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domingo, 16 de outubro de 2011

O estado do Estado Social... Eu produzo, tu comes

 Opinião

Dizem os diversos governantes que as pessoas têm de criar mais, produzir mais e saber viver com aquilo que produzem. Em teoria, tudo isto é muito bonito e verdadeiro, a questão é que por muito que se produza nunca vivemos com o que deveria ser nosso por direito. Quanto mais produzimos, mais pagamos. Se o meu ordenado ou a minha produção aumentam, aumentam também, imediatamente, a prestação que pago à Segurança Social e o imposto sobre o meu rendimento, e o meu crescimento económico e a melhoria da minha vida é-me impossibilitada simplesmente porque eu decidi trabalhar mais. E entramos num problema muito difícil de resolver.
Existem gorduras do Estado e toda a gente fala em eliminá-las. Mas ninguém está muito preocupado em pensar, exactamente, quais são aquelas gorduras que nos obrigam a pagar tantos impostos. Se é verdade que os governantes têm demasiadas regalias e não deviam e, se fossem honestos e dessem o exemplo deveriam acabar com elas, também é verdade que essas regalias são insignificantes a nível de despesa geral. Não é por deixarmos de ter 230 deputados e passarmos para os 180 que a nossa despesa vai diminuir por aí além... é uma gota num oceano. Depois é verdade que existem as fundações, que ninguém sabe exactamente quantas são, e que levam uma boa porção de dinheiros públicos, mas também é verdade que desde Setembro se anda a cortar nas mesmas e a fundir umas com outras num trabalho que, com certeza, levará largos meses a terminar. Depois existem os ordenados milionários dos gestores públicos com os quais ninguém concorda... e esses já vão ser cortados também. E, mais uma vez, isso não é suficiente.
E, mesmo assim, a despesa continua alta e as “gorduras” do Estado são imensas. Porque além daquelas que a nós não nos interessa e por isso exigimos que se corte, existem as outras.
Assim quando falamos em gorduras do Estado estamos também a falar de gorduras que são o ordenado de alguém. Existem cerca de 700.000 funcionários públicos e, todos eles, representam uma gordura. Se exigimos o corte nas gorduras do Estado depois não podemos revoltar-nos quando o Primeiro-Ministro corta também nos ordenados destes funcionários e nos subsídios que os mesmos recebem. Mas há mais. Há muito mais e a grande porção da gordura do estado vem daquilo a que chamamos “Estado Social”. E aqui a porca torce o rabo. Porque ao mesmo tempo que defendemos e exigimos o “Estado Social”, ao mesmo tempo que acusamos os governos de quererem acabar com o “Estado Social”, também exigimos que não nos aumentem os impostos e as prestações sociais e também acusamos, os mesmos governos, de nos roubarem com esses aumentos. Ora não se pode ter tudo. Quem pensam que é o “Estado Social”? De onde pensam que vem o dinheiro do “Estado Social”? Vem de todos nós. Tem de vir de todos nós porque não nasce nas árvores. Se queremos ter saúde pública ou convencemos os médicos, enfermeiros e demais funcionários a trabalhar de graça ou alguém tem de lhes pagar os ordenados, mais as infra-estruturas, equipamento médico e medicamentos. Se queremos ter escolas públicas gratuitas, ou convencemos os professores, auxiliares de educação e demais funcionários a trabalhar de graça ou alguém tem de lhes pagar ordenados, mais as infra-estruturas e material escolar. O mesmo com a polícia, com as águas, com a luz, com os comboios, com... Não queremos nada privatizado, mas também não queremos pagar nada. Fazemos cartazes com palavras de ordem que afirmam “público é de todos, privado é só de alguns”, a questão é que o que é de todos, todos têm de pagar, o que é de alguns pagam alguns, aqueles que quiserem utilizar o serviço e, se der prejuízo, os nossos impostos não aumentam por causa disso. Depois temos os subsídios. Ninguém quer pensar em perder o emprego e ir para a rua de mãos a abanar. Todos queremos ter direito a um subsídio de desemprego o maior tempo possível e no maior valor possível... ora quem pensam que os paga? E as pensões? E os rendimentos mínimos de inserção? E as pensões por invalidez? Tudo isso tem de ser pago por alguém. Esse alguém somos nós. Não se pode ter tudo, ou abdicamos de alguns direitos adquiridos e ficamos com uma carga fiscal inferior ou, para termos direitos temos de os pagar...
Na minha opinião o Estado Social peca por ser solidário indiscriminadamente e tornar a sociedade mais injusta. Se não existisse Estado Social, ou se o mesmo não fosse tão grande, as pessoas viam-se forçadas a serem solidárias e, em vez de andarmos todos a pagar tanto à Segurança Social para que esta distribua os nossos dinheiros por quem pensa que precisa, dando a quem precisa e a quem não quer trabalhar, seria melhor se fossemos nós a decidir a quem o dávamos, se fossemos solidários e ajudássemos quem, realmente, precisa. O Estado Social acabou com o espírito de solidariedade das pessoas porque não só nos descartámos da responsabilidade social, nos deixámos de preocupar com o “vizinho” que passa dificuldades, colocando tudo nas “costas” do Estado, exigindo e refilando por nos levarem tanto dinheiro ao fim do mês, como, mesmo que quiséssemos, o Estado tira-nos tanto, para dar a quem precisa e a quem não quer trabalhar, que ficamos sem ter o que dar a quem sabemos precisar.
Por: Sara Jofre

1 comentário:

João Pinto de Sousa disse...

Um grande bem haja. Concordo por inteiro com o que escreveu.