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domingo, 2 de outubro de 2011

O fim do jardinismo como o conhecemos


Alberto João Jardim era o único político português invencível – e inimputável também. Todos os líderes do pós-25 de Abril, de todos os partidos, ganharam e perderam, tiveram o amor do povo e o seu ódio correspondente, à vez. De Mário Soares a Cavaco Silva, todos viveram os seus momentos “horribilis”, provaram o fel da impopularidade e sofreram derrotas estrondosas. A única excepção à normalidade democrática era, de há 33 anos para cá, Alberto João Jardim. 

 Todos os que prometeram guerra a Jardim acabaram a deitar a toalha ao chão, humilhantemente. António Guterres, nos idos 90, descobriu o “défice democrático” da Madeira – e o seu líder parlamentar de então, Jaime Gama, levou a causa ao ponto de, numa famosa sessão parlamentar, ter comparado Jardim ao ditador da República Centro-Africana “Bokassa”. Quase vinte anos mais tarde, em 2008, já Presidente da Assembleia da República, o mesmo Jaime Gama foi à Madeira elogiar a governação de Alberto João e, mais, apontá-lo como “o exemplo supremo na vida democrática do que é um político combativo”.

 Depois de António Guterres, até antes de ter chegado ao governo, ter metido a viola do défice democrático da Madeira no saco, veio Sócrates e tentou pôr cobro ao festival jardinista. A “megera lei socialista das finanças regionais” – como ainda ontem lhe chamou o presidente do governo regional da Madeira – foi o mote para a estrondosa demissão de Alberto João e convocação de eleições antecipadas. E o povo madeirense renovou a confiança a Alberto João Jardim. As finanças regionais continuaram no centro do dramalhão político: a demissão do governo Sócrates esteve iminente, com Teixeira dos Santos a ameaçar demitir-se se as cedências a Jardim fossem feitas. Um braço-de-ferro neurótico que terminou a favor de Jardim, depois da tragédia que em Fevereiro de 2010 abalou a Região Autónoma. A desgraça aniquilou a guerra das transferências e Sócrates e Jardim ficaram amigos – com Teixeira dos Santos, isolado, a clamar que não deveria ser assim.

Isto é só um avo de uma história recente em que os insultos de nível abaixo de zero e as ameças  de independência pontuaram o discurso do homem que era “assim”, uma espécie de fardo que o PSD nacional e o país tinham de acarretar por obrigação democrática. As vitórias consecutivas aniquilavam qualquer resposta. Agora, aparentemente, o mundo mudou. Pela primeira vez, Jardim foi apanhado em flagrante delito e com Portugal sob o fogo amigo dos mercados internacionais, a sua margem de manobra reduziu-se drasticamente. Pode não ser o fim, mas é o começo disso.
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