Por José António Saraiva/SOL
Quando Pedro Passos Coelho disse que em caso nenhum formaria Governo com o PS, houve quem o acusasse de dar um tiro no pé.
Se o Presidente da República exigia um Governo de maioria, como podia um partido, antes das eleições, excluir a única hipótese que à partida garantiria com absoluta certeza esse objectivo?
O problema é que a política e a aritmética são coisas diferentes.
A política exige clareza – e tal não se consegue somando partidos que têm naturezas e ideias diferentes.
Para haver clareza são necessárias opções claras.
E, para isso, é fundamental que os portugueses, no dia 5 de Junho, digam preto no branco o que querem: se querem a continuidade, se preferem a mudança.
É isto que está em causa.
E isso não se apuraria se o próximo Governo integrasse previsivelmente socialistas e sociais-democratas.
Ss se instalasse no eleitorado a ideia de que o PSD e o PS estavam condenados a entender-se, então tanto faria votar num como votar noutro.
Iria tudo dar ao mesmo.
O que significa que não haveria qualquer clarificação.
Ora, o país precisa de dizer se está satisfeito com o Governo que tem – e aí deverá votar no PS e em José Sócrates – ou se quer mudar de rumo – e nesse caso o melhor é votar no PSD e em Passos Coelho.
E isto porque, independentemente de gostarmos mais de Passos Coelho ou de Paulo Portas (e não falo em Jerónimo ou Louçã, porque esses se excluíram de um futuro Executivo), só o voto no PSD contribuirá para derrotar o Partido Socialista.
Uma alta votação do CDS traduzir-se-ia inevitavelmente num mau resultado do PSD – abrindo caminho a que o PS ganhasse as eleições.
Por defender uma clarificação da situação política, considero que Passos Coelho fez muito bem em dizer que não governará com o PS.
Assim, além de obrigar o eleitorado a decidir-se, empurrou o PS para uma situação incómoda, podendo ser visto como um ‘voto inútil’.
Se o PCP e o BE não podem juntar-se ao PS (até porque não assinaram o acordo com a troika), se o PSD não governará com o PS, se o CDS também não, de que servirá o voto no Partido Socialista? – é a pergunta que farão muitos eleitores.
A prova de que a decisão do líder do PSD foi certeira está no modo como o PS reagiu.
Os socialistas apressaram-se a dizer que, contrariamente ao PSD, estão disponíveis para governar com qualquer partido.
Sentindo-se encurralados, tentam desesperadamente afastar a ideia de que o voto no PS não contará para nada.
Mas esta reacção pode cair mal no eleitorado.
Porque sugere que o PS está disposto a fazer tudo o que for preciso para não sair do poder, que o PS pretende ficar no Governo a qualquer preço.
Sócrates tem acusado o PSD de ter provocado a crise política apenas pela ambição de ir para o poder.
Mas não se poderá dizer o mesmo dele próprio – tendo em conta o seu esforço titânico para não sair do cargo?
Com uma agravante: se Passos Coelho ainda põe condições para ser primeiro-ministro, Sócrates não põe condição nenhuma.
1 comentário:
Penso que a crónica começa mal. O que ele disse, se bem me lembro, era que com Sócrates à frente do PS não faria negociações. Isso vem na sequência de uma reunião que teve com essa figura e que disse que nunca mais reuniria "a sós".
Ambos não são contas do meu rosário, nem flores que o meu nariz cheire, mas entre Passos e Sócrates ao primeiro ainda daria a presunção de inocência e o benefício da dúvida.
Enviar um comentário