Por: Anabela Melão |
Não foi preciso
um mês para que Pedro Passos Coelho, na Festa do Pontal, repensasse toda a sua
estratégia – eu quero acreditar que o nosso Primeiro tem estratégia – e do que
disse a 24 do mês
passado: - "Se algum dia tiver de perder umas eleições em Portugal para
salvar o País, como se diz, que se lixem as eleições.", ficou-se, a 22
dias depois, dia 14 de Agosto, por dizer: "Só estamos a um quarto do
mandato e temos a ambição de renová-lo."
Não deve haver calo mais apetitoso
que o do poder. É assim como um vírus perfumado. O santo padroeiro dos
políticos, São Tomás More, precisava de se debruçar sobre esta nossa comunidade
política até porque o desaparecimento dos documentos do processo submarinogate
já é, de per si, um milagre. O único padroeiro que nos pode retirar deste
estado de coisas é o santo (de)voto, mas parece que nem sempre lhe lançamos as
suplicas certas. Aguarde-se o milagre do voto.
As ideias e propostas que Passos
Coelho transmitiu aos portugueses não trazem novidades nem alternativas. O
palavreado faria corar Tomás More, de tão desconexo e tremelado. Ficámos a
conhecer as políticas
da governação externa (da troika) e, destacadamente, da governação interna (do
PSD/PP). Já sabíamos que a vida de milhões de portugueses é um inferno
(desemprego, sobrendividamento, falências e insolvências, entregas de casas ao
banco ….) ficámos com a certeza que não há luz ao fundo do túnel.
O Primeiro omitiu opinião sobre o enquadramento de
Portugal na União Europeia (U.E.) e sobre a falta de política e a trapalhada
que está a ser cometida nesse espaço; nada disse sobre o significado dos graves
indicadores sobre o emprego e a economia, e não apresentou qualquer medida
política nessas áreas vitais; refugiou-se na Constituição da República
Portuguesa nomeando-a como obstáculo e fez graça com a "regra de
ouro" para legitimar a falta de investimento; “anunciou aos portugueses
mais austeridade, sem um mínimo de garantia de os violentos sacrifícios nos
conduzirem a um futuro melhor.” (como diz o Carvalho da Silva num texto que me
serviu de inspiração).
Já ninguém tem dúvidas que a dívida continuará a
aumentar. Que os “nossos” juros e compromissos conduzem inevitavelmente
para um buraco que ora alarga ora aumenta, e que economia enfraquece. Queda da
produção industrial de 4,4%. Exportações a desacelerar. Crescimento da
exportação de ouro! Pudera! Mil lojecas por tudo quanto é rua (ou mais
beco). Estranha forma de aplicar o provérbio “vão-se os anéis ficam-se os
dedos”.
Destruição de emprego: mais 205 mil pessoas. 827 000
desempregados. Cerca de 1,3 milhões de desempregados e subempregados?
Onde está a boa nova para a juventude? E lá fica a
“geração canguru”, alguns já nos 30, em casa dos pais, muitos já de volta “para
o seu aconchego”!
Cerca de 70% dos alunos universitários pensam
emigrar, surgindo um novo movimento de emigrantes encabeçado pelos estudantes
de engenharia, de tecnologias e de arquitetura. Não esqueçamos que isso
provocará uma recessão no conhecimento e, por consequência, uma degradação do
saber a médio prazo, com a qualificação a ressentir-se.
E nem se comenta a afirmação de que “vai haver
crescimento económico num quadro de acentuada quebra salarial, de inexistência
de investimento, de privatizações oportunistas, de destruição de empresas, de
reformismo retrógrado no ensino e na saúde, de aumento dos combustíveis e das
rendas de casa.” (Carvalho da Silva)
A distância do discurso do PM só mostra que as
eleições contam ainda mais que tudo. Que entrámos numa teatralidade cujo enredo
e the end está à vista de tão polida e trabalhada que está.
Acompanho os que opinam que melhor seria não ter
existido Pontal este ano. Sentimo-nos defraudados. O discurso não colou.
Percebemos que estamos mergulhados num mundo de alienação política em que nada
se vê de concreto. Nada é solucionável, mas tudo é solúvel.
Em vez de começarem já a montar campanha eleitoral
vejam lá se descobrem uns ferrinhos para ir segurando isto, é que “a barraca
abana” e, por ventura, “cai”!
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