OPINIÃO
Não há NENHUMA CULTURA NO MUNDO que permita viver um ano inteiro cultivando 2 hectares.
Os agricultores ribatejanos (e portugueses) habituaram-se mal.
Uma exploração agrícola é tal como um restaurante, uma fábrica, um barco de pesca, uma unidade que tem de saber produzir, racionalizar as receitas/despesas e saber comercializar.
Tudo tem de ser contabilizado e ninguém pode adquirir alfaias, tractores, reboques, etc., cuja amortização "coma" a totalidade da produção.
Os agricultores portugueses fazem-no e fizeram-no durante anos!
Produziam por exemplo uma cultura que gerava um lucro de 10000 euros (tirando as despesas) e assumiam compromissos de 20 ou 25000 euros/ano com a amortização da maquinaria.
Associar? Não que isso dá mau resultado...
Evidentemente que quem tem 2 Hectares não pode ter um tractor, um reboque e outras alfaias para utilizar a 5 ou 10% da sua capacidade.
Seria imperioso que essa maquinaria servisse 5-10 agricultores que de uma forma perfeitamente organizada e com REGRAS CLARAS tirasse a máxima rentabilidade da maquinaria.
Há mais de 30 anos tive o prazer de falar com um engenheiro agrónomo alemão que estava em Portugal há uns anos e não se queixava.
Quando contactei com ele, pretendia um semeador de alta precisão. (isto há mais de 30 anos!)
O semeador tinha um dispositivo electrónico que punha a semente de x em x centímetros e a uma determinada profundidade.
Contou-me ele na altura que há uns anos tinha lançado a cultura intensiva de pessegais.
Quanto todo o “Tuga” começou a plantar pessegais, pôs-lhes as raízes ao sol e mudou a sua produção.
Essa máquina destinava-se na altura a uma produção de cebolinho para pickles.
Andava nessa altura à procura de uma grande extensão na zona de Palmela para cultivo intensivo.
Dizer isto a um agricultor ribatejano é meio caminho para nos chamar no mínimo burros, e outros mimos.
A maioria ainda não conseguiu entender o funcionamento dos mercados e nomeadamente a lei da oferta e da procura.
É por isso que cultivam o que todos fazem, ficando dependentes dos preços estabelecidos pelo Estado ou cooperativas.
Ou então, o vizinho ganhou dinheiro este ano, então vamos todos cultivar o que o vizinho cultivou (morangos por exemplo).
Depois, com o excesso de produção, "comem-se" todos uns aos outros e acaba por não ser bom para ninguém.
Comentando a notícia, os agricultores fazem-se de vítimas...
No entanto se alguém parar à beira da estrada e lhe quiser comprar 40 ou 50 Kg de melão, querem praticar os mesmos preços que os hipermercados.
Porquê? Porque acham que o "estúpido" do consumidor paga sempre o que eles pedem.
Há uns anos, (não nomeio quem foi) perto da "curva do Moedas" tentei comprar uns quilos valentes para consumo particular (dar a familiares).Quem lá estava queria praticar preços de hipermercado.
Claro que também sou teimoso e não houve negócio.
A seguir, para um tipo com uma Hiace de caixa aberta (levaria 300 ou 400 Kgs) e o senhor que não me quis vender a PRONTO 50/60 Kgs, vendeu 300 ou 400 a 1/3 do preço que me pediu e sujeitando-se a receber um cheque "careca".
Enquanto não mudarem as mentalidades a agricultura portuguesa será sempre deficitária.
Um pequeno agricultor/seareiro é um empresário e se não pensar como empresa andará sempre a chorar...
Opinião de um leitor
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