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domingo, 10 de julho de 2011

Agricultura biodinâmica ganha adeptos

Concebida no início do século XX pelo alemão Rudolf Steiner, e difundida, desde então, um pouco por todo o Mundo, a agricultura biodinâmica começa a ganhar adeptos em Portugal.

Tendo por princípio uma conceção da natureza como parte do Universo, dependente, por isso, das constelações, do sistema solar e das fases lunares, a agricultura biodinâmica está na origem da agricultura biológica, que acabou por adotar os processos que recusam o uso de químicos.

“Atualmente há dois motivos pelos quais as pessoas se convertem à biodinâmica. Uns por ideal de proteção, de cuidado e mesmo cura da Terra. Outros por fins comerciais, porque há um mercado que procura mais produtos Demeter”, a organização internacional que certifica esta prática agrícola, disse à agência Lusa o, para já, único consultor da instituição em Portugal.

João Castella é o responsável pela certificação, desde 2006, de quatro produtores em Portugal, essencialmente de azeite, vinho e sumo de uva, e tem em vias mais três certificações.

Uma delas, de fruta, começa a dar os primeiros passos num terreno que partilha com uma amiga na zona de Tomar, e que está a preparar desde janeiro, para fazer a plantação no próximo inverno. As outras são de explorações de hortícolas, em Alpiarça, e vinho.

A qualidade e o sabor dos produtos biodinâmicos tem vindo a ganhar adeptos – “os vinhos, por exemplo, são muito premiados” -, pelo que há produtores a pedirem o caderno de encargos da Demeter e a converterem as suas explorações, não por serem seguidores da filosofia que está por detrás dos princípios da biodinâmica – a Antroposofia -, mas porque constatam os resultados da prática, afirmou.

Entre as explorações que seguem este método em Portugal encontram-se duas produtoras de azeite, uma de sumo de uva e outra de vinhos, que optou não pela certificação Demeter mas pela inclusão no grupo de opinião mundial “Renaissance des Apellations”, que, disse, tem critérios “ainda mais exigentes”.

No terreno que prepara para receber o pomar biodinâmico, João Castella está a fazer os compostos orgânicos que vão “desbloquear” e repor o equilíbrio do solo, “preparados” que incluem extratos de plantas, bosta de vaca e minerais, como cristais de quartzo.

“A natureza é um todo. Estas plantas não crescem aqui por acaso. Se aqui estão é porque têm uma função. Há um conjunto de forças a atuar nesta terra que é preciso conhecer e respeitar”, disse.

É assim que, em biodinâmica, a preocupação é “ir às origens”, para, por exemplo, corrigir os desequilíbrios que levam ao aparecimento de pragas, exemplificou.

“Na biodinâmica há a consciência de que nada surge por acaso e que a natureza não cria só para se divertir. Há sempre uma razão por detrás do aparecimento de qualquer espécie viva ou de qualquer problema e essa razão são forças invisíveis, mas que existem e se manifestam desta maneira”, afirmou.

João Castella adaptou para Portugal o caderno lunar desenvolvido por uma seguidora de Steiner, Maria Thun, que ao longo de 60 anos de experimentação reuniu informação sobre os melhores dias para cada prática agrícola, de acordo com as fases lunares e os astros.

“Hoje, por exemplo, é um dia bom para qualquer planta de que vamos tirar frutos, porque todas as influências cósmicas – no fundo o que dá qualidade aos produtos – nestes dias estão a incidir na formação da fruta. Fazendo os trabalhos nestes dias estamos a facilitar a vida à natureza. Fazendo noutro estamos a criar barreiras, a dificultar o seu desenvolvimento”, disse.

João Castella sublinha que esta prática agrícola “não é muito cara”, mas “dá muito trabalho, exige muito esforço pessoal, muito empenho”.

«Lusa/AO online»

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