Por: Isabel Faria |
Trabalha-se cada vez mais horas, com horários mais desregulados, grande
parte das vezes sem folgas, sem intervalos entre
turnos.
Para desempenhar as mesmas tarefas, as empresas têm hoje metade dos
trabalhadores. Quem atinge a idade da reforma não é substituído e os
despedimentos crescem diariamente. O medo de ser o próximo leva a que se aceite
fazer mais horas e estar sempre disponível, abdicar da sua vida e da sua
família para estar sempre disponível.
E, se nos anos 80 e 90, esta disponibilidade total, este voluntário abdicar
de direitos por parte de muitos, era feito em nome da luta pela promoção, hoje
é feita em nome da luta pelo emprego. O patronato que há duas décadas acenava
com a banana da avaliação de desempenho, da entrega à empresa para promover e
aumentar os salários…hoje acena com a banana da entrega total, da resignação e
do silêncio para não despedir.
“A empresa está a fazer um esforço enorme para manter os postos de
trabalho…mas você não colabora. Há milhares à espera, dispostos a ganhar menos
e a trabalhar mais…”. E nós sabemos que, tirando a parte do esforço…eles falam
verdade.
E há ainda o efectivo e legal aumento dos dias de trabalho: com a retirada
da majoração das férias no Código de Trabalho e a eliminação de feriados, há
quem trabalhe hoje mais uma semana do que o que trabalhava em 2011, ou seja,
quem tenha menos 7 dias de descanso do que o que tinha há três anos.
Para agravar ainda mais a situação, a ACT – Autoridade para as Condições de
Trabalho que desde há muito quase sempre actuava tarde e mal, hoje não funciona
mesmo. Os inspectores queixam-se que nem dinheiro para o gasóleo têm para se
poderem deslocar a uma empresa para verificar a aplicação da Lei ( da última
vez que fui aos seus serviços na Av. 5 de Outubro, no Verão passado, os
elevadores não funcionavam há três dias, porque não havia dinheiro para pagar a
sua manutenção. Quem lá trabalhava subia e descia os 5 ou 6 andares do prédio a
pé, as vezes necessárias para efectuar o seu serviço. No hall de cada vão de
escadas tinham colocado uma cadeira para descansarem nas subidas…não previam
quando os elevadores voltassem a funcionar…).
Diz o estudo que o “Publico” publica que, apesar de cada vez mais doentes,
os trabalhadores recorrem cada vez menos a ausências por doença. A austeridade
imposta pela Direita e pelaTroika, está a conseguir o milagre de baixar o
absentismo por doença à medida que ficamos mais doentes ( e mais velhos, já que
os jovens, pura e simplesmente, não têm trabalho e emigram). Se ficarmos
doentes em casa não conseguimos pagar as despesas da casa…trabalhamos, pois,
até cair para o lado.
Medrosos e calados somos quase trabalhadores perfeitos…mas perfeitos,
perfeitos, seremos quando estivermos mortos.
Fonte:
www.publico.pt
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