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terça-feira, 17 de junho de 2014

OPINIÃO: «Nem a "traição" é um argumento político nem serve para conquistar corações.»


Que PS vai sobrar depois disto? pergunta a Ana Sá Lopes.
«Nem a "traição" é um argumento político nem serve para conquistar corações.»

Por: Anabela Melão
Só passaram 19 dias desde que Costa se anunciou candidato a SG do PS e o ambiente dentro do partido já está irrespirável. É impossível manter alguma racionalidade naquela que é já dada como uma das maiores guerras intestinais dentro do PS (e mais durável: contando o tempo que já vinha com o que há-de vir). "Calhaus, insultos, insolências, trocas de tiros virtuais, tudo a contribuir para que uma batalha que deveria ser estritamente política se aproxime a passos largos de um romance de cordel. Se o objectivo for o de rebentar com o partido mesmo antes das próximas legislativas, é capaz de estar a ser conseguido: se sobrar alguma coisa do PS depois do que se tem visto nos últimos dias, será uma alegria."
..... "é insustentável para o PS esperar até 28 de Setembro para o desenlace da guerra civil. O que se está a passar é uma versão aproximada de "irregular funcionamento das instituições". .... Há um problema político: o PS não funciona nem vai funcionar enquanto maior partido da oposição e partido mais votado nas eleições europeias pelo menos até Novembro (no caso de Seguro perder as primárias). E todos os dias os socialistas disponibilizam bom material de propaganda futura para os tempos de antena da coligação governamental - além de contribuírem vivamente para alegrar os discursos de Marinho e Pinto.


Já se sabia que isto ia correr mal, pelo menos tão mal como em 1991. Mas está a ser pior: felizmente para o PS, em 1991 não existiam redes sociais. Agora, a exposição pública do "debate" entre militantes é confrangedoramente triste.
... António José Seguro sente-se (é?!) frustrado e "traído", e como uma peixeira da ribeira (sem ofender as ditas) chama oportunista a Costa. Como se Seguro alguma vez na vida soubesse ser alguma coisa senão isso. Foi até hoje o político mais oportunista (retirando o calculismo de Portas mas esse estratégico, calculado, direccionado), queimando dentro da JS e já fora dela todos os que lhe pareciam susceptíveis de se perfilar como futuros opositores. Nunca um lider se rodeou de tantos compadrios e yes-man à sua volta, afastando qualquer massa crítica dos órgãos do partido. Tudo e todos os que lhe podiam fazer mossa foram colocados, um a um, de lado, em banho-maria, tal como lhe fizeram anos a fio a ele. Não sirvas a quem serviu .... Nem a "traição" é um argumento político nem serve para conquistar corações. Seguro pôs as garras de fora, apoiado por Maria de Belém, e, desprezando a tal politica dos afectos que tanto apregoou e que captou os apoios de algumas balzaquianas dentro do partido, joga o factor de sedução do "traído". De nada lhe serve. Tem até perfil de traído embora em muitas situações tenha sido ele o traidor. Um sonso. Olhos vazios e inexpressivos a esconder a ambição desmedida que alimentou anos a fio quando ainda todos o viam como um aprendiz de polichinelo.


Seguro sempre usou o truque dos ambíguos e dos sobreviventes: as meias-palavras. Se visa pressionar Costa a falar e a identificar-se com o passado do PS, enquanto número 2 do PS nos governos Sócrates, dispare com questões concretas e discuta a gestão dos anteriores governos. Enfim, talvez dessa discussão pudesse nascer alguma luz para o PS. "De discursos de faca e alguidar, mais habituais em processos de divórcio litigioso, não nasce nada." Mas, é precisamente nestas situações, que se revela a falta de perfil para lider, pódio a que chegou para desventura do PS e inglória da oposição. Perdeu-se muito com Seguro como SG: o partido fragmentou-se, os vendilhões já se vendem por menos do que um prato de lentilhas, os troca-tintas vomitam nas redes sociais sapos de "apoio" a Costa. Um partido que depois de Seguro nunca mais será o mesmo. Pelo caminho terão ficado socialistas de primeira linha e gente competente que muita falta faziam na construção de uma oposição sólida e credível. No melhor pano cai a nódoa. E por muita lexívia que se use, Seguro causou estragos irreparáveis dentro do PS. Resta a Costa entrar e começar com uma valente sabonária, ainda que leve à frente umas quantas sopeiras e controleiros que, até agora, lhe foram muito úteis. 

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