A Europa já assiste a ‘defaults’ desde 1340 e Espanha lidera lista de incumpridores. Portugal aparece sete vezes na lista.
A palavra ‘default' só precisa de ser sussurrada para ser o bater de asas de borboleta que causa terramotos nos mercados, mas desde 1340 que os países europeus caem em incumprimento, com a Espanha à cabeça.
De acordo com dados consultados pela Lusa, recolhidos por investigadores americanos e pelo Credit Suisse, a primeira situação de incumprimento registada na Europa deu-se em 1340 pela Inglaterra, mas o recorde, até ao momento, é detido pela Espanha, com sete ‘defaults' só no século XIX, depois de seis nos 300 anos que o antecederam.
"Com a sua série de incumprimentos no século XIX, a Espanha tomou o manto de mais incumpridora à França, que tinha renunciado às suas obrigações em oito ocasiões entre 1500 e 1800", escrevem os académicos Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, a primeira uma antiga vice-presidente do Bear Stearns e o segundo um antigo economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, no livro ‘This Time is Different: Eight Centuries of Economic Folly'; (algo como "Desta vez é diferente: Oito séculos de loucura económica").
Uma tabela compilada pelo Credit Suisse confirmava a posição da Espanha como ocupante do trono dos incumpridores: entre 1557 e 1939, a Espanha renegou os seus compromissos de dívida não uma, duas nem três vezes, mas sim 18 vezes, contra as "meras" sete ocasiões de Portugal e nove francesas.
Muitas destas situações de incumprimento foram motivadas por guerras (16 das 18 ocorrências espanholas tiveram lugar em momentos de confronto) ou, no caso dos países com colónias, pela independência das mesmas.
Nem a Alemanha escapa a esta lista, verificando-se ‘defaults' em terreno germânico (ou prussiano, dependendo do momento histórico) em cinco pontos dos últimos 500 anos, desde 1683 até 1939, segundo a lista do Credit Suisse.
O panorama nos séculos XVIII e XIX era de tal forma que o ministro francês das Finanças, Abbe Terray, em funções entre 1768 e 1774, chegou a dizer, citado por Reinhart e Rogoff, que os governos deviam entrar em incumprimento uma vez por século para restaurar o equilíbrio, uma espécie de catarse.
Os dois economistas consideram que "talvez mais do que qualquer outra coisa, o fracasso em reconhecer a precariedade e a fragilidade da confiança é o factor-chave que dá origem à síndrome de ‘desta vez é diferente', ou seja, governos altamente endividados, bancos e empresas parecem estar a saltitar de forma contente por um período prolongado, quando, de repente, a confiança cai, os empréstimos desaparecem e a crise chega".
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