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domingo, 14 de setembro de 2014

CULTURA AVIEIRA: A Barraca Avieira

Por: Lurdes Véstia (*)
Como já referimos anteriormente os pescadores Avieiros estabeleceram-se no rio Tejo e no Sado, construindo uma cultura identitária e única, com base numa matriz comum, sendo as habitações de madeira assentes em estacas, espelhadas nos palheiros do litoral norte, uma das suas manifestações culturais. Se nas praias do litoral norte os palheiros eram construídos assentes em palafitas para evitar que as habitações fossem invadidas pelas areias varridas pelos ventos, no Tejo a utilidade das palafitas era a de permitir a passagem das águas do rio e assim defende-las na altura das cheias.
Essas barracas, ou palheiros, de acordo com as terminologias dos locais onde fundaram os seus assentamentos, e os materiais utilizados na sua construção, tinham basicamente a mesma tipologia de construção. Diz-nos Lopes Bento (1) que esta forma de habitação terá surgido como adaptação ao ambiente: “(...) o pescador, porém, como o manejo da sua pesada alfaia o obrigue a não se distanciar muito da margem, quando caso mais frequente, a pesca é a sua exclusiva ocupação, adaptou a casa à instabilidade do solo em que habita. Vencer ou atenuar esta ação da dinâmica terrestre e principalmente na região onde ela se acentua com mais intensidade foi o que conseguiu com as habitações sobre estacaria”.
No Tejo, o termo palhota, com que se designavam em alguns locais as habitações dos Avieiros, derivava do facto de se utilizar palha, ou colmo, para as coberturas, material abundante nos terrenos agrícolas da Borda d´Água tagana.
A barraca (assim apelidada sem qualquer intuito pejorativo) era construída sobre estacaria e todo o material de construção utilizado era a madeira, com exceção do lar e da chaminé, que eram de tijolo e cal, e o telhado que era de telha e de duas ou quatro águas.

Barracas Avieiras em época de cheia
 Só mais tarde aparecem as estacarias feitas em betão de modo a oferecer mais consistência e durabilidade.
As tábuas que formavam as paredes achavam-se dispostas quase sempre verticalmente; só excecionalmente se viam tábuas atravessadas. As fachadas eram pintadas de cores garridas e muitas vezes da mesma cor que a embarcação de que eram proprietários, talvez como forma de identificação pessoal…Quando as barracas ficavam altas, subia-se para elas por uma escadaria externa, igualmente de madeira, que servia uma varanda,na frente do lado do rio, que permitia o acesso à porta principal. O interior da casa era geralmente composto por um ou dois quartos, dependendo do número de filhos, pintados de azul ou rosa conforme o sexo dos ocupantes, uma cozinha e uma sala. Muitas vezes a cozinha ficava fora da barraca por causa dos fogos.O recheio era adequado à sobriedade que caraterizava os pescadores. Regra geral a casa era o espaço da mulher e das crianças e a rua o do homem.
Ainda se podem ver várias barracas nalgumas das aldeias Avieiras, nomeadamente, Patacão, Caneiras, Escaroupim, Palhota e Porto da Palha. Umas em razoável estado de conservação mas a maioria a necessitar de urgente intervenção pois correm o risco de desabamento com o consequente esquecimento de uma arquitetura secular e única na Europa, a construção palafítica fluvial. Para que esta intervenção seja possível é urgente reconhecer o interesse do património e da cultura Avieira, como fatores de diferenciação e afirmação da genuinidade dos territórios, particularmente os mais fragilizados e marginalizados.
Foi neste tipo de habitação que cresceram os avós e pais da penúltima geração de Avieiros do Tejo.

(1) -Professor catedrático convidado e presidente do Conselho Científico do Instituto Superior Politécnico Internacional.
(*) Mestre em Educação Social

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