Por: Isabel Faria |
Não consigo entender (nem aceitar!) a
necessidade da exibição pornográfica da morte e do sofrimento. Os jornais, as
redes sociais e as televisões foram, há duas semanas, invadidos por imagens e
notícias detalhadas da morte do filho de Judite de Sousa. Dissecaram-se
comunicados. Entrevistas. A sua vida intima. Publicaram-se fotos da mãe a
chorar a perda do seu filho, o Correio da Manhã, oito dias depois, com uma foto
de quase meia página na capa, ainda dava “pormenores” da noite fatídica. E, vi
eu, ali no quiosque dos jornais, uma pequena multidão
discutia…acaloradamente…as causas. Como se houvesse discussão possível na morte
de um jovem de 27 anos…ou na dor da sua perda pela sua mãe.
Esta última semana são as imagens de
crianças assassinadas pelas bombas israelitas em Gaza, que nos chegam de todos
os lados. Nem interessa saber se todas as imagens são recentes…se algumas são
“fabricadas”, o que me interessa é que, com mais ou menos sangue, com mais ou
menos destruição à volta, sejam elas desta semana ou de há anos, há crianças
que morrem vítimas de uma guerra com que a comunidade internacional pactua.
Mortes motivadas por um ataque completamente desproporcional de um País que,
até á luz da história dramática dos seus antepassados, nunca deveria ter
passado a agressor, a repressor e a assassino. As imagens de meninos e meninas
mortos na terra que é sua, mas que outros ocuparam, são imagens de terror. Não
precisamos delas para saber do terror. Espalhar essas imagens acaba por, pelo
contrário, banalizar o terror.
Dos meninos palestinianos prefiro esta
foto. Uma foto de meninos vivos. O seu olhar de meninos desafia-nos e
responsabiliza-nos. Não sei de quando é esta foto. Não sei se estes meninos
ainda são meninos ou, sequer, ainda estão vivos. Mas a nossa luta pela paz na
Palestina e pelo direito dos palestinianos à sua Pátria, tem que ser feita com
eles, vivos, e por eles. Para que possam viver.
Fica
um poema de Mahmud Darwish, poeta palestiniano. Sobre os meninos, que nunca
foram meninos. E os homens a quem nunca deixaram ter tempo nem hipótese de ser
Homens. E as suas razões.
"Ocuparam a minha pátria
Expulsaram o meu povo
Anularam a minha identidade
E chamaram-me terrorista
Confiscaram a minha propriedade
Arrancaram o meu pomar
Demoliram a minha casa
E chamaram-me terrorista
Legislaram leis fascistas
Praticaram odiada apartheid
Destruíram, dividiram, humilharam
E chamaram-me terrorista
Assassinaram as minhas alegrias,
Sequestraram as minhas esperanças,
Algemaram os meus sonhos,
Quando recusei todas as barbáries
Eles… mataram um terrorista!"
(*) Jorge de Sena
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