Por: Antonieta Dias (*) |
Praticar desporto, nem sempre é
reflexo de sucesso. Um atleta pode ver a sua carreira destruída por uma
situação decorrente da prática da modalidade, quando é vítima de uma lesão.
No contexto da relação entre o stress e as lesões desportivas, Buceta
(1996) sugere um modelo de vulnerabilidade psicológico às lesões desportivas.
Este modelo baseia-se essencialmente
na interacção entre as situações potencialmente stressantes e variáveis individuais salientando que é essa
interacção que determina a resposta ao stress.
Segundo este modelo quanto maior a frequência, a duração e intensidade das
situações potencialmente geradoras de stress
maior será a probabilidade de aparecimento de stress favorecendo uma maior
vulnerabilidade às lesões.
Neste sentido Buceta (1966)
refere que as possíveis intervenções para prevenção das lesões através do
controlo do stress devem realizar-se
a vários níveis com vista à modificação e controlo de algumas variáveis
procurando-se assim prevenir o aparecimento de lesões.
Segundo Buceta (1996) pode-se
actuar sobre situações potencialmente geradoras de stress reduzindo-as ou mesmo eliminando-as. Podemos ainda intervir
ao nível das variáveis pessoais, tentando modificá-las e evitando o
aparecimento da resposta ao stress.
No entanto, mesmo surgindo uma
resposta de stress podemos controlar
as suas manifestações e também as consequências negativas intervindo nestes
dois aspectos.
Em síntese, este modelo de
vulnerabilidade às lesões desportivas vem salientar os efeitos prejudiciais da
resposta de stress propondo
possibilidades de intervenção psicológica para o controlo das diversas
variáveis implicadas. Este é um dos vários trabalhos no âmbito do estudo da
relação stress - lesões desportivas
que chama também a atenção para a influência das principais manifestações do stress em contexto desportivo na
vulnerabilidade/imunidade dos atletas às lesões. Este modelo segue a mesma
linha proposta por Anderson e Williams (1988) embora segundo diferentes
directrizes (Buceta, 1996),
Como já foi referido
anteriormente, a variável mais relevante e que tem sido alvo de um maior número
de estudos no contexto da vulnerabilidade às lesões desportivas, tem sido sem
dúvida o stress psicossocial. O stress é uma resposta complexa que pode
estar presente em diversos momentos relacionados com as lesões.
De acordo com Buceta (1996) a
resposta de stress pode ocorrer em
momentos como:
1.antes da lesão ocorrer;
2.quando surge a lesão;
3. Durante o período de
reabilitação, nomeadamente quando é necessária hospitalização ou mesmo
interacções cirúrgicas;
4.quando é necessária uma total
restrição e imobilização por parte do atleta quer seja pelo facto de ter sido
submetido a cirurgia ou pelas características da própria lesão;
5.no período mais activo da sua
reabilitação;
6. na preparação para o regresso
à competição;
7. no regresso à normalidade;
8.quando surgem recaídas;
9.em caso da lesão provocar
incapacidade permanente.
Neste sentido, e ainda segundo o
mesmo autor, a relação entre a resposta de stress
e as lesões desportivas pode estabelecer-se a diferentes níveis.
Por outro lado, a presença de stress pode aumentar a vulnerabilidade dos
atletas às lesões, dificultar a sua recuperação, prejudicar o seu regresso à
competição e aumentar o risco de possíveis recaídas.
Por outro lado, as lesões
constituem eventos stressantes que
podem afectar o estado emocional, a saúde e o funcionamento geral dos atletas,
tornando-se a sua vida mais stressante,
limitada e desagradável, contribuído para uma reabilitação deficitária.
Em certos caos, as lesões para
além de serem potencialmente stressantes
podem aliviar outras fontes maiores de stress
como por exemplo quando o atleta experiencia um excesso de responsabilidade na
sua actividade.
Aqui a lesão pode tornar-se num
importante mecanismo de fuga ou de evitamento.
Por último, um certo grau de stress pode ser positivo tanto ao nível
da prevenção das lesões como na reabilitação, pois pode conduzir os atletas a
adoptarem medidas preventivas ou reabilitadoras.
De uma forma ou de outra, o stress encontra-se relacionado com a
maior parte das outras variáveis psicológicas que podem intervir na prevenção e
recuperação das lesões, acentuando-se contudo a importância de controlar o stress e depois do atleta se lesionar.
Reacções Psicológicas do atleta à lesão
Quando uma lesão ocorre é muito
importante a forma como o atleta a encara e como reage à situação. Segundo
Danisch(1984) torna-se fundamental ter em consideração as reacções dos atletas
face às lesões, salientando-se que é importante tratar os atletas como pessoas
e não como lesionados.
Os atletas lidam com a lesão de
várias formas e têm sido identificados diversos tipos de reacções psicológicas
face às lesões desportivas.
Alguns encaram-na como um
desastre, uma doença, outros vêm na lesão uma oportunidade para mostrar valor e
outros ainda consideram-na bem-vinda pois permite o alívio de um trabalho ou
prática monótona ou de uma situação embaraçosa ou frustrante.
É comum os atletas lesionados
perguntarem a si próprios se vão recuperar completamente e voltar à sua forma
física anterior. Contudo, devem estar alertados e preparados tanto para um
rápido retorno como para uma recuperação tardia ou mesmo para o final da sua
carreira desportiva.
A actuação desportiva é
extremamente importante, uma vez que alguns atletas face à lesão “atacam-se” a
si próprios. Emocional ou irracional, este pensamento chega a ser dominante. Os
atletas que respondem desta maneira podem perder-se pouco a pouco na
preocupação e por fim serem vencidos pela ansiedade. Estes padrões de pensamento
interferem e podem retardar ou mesmo sabotar a reabilitação do atleta (Rotella
e Heyman, 1986).
Quando os atletas pensam de uma
forma irracional é comum exagerarem o significado da lesão, centrando-se apenas
em determinados aspectos desta, como também podem ignorar a lesão como forma de
evitar a situação problemática.
Petitpas e Danish(1995)
identificaram um conjunto de reacções psicológicas associadas às lesões
desportivas, são elas:
1-perda da identidade
Aqueles atletas que se definem a
si próprios essencialmente através do desporto que praticam, podem experienciar
um sentimento de grande perda quando a lesão os impede de realizar a sua
actividade com normalidade sofrendo alterações ao nível da sua auto-estima e
auto-conceito;
2-Medo e ansiedade
Quando a lesão ocorre o atleta
pode experienciar elevados níveis de medo e de ansiedade. O atleta preocupa-se
essencialmente com a sua recuperação, com uma possível recaída e com a
possibilidade de ser substituído na sua actividade desportiva por outro atleta.
3-Falta de confiança
Devido ao seu estado debilitado
provocado pela lesão, o atleta pode perder a sua autoconfiança surgindo por
vezes diminuição da motivação e baixa performance.
4-Diminuição do rendimento
Pelo facto do atleta diminuir o
ritmo competitivo devido à sua inactividade, é frequente ocorrer um declínio na
performance do atleta associado à sua
condição de lesionado.
No entanto muitos atletas têm
dificuldade em baixar as suas expectativas depois de uma lesão esperando ter de
imediato o mesmo nível de performance que tinha antes da lesão ocorrer.
De acordo com Heil (1993), quando
uma lesão ocorre, existe uma perda temporária da capacidade para participar na
competição desportiva assim como uma ameaça significativa à sua continuação com
sucesso, na actividade desportiva. Isto pode ter consequências ao nível do self bastante significativas. A sua
auto-estima e auto-conceito podem ser afectados (Heil, 1993).
Uma lesão provoca consequências
ao nível do bem - estar físico, emocional, social e ao nível do auto - conceito
como podemos observar a seguir.
6-Implicações da lesão (Adaptado de Heil, 1993).
Ao nível do bem – estar físico
-lesão física
-dor associado a lesão
-exigências provocadas pelo
tratamento e reabilitação
-restrições físicas temporárias
-alterações físicas permanentes
Ao nível do bem-estar emocional
-impacto psicológico com a
ocorrência da lesão
-sentimentos de perda e
desolamento
-sentimentos de ameaça em relação
a desempenhos futuros
-exigências emocionais provocadas
pelo tratamento e reabilitação
Ao nível do bem-estar social
-separação da família, amigos e
colegas de equipa
-novas relações com a
equipa/pessoal médico
-necessidade de se apoiar nos
outros
Ao nível do auto-conceito
-perda do sentido de controlo
-lidar com alterações ao nível da
auto-imagem
-ameaça aos valores e objectivos
da vida
-necessidade de tomar decisões em
circunstâncias stressantes
Apesar das reacções psicológicas
associadas às lesões e das consequências ao nível do bem - estar físico,
social, emocional e ao nível do auto-conceito serem partilhados pela quase
totalidade de atletas que contraem uma lesão, nem todos encaram este processo
do mesmo modo. Na realidade muitos atletas conseguem encarar a lesão e todo o
seu processamento de reabilitação de uma forma mais ou menos positiva e
optimista, ao contrário de outros que desenvolvem uma reacção problemática e
desadaptativa a todo o processo.
São estes últimos que necessitam
de atenção especial no âmbito da intervenção psicológica embora todo o atleta
que desenvolva uma lesão deva também desde imediato ter acompanhamento no
sentido de uma rápida recuperação física e psicológica.
As lesões desportivas, como todos
sabemos, assumem uma grande importância no rendimento desportivo encontrando-se
a longevidade e o sucesso da prática desportiva associados à capacidade do
atleta resistir às lesões e na possibilidade de uma boa recuperação quando tal acontecer.
(*) Doutorada em Medicina
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