolução acabava às portas de Lisboa.
5 - Mas vamos ser ainda mais ousados e admitir que Maia efectivamente entrava em Lisboa (hipótese meramente académica). Eis que toca o telemóvel (música dos Buraka Som Sistema). Do outro lado Otelo: "Maia vá já para o Terreiro do Paço, mas siga pelo túnel do Marquês para ninguém o ver. Já chega o batalhão que vai tomar a Portela andar perdido em Camarate". E lá vão eles a deslizar até ao rio. Mas algo surpreendente acontece à chegada: uma grande placa a dizer "Obras em curso" e a indicação de obrigatoriedade de seguir pela rua do Arsenal. O terreiro do paço está fechado. Ninguém consegue aceder-lhe com um veiculo maior que uma bicicleta. Maia desespera. Esbaforido grita com tudo e todos: "Querem revoluções mas não nos dão condições para trabalhar"
A passar vai um trabalhador da câmara, de capacete na cabeça, e pergunta a Maia o que quer ele fazer com tanto veículo de Guerra em Pleno Terreiro do Paço? Maia, indignado com a ousadia da pergunta diz-lhe: "Ouça lá homem. Você é cego? Não vê que isto é uma revolução?"Ao que o homem responde: "Olhe meu capitão, não sei de nada disso. Ninguém nos informou de nenhuma revolução. Vai ter de ficar para outro dia. A não ser que vá à Câmara falar com os serviços e ver o que se pode fazer".
«Expresso»

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