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terça-feira, 12 de julho de 2011

Se calhar o problema é mesmo ter apenas dois hectares


OPINIÃO

Não há NENHUMA CULTURA NO MUNDO que permita viver um ano inteiro cultivando 2 hectares.

Os agricultores ribatejanos (e portugueses) habituaram-se mal.

Uma exploração agrícola é tal como um restaurante, uma fábrica, um barco de pesca, uma unidade que tem de saber produzir, racionalizar as receitas/despesas e saber comercializar.

Tudo tem de ser contabilizado e ninguém pode adquirir alfaias, tractores, reboques, etc., cuja amortização "coma" a totalidade da produção.

Os agricultores portugueses fazem-no e fizeram-no durante anos!

Produziam por exemplo uma cultura que gerava um lucro de 10000 euros (tirando as despesas) e assumiam compromissos de 20 ou 25000 euros/ano com a amortização da maquinaria.

Associar? Não que isso dá mau resultado...

Evidentemente que quem tem 2 Hectares não pode ter um tractor, um reboque e outras alfaias para utilizar a 5 ou 10% da sua capacidade.

Seria imperioso que essa maquinaria servisse 5-10 agricultores que de uma forma perfeitamente organizada e com REGRAS CLARAS tirasse a máxima rentabilidade da maquinaria.

Há mais de 30 anos tive o prazer de falar com um engenheiro agrónomo alemão que estava em Portugal há uns anos e não se queixava.

Quando contactei com ele, pretendia um semeador de alta precisão. (isto há mais de 30 anos!)

O semeador tinha um dispositivo electrónico que punha a semente de x em x centímetros e a uma determinada profundidade.

Contou-me ele na altura que há uns anos tinha lançado a cultura intensiva de pessegais.

Quanto todo o “Tuga” começou a plantar pessegais, pôs-lhes as raízes ao sol e mudou a sua produção.

Essa máquina destinava-se na altura a uma produção de cebolinho para pickles.

Andava nessa altura à procura de uma grande extensão na zona de Palmela para cultivo intensivo.

Dizer isto a um agricultor ribatejano é meio caminho para nos chamar no mínimo burros, e outros mimos.

A maioria ainda não conseguiu entender o funcionamento dos mercados e nomeadamente a lei da oferta e da procura.

É por isso que cultivam o que todos fazem, ficando dependentes dos preços estabelecidos pelo Estado ou cooperativas.

Ou então, o vizinho ganhou dinheiro este ano, então vamos todos cultivar o que o vizinho cultivou (morangos por exemplo).

Depois, com o excesso de produção, "comem-se" todos uns aos outros e acaba por não ser bom para ninguém.

Comentando a notícia, os agricultores fazem-se de vítimas...

No entanto se alguém parar à beira da estrada e lhe quiser comprar 40 ou 50 Kg de melão, querem praticar os mesmos preços que os hipermercados.

Porquê? Porque acham que o "estúpido" do consumidor paga sempre o que eles pedem.

Há uns anos, (não nomeio quem foi) perto da "curva do Moedas" tentei comprar uns quilos valentes para consumo particular (dar a familiares).Quem lá estava queria praticar preços de hipermercado.

Claro que também sou teimoso e não houve negócio.

A seguir, para um tipo com uma Hiace de caixa aberta (levaria 300 ou 400 Kgs) e o senhor que não me quis vender a PRONTO 50/60 Kgs, vendeu 300 ou 400 a 1/3 do preço que me pediu e sujeitando-se a receber um cheque "careca".

Enquanto não mudarem as mentalidades a agricultura portuguesa será sempre deficitária.

Um pequeno agricultor/seareiro é um empresário e se não pensar como empresa andará sempre a chorar...

Opinião de um leitor
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