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domingo, 12 de agosto de 2012

SAÚDE: Competição /Lesão desportiva/Implicações físicas e psicológicas


Por: Antonieta Dias (*)
Praticar desporto, nem sempre é reflexo de sucesso. Um atleta pode ver a sua carreira destruída por uma situação decorrente da prática da modalidade, quando é vítima de uma lesão.
No contexto da relação entre o stress e as lesões desportivas, Buceta (1996) sugere um modelo de vulnerabilidade psicológico às lesões desportivas.
Este modelo baseia-se essencialmente na interacção entre as situações potencialmente stressantes e variáveis individuais salientando que é essa interacção que determina a resposta ao stress. Segundo este modelo quanto maior a frequência, a duração e intensidade das situações potencialmente geradoras de stress maior será a probabilidade de aparecimento de stress favorecendo uma maior vulnerabilidade às lesões.
Neste sentido Buceta (1966) refere que as possíveis intervenções para prevenção das lesões através do controlo do stress devem realizar-se a vários níveis com vista à modificação e controlo de algumas variáveis procurando-se assim prevenir o aparecimento de lesões.
Segundo Buceta (1996) pode-se actuar sobre situações potencialmente geradoras de stress reduzindo-as ou mesmo eliminando-as. Podemos ainda intervir ao nível das variáveis pessoais, tentando modificá-las e evitando o aparecimento da resposta ao stress.
No entanto, mesmo surgindo uma resposta de stress podemos controlar as suas manifestações e também as consequências negativas intervindo nestes dois aspectos.
Em síntese, este modelo de vulnerabilidade às lesões desportivas vem salientar os efeitos prejudiciais da resposta de stress propondo possibilidades de intervenção psicológica para o controlo das diversas variáveis implicadas. Este é um dos vários trabalhos no âmbito do estudo da relação stress - lesões desportivas que chama também a atenção para a influência das principais manifestações do stress em contexto desportivo na vulnerabilidade/imunidade dos atletas às lesões. Este modelo segue a mesma linha proposta por Anderson e Williams (1988) embora segundo diferentes directrizes (Buceta, 1996),
Como já foi referido anteriormente, a variável mais relevante e que tem sido alvo de um maior número de estudos no contexto da vulnerabilidade às lesões desportivas, tem sido sem dúvida o stress psicossocial. O stress é uma resposta complexa que pode estar presente em diversos momentos relacionados com as lesões.
De acordo com Buceta (1996) a resposta de stress pode ocorrer em momentos como:
1.antes da lesão ocorrer;
2.quando surge a lesão;
3. Durante o período de reabilitação, nomeadamente quando é necessária hospitalização ou mesmo interacções cirúrgicas;
4.quando é necessária uma total restrição e imobilização por parte do atleta quer seja pelo facto de ter sido submetido a cirurgia ou pelas características da própria lesão;
5.no período mais activo da sua reabilitação;
6. na preparação para o regresso à competição;
7. no regresso à normalidade;
8.quando surgem recaídas;
9.em caso da lesão provocar incapacidade permanente.
Neste sentido, e ainda segundo o mesmo autor, a relação entre a resposta de stress e as lesões desportivas pode estabelecer-se a diferentes níveis.
Por outro lado, a presença de stress pode aumentar a vulnerabilidade dos atletas às lesões, dificultar a sua recuperação, prejudicar o seu regresso à competição e aumentar o risco de possíveis recaídas.
Por outro lado, as lesões constituem eventos stressantes que podem afectar o estado emocional, a saúde e o funcionamento geral dos atletas, tornando-se a sua vida mais stressante, limitada e desagradável, contribuído para uma reabilitação deficitária.
Em certos caos, as lesões para além de serem potencialmente stressantes podem aliviar outras fontes maiores de stress como por exemplo quando o atleta experiencia um excesso de responsabilidade na sua actividade.
Aqui a lesão pode tornar-se num importante mecanismo de fuga ou de evitamento.
Por último, um certo grau de stress pode ser positivo tanto ao nível da prevenção das lesões como na reabilitação, pois pode conduzir os atletas a adoptarem medidas preventivas ou reabilitadoras.
De uma forma ou de outra, o stress encontra-se relacionado com a maior parte das outras variáveis psicológicas que podem intervir na prevenção e recuperação das lesões, acentuando-se contudo a importância de controlar o stress e depois do atleta se lesionar.
Reacções Psicológicas do atleta à lesão

Quando uma lesão ocorre é muito importante a forma como o atleta a encara e como reage à situação. Segundo Danisch(1984) torna-se fundamental ter em consideração as reacções dos atletas face às lesões, salientando-se que é importante tratar os atletas como pessoas e não como lesionados.
Os atletas lidam com a lesão de várias formas e têm sido identificados diversos tipos de reacções psicológicas face às lesões desportivas.
Alguns encaram-na como um desastre, uma doença, outros vêm na lesão uma oportunidade para mostrar valor e outros ainda consideram-na bem-vinda pois permite o alívio de um trabalho ou prática monótona ou de uma situação embaraçosa ou frustrante.
É comum os atletas lesionados perguntarem a si próprios se vão recuperar completamente e voltar à sua forma física anterior. Contudo, devem estar alertados e preparados tanto para um rápido retorno como para uma recuperação tardia ou mesmo para o final da sua carreira desportiva.
A actuação desportiva é extremamente importante, uma vez que alguns atletas face à lesão “atacam-se” a si próprios. Emocional ou irracional, este pensamento chega a ser dominante. Os atletas que respondem desta maneira podem perder-se pouco a pouco na preocupação e por fim serem vencidos pela ansiedade. Estes padrões de pensamento interferem e podem retardar ou mesmo sabotar a reabilitação do atleta (Rotella e Heyman, 1986).
Quando os atletas pensam de uma forma irracional é comum exagerarem o significado da lesão, centrando-se apenas em determinados aspectos desta, como também podem ignorar a lesão como forma de evitar a situação problemática.
Petitpas e Danish(1995) identificaram um conjunto de reacções psicológicas associadas às lesões desportivas, são elas:
1-perda da identidade
Aqueles atletas que se definem a si próprios essencialmente através do desporto que praticam, podem experienciar um sentimento de grande perda quando a lesão os impede de realizar a sua actividade com normalidade sofrendo alterações ao nível da sua auto-estima e auto-conceito;
2-Medo e ansiedade
Quando a lesão ocorre o atleta pode experienciar elevados níveis de medo e de ansiedade. O atleta preocupa-se essencialmente com a sua recuperação, com uma possível recaída e com a possibilidade de ser substituído na sua actividade desportiva por outro atleta.
3-Falta de confiança
Devido ao seu estado debilitado provocado pela lesão, o atleta pode perder a sua autoconfiança surgindo por vezes diminuição da motivação e baixa performance.
4-Diminuição do rendimento
Pelo facto do atleta diminuir o ritmo competitivo devido à sua inactividade, é frequente ocorrer um declínio na performance do atleta associado à sua condição de lesionado.
No entanto muitos atletas têm dificuldade em baixar as suas expectativas depois de uma lesão esperando ter de imediato o mesmo nível de performance que tinha antes da lesão ocorrer.
De acordo com Heil (1993), quando uma lesão ocorre, existe uma perda temporária da capacidade para participar na competição desportiva assim como uma ameaça significativa à sua continuação com sucesso, na actividade desportiva. Isto pode ter consequências ao nível do self bastante significativas. A sua auto-estima e auto-conceito podem ser afectados (Heil, 1993).
Uma lesão provoca consequências ao nível do bem - estar físico, emocional, social e ao nível do auto - conceito como podemos observar a seguir.
6-Implicações da lesão (Adaptado de Heil, 1993).
Ao nível do bem – estar físico
-lesão física
-dor associado a lesão
-exigências provocadas pelo tratamento e reabilitação
-restrições físicas temporárias
-alterações físicas permanentes
Ao nível do bem-estar emocional
-impacto psicológico com a ocorrência da lesão
-sentimentos de perda e desolamento
-sentimentos de ameaça em relação a desempenhos futuros
-exigências emocionais provocadas pelo tratamento e reabilitação
Ao nível do bem-estar social
-perda de importantes papéis sociais
-separação da família, amigos e colegas de equipa
-novas relações com a equipa/pessoal médico
-necessidade de se apoiar nos outros

Ao nível do auto-conceito
-perda do sentido de controlo
-lidar com alterações ao nível da auto-imagem
-ameaça aos valores e objectivos da vida
-necessidade de tomar decisões em circunstâncias stressantes
Apesar das reacções psicológicas associadas às lesões e das consequências ao nível do bem - estar físico, social, emocional e ao nível do auto-conceito serem partilhados pela quase totalidade de atletas que contraem uma lesão, nem todos encaram este processo do mesmo modo. Na realidade muitos atletas conseguem encarar a lesão e todo o seu processamento de reabilitação de uma forma mais ou menos positiva e optimista, ao contrário de outros que desenvolvem uma reacção problemática e desadaptativa a todo o processo.
São estes últimos que necessitam de atenção especial no âmbito da intervenção psicológica embora todo o atleta que desenvolva uma lesão deva também desde imediato ter acompanhamento no sentido de uma rápida recuperação física e psicológica.
As lesões desportivas, como todos sabemos, assumem uma grande importância no rendimento desportivo encontrando-se a longevidade e o sucesso da prática desportiva associados à capacidade do atleta resistir às lesões e na possibilidade de uma boa recuperação  quando tal acontecer.
 (*) Doutorada em Medicina

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