Por: Isabel Faria |
O Carlos
trabalhou comigo. Depois saiu para ir para melhor. Mas o Carlos era daquelas
pessoas que quando entram não voltam a sair de dentro de nós. Nunca saiu. Até
hoje.
O Carlos e a Marta conheceram-se e apaixonaram-se. Dias depois já todos conhecíamos a Marta. E a tínhamos também como “nossa”. Foi uma daquelas paixões que, pensaram os amigos depois, lutou desde o primeiro dia contra o tempo. Às vezes perguntávamo-nos e perguntávamos-lhes, mas tanta pressa porquê? Olhavam-se e sorriam. “Já não vamos para o novo”, dizia o Carlos, no meio de uma das suas gargalhadas.
Encontraram-se, amaram-se e casaram. Foram viver para ao pé do mar, para a casa de férias pequenina que os pais de Marta tinham comprado com as poupanças de uma vida de trabalho e onde a Marta vivia.
Marta engravidou logo de seguida. Continuava a haver uma pressa enorme. Inexplicável.
A Catarina nasceu em Setembro de 2006. Fez-se uma festa. No dia de Santo António de 2007, de sacos cama em punho, fomos todos acampar na casinha de praia. Assistimos aos primeiros passos da nossa menina. E ao amor.
Foi a última vez que vi o Carlos. Menos de um mês depois, na viagem para o trabalho, numa esquina da estrada de onde se via o mar, um camião fora de mão levou-o da Marta, da Catarina e de nós. Creio que nessa altura, alguns dos amigos começaram a entender a pressa. Mas em silêncio.
Passados dois anos a Marta ligou-me a contar. Dizia-me ela, que eu era a primeira pessoa a quem contava…porque sabia que eu entenderia. Tinha-se apaixonado de novo. Chamava-se Sofia a nova habitante do seu coração e da casinha da praia. Acabámos a falar da Catarina…e do Carlos. Vimo-nos algumas vezes. São um casal feliz e a Catarina uma menina linda. Entrou para a escola e, uma tarde ao por do Sol, fez um desenho meu e do meu filho com o mar ao fundo. Estamos tal qual nós…
O ano passado, numa consulta de rotina, foi diagnosticado um cancro à Marta. Dos maus. Têm sido meses de angústia, de dores, de medo. A Sofia está sempre lá. E a Catarina está sempre com a Sofia quando a Marta está no IPO. Inexplicavelmente o tempo continua a correr rápido de mais.
Ontem, na AR, a Direita deste País, retirou à Marta a possibilidade de viver estes dias, que não sabe quantos são, duma forma serena. A sua menina, a menina dela, do Carlos e da Sofia, não sabe para onde vai se ela partir. Antes disso, o seu pai tinha falecido e a sua mãe ficado sem emprego. No outro dia, dizia-me ela, ao telefone, com a sua voz fraca mas ainda decidida ”Eu sei que a minha mãe não poderá ficar com a Catarina. Já disse à Sofia para, se os monstros não deixarem passar a Lei, emigrar e levar a menina! Fugir mesmo! E depressa! Mas eu acho que vão…afinal estamos no sec.XXI...”.
Os monstros não deixaram passar a lei. A Marta continua a lutar contra o tempo e contra o cancro. E a Sofia e a Catarina, e a mãe da Marta que não quer ver partir as suas meninas, continuam a lutar contra o tempo, na esperança de vencer a doença, a intolerância e o preconceito.
E nós?
O Carlos e a Marta conheceram-se e apaixonaram-se. Dias depois já todos conhecíamos a Marta. E a tínhamos também como “nossa”. Foi uma daquelas paixões que, pensaram os amigos depois, lutou desde o primeiro dia contra o tempo. Às vezes perguntávamo-nos e perguntávamos-lhes, mas tanta pressa porquê? Olhavam-se e sorriam. “Já não vamos para o novo”, dizia o Carlos, no meio de uma das suas gargalhadas.
Encontraram-se, amaram-se e casaram. Foram viver para ao pé do mar, para a casa de férias pequenina que os pais de Marta tinham comprado com as poupanças de uma vida de trabalho e onde a Marta vivia.
Marta engravidou logo de seguida. Continuava a haver uma pressa enorme. Inexplicável.
A Catarina nasceu em Setembro de 2006. Fez-se uma festa. No dia de Santo António de 2007, de sacos cama em punho, fomos todos acampar na casinha de praia. Assistimos aos primeiros passos da nossa menina. E ao amor.
Foi a última vez que vi o Carlos. Menos de um mês depois, na viagem para o trabalho, numa esquina da estrada de onde se via o mar, um camião fora de mão levou-o da Marta, da Catarina e de nós. Creio que nessa altura, alguns dos amigos começaram a entender a pressa. Mas em silêncio.
Passados dois anos a Marta ligou-me a contar. Dizia-me ela, que eu era a primeira pessoa a quem contava…porque sabia que eu entenderia. Tinha-se apaixonado de novo. Chamava-se Sofia a nova habitante do seu coração e da casinha da praia. Acabámos a falar da Catarina…e do Carlos. Vimo-nos algumas vezes. São um casal feliz e a Catarina uma menina linda. Entrou para a escola e, uma tarde ao por do Sol, fez um desenho meu e do meu filho com o mar ao fundo. Estamos tal qual nós…
O ano passado, numa consulta de rotina, foi diagnosticado um cancro à Marta. Dos maus. Têm sido meses de angústia, de dores, de medo. A Sofia está sempre lá. E a Catarina está sempre com a Sofia quando a Marta está no IPO. Inexplicavelmente o tempo continua a correr rápido de mais.
Ontem, na AR, a Direita deste País, retirou à Marta a possibilidade de viver estes dias, que não sabe quantos são, duma forma serena. A sua menina, a menina dela, do Carlos e da Sofia, não sabe para onde vai se ela partir. Antes disso, o seu pai tinha falecido e a sua mãe ficado sem emprego. No outro dia, dizia-me ela, ao telefone, com a sua voz fraca mas ainda decidida ”Eu sei que a minha mãe não poderá ficar com a Catarina. Já disse à Sofia para, se os monstros não deixarem passar a Lei, emigrar e levar a menina! Fugir mesmo! E depressa! Mas eu acho que vão…afinal estamos no sec.XXI...”.
Os monstros não deixaram passar a lei. A Marta continua a lutar contra o tempo e contra o cancro. E a Sofia e a Catarina, e a mãe da Marta que não quer ver partir as suas meninas, continuam a lutar contra o tempo, na esperança de vencer a doença, a intolerância e o preconceito.
E nós?
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