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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Porque se maltrata alguém?

Por: Anabela Melão


É tenebroso, mas não se pode virar a cara para o lado, face ao facto de a Associação Portuguesa de Apoio à Vitima (APAV) ter recebido, em média, 19 denúncias de violência doméstica por dia. Segundo o relatório estatístico da APAV, 76.582  pessoas recorreram aos serviços daquela instituição entre 2000 e 2011. As vítimas são, muitas vezes, alvo de vários crimes em simultâneo e,  por isso, a APAV registou, nos últimos onze anos, 172 mil crimes de violência  doméstica, sendo os mais usuais os maus tratos psíquicos (cerca de 50 mil),  maus tratos físicos (46 mil) e ameaças e coação (mais de 33 mil).  Os casos de abuso sexual e violação representam mais de três mil crimes.     As vítimas são habitualmente mulheres (em 2002, representaram nove em cada dez casos), na faixa etária entre os 26 e os 45 anos, e os agressores costumam ser homens adultos - um em cada quatro tem entre 26 e 45 anos de  idade -- e, em mais de metade das situações, são companheiros das vítimas. Entre 2000 e 2011, a APAV recebeu 656 denúncias relacionadas com bebés  até aos três anos, 586 casos de violência contra crianças entre os quatro  e os cinco anos e 1551 entre os seis e os dez anos. 
Porque se maltrata alguém? Nalguns dos casos, por hábito provindo daquele consentimento aceite pela sociedade. Alguém – todos – devíamos explicar que por ser culturalmente aceito não deixa de ser legal e imoral. As coisas têm de mudar. Educar e estabelecer limites não assenta no medo mas no respeito. Nunca pode assentar num castigo físico. Os filhos aprendem a solução de conflitos pela força - e tenderão a reproduzir esse modelo não só junto às suas famílias, mas em todas as relações interpessoais, na rua ou no trabalho.
Mas como toda a moeda tem a outra face, mais de três mil pais foram mal tratados pelos filhos. Mais de três mil pais foram vítimas, nos últimos oito anos, de maus tratos infligidos pelos próprios filhos, tendo recorrido à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), que viu duplicar o número de casos entre 2004 e 2011. Entre 2004 e 2011, a APAV registou 3.380 processos de país vítimas de crimes de violência doméstica por parte dos filhos em ambiente doméstico. Em 2004, a associação recebeu 299 pedidos de ajuda que foram sempre aumentando ao longo dos anos até atingirem no ano passado os 591 casos.
No relatório estatístico agora divulgado, a APAV sublinha que nestes oito anos registou um aumento processual de 97,7%.
Por detrás de cada denúncia estava por vezes mais do que um crime. No total, a APAV registou 7.805 factos criminosos, sendo a maioria associada a maus tratos psíquicos (34%), físicos (29,1%) e ameaças e coação (19,3%).
As mães são as principais vítimas (59% dos casos) e os filhos rapazes os principais agressores (72% dos casos).
Quatro em cada dez casos dizem respeito a vítimas com mais de 65 anos, tendo um terço dos agressores entre 18 e 35 anos.
Violência gera violência! Uma sociedade mede-se pela forma como trata as suas crianças e os seus idosos. Estamos mal no retrato.

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