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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A idiotice é o grande partido português

As dívidas da Madeira andam a ser vistas à lupa por uma multidão de especialistas, curiosos, analistas, comentadores, politólogos e toda a sorte de tudólogos. As visíveis e as invisíveis. Há mesmo quem descubra na floresta os homens e mulheres que já sabiam da coisa e nada fizeram para impedir os desmandos de Alberto João Jardim. Os mais rigorosos vão mesmo ao pormenor de quantificar as almas que encobriram os túneis, as estradas, as pontes, enfim, a enorme quantidade de betão gasto nos últimos anos na região autónoma. Obviamente que chegou a altura de toda a gente ladrar às pernas de Jardim. Curiosamente, ainda ninguém condenou o excesso de funcionários, de empresas regionais, o aumento exponencial das despesas na saúde, na educação e também na Segurança Social. Para já o que interessa é o betão e afins. No Continente a conversa é a mesma. Não há dia que não apareçam notícias sobre os custos das parcerias público-privadas, a falência iminente das Estradas de Portugal, os contratos ruinosos de muitas concessões rodoviárias. É o fartar vilanagem. De repente, como por milagre, toda a gente descobriu que afinal o sagrado investimento público é uma desgraça sem fim que irá pesar nas contas do Estado por muitos e bons anos. Longe vão os tempos em que por cada obra anunciada, lançada e inaugurada surgiam grandes notícias sobre a criação de postos de trabalho, o valor do investimento e as virtualidades futuras dos empreendimentos. Gabava-se a iniciativa, aplaudia-se a decisão e faziam-se parangonas quando chegava a hora de cortar a fita. Os que agora condenam as obras de Jardim, Guterres, Sócrates e companhia são os mesmos que fazem tudo por omitir o excesso de funcionários públicos, a multidão de trabalhadores das empresas do Estado, muitas delas falidas, que gritam como cabritos quando alguém fala nos custos do Serviço Nacional de Saúde e deitam as mãos à cabeça quando são anunciados cortes nos benefícios e nos apoios sociais. Este país de esquerda, socialista e social-democrata, que acredita piamente no investimento público, devia ter vergonha e andar muito caladinho quanto à enorme desbunda em que se transformou o Estado central, regional e local. Sem excepção. Os mesmos que agora berram com Jardim vão insultar os ministros que fecharem hospitais, acabarem com centenas de quilómetros de ferrovia inútil e reduzirem os serviços das empresas de transporte rodoviário. Os mesmos que descobriram agora as malfeitorias das Scut e das parcerias público-privadas em vários domínios vão ficar vermelhos de raiva quando chegar a hora de despedir funcionários públicos, fechar a sério institutos, fundações, empresas disto e daquilo, acabar com delegações regionais dos diferentes ministérios, enfim, reduzir de forma radical o Estado para os impostos não subirem e a economia deixar de andar a rastejar anos a fio. Fazer tudo isto em pouco tempo é missão quase impossível. Mesmo com a preciosa ajuda da troika. Por muitas e boas razões. Uma delas é a força da idiotice na sociedade portuguesa. Uma pesada cruz que ainda vai levar Portugal ao calvário
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