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sexta-feira, 14 de março de 2014

OPINIÃO: Para desempenhar as mesmas tarefas, as empresas têm hoje metade dos trabalhadores.

Por: Isabel Faria
PARA quem ainda tem trabalho e conhece as condições de trabalho que hoje se vivem em Portugal, este estudo não traz surpresas. 
Trabalha-se cada vez mais horas, com horários mais desregulados, grande parte das vezes sem folgas, sem intervalos entre turnos. 
Para desempenhar as mesmas tarefas, as empresas têm hoje metade dos trabalhadores. Quem atinge a idade da reforma não é substituído e os despedimentos crescem diariamente. O medo de ser o próximo leva a que se aceite fazer mais horas e estar sempre disponível, abdicar da sua vida e da sua família para estar sempre disponível. 
E, se nos anos 80 e 90, esta disponibilidade total, este voluntário abdicar de direitos por parte de muitos, era feito em nome da luta pela promoção, hoje é feita em nome da luta pelo emprego. O patronato que há duas décadas acenava com a banana da avaliação de desempenho, da entrega à empresa para promover e aumentar os salários…hoje acena com a banana da entrega total, da resignação e do silêncio para não despedir.
“A empresa está a fazer um esforço enorme para manter os postos de trabalho…mas você não colabora. Há milhares à espera, dispostos a ganhar menos e a trabalhar mais…”. E nós sabemos que, tirando a parte do esforço…eles falam verdade.
E há ainda o efectivo e legal aumento dos dias de trabalho: com a retirada da majoração das férias no Código de Trabalho e a eliminação de feriados, há quem trabalhe hoje mais uma semana do que o que trabalhava em 2011, ou seja, quem tenha menos 7 dias de descanso do que o que tinha há três anos. 
Para agravar ainda mais a situação, a ACT – Autoridade para as Condições de Trabalho que desde há muito quase sempre actuava tarde e mal, hoje não funciona mesmo. Os inspectores queixam-se que nem dinheiro para o gasóleo têm para se poderem deslocar a uma empresa para verificar a aplicação da Lei ( da última vez que fui aos seus serviços na Av. 5 de Outubro, no Verão passado, os elevadores não funcionavam há três dias, porque não havia dinheiro para pagar a sua manutenção. Quem lá trabalhava subia e descia os 5 ou 6 andares do prédio a pé, as vezes necessárias para efectuar o seu serviço. No hall de cada vão de escadas tinham colocado uma cadeira para descansarem nas subidas…não previam quando os elevadores voltassem a funcionar…).
Diz o estudo que o “Publico” publica que, apesar de cada vez mais doentes, os trabalhadores recorrem cada vez menos a ausências por doença. A austeridade imposta pela Direita e pelaTroika, está a conseguir o milagre de baixar o absentismo por doença à medida que ficamos mais doentes ( e mais velhos, já que os jovens, pura e simplesmente, não têm trabalho e emigram). Se ficarmos doentes em casa não conseguimos pagar as despesas da casa…trabalhamos, pois, até cair para o lado. 
Medrosos e calados somos quase trabalhadores perfeitos…mas perfeitos, perfeitos, seremos quando estivermos mortos. 

1 comentário:

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