1 A Grécia voltou a ser a vedeta mediática da Europa. Por más razões. É incrível como os dirigentes europeus se têm permitido tratar a Grécia, berço da Democracia, da Ciência e da Filosofia. A Europa democrática da CEE suportou o regime odioso dos coronéis. E agora permite-se tratar com menos respeito o primeiro-ministro Georges Papandreou, socialista, filho e neto de dois grandes políticos gregos, que marcaram a história do passado século.
Como disse Christian Noyer, governador do Banco de França e membro do Banco Central Europeu, "a reestruturação da dívida grega não é uma solução, é um filme de terror". Por outro lado, Yorgos Papaconstantinu, ministro das Finanças grego, avisa: "Se não recebermos o dinheiro até 26 de Junho próximo, seremos obrigados a fechar a loja..." Este é o dilema que as instituições financeiras europeias - e a própria Comissão Europeia, sob pressão, já se sabe, da chanceler Merkel - parece não querer compreender.
Ora, a fuga à reestruturação está a tornar-se cada vez mais difícil, por causa da obrigatoriedade de passar pelo Parlamento grego, uma vez que a Oposição, dos vários quadrantes, se mostrou indisponível para apoiar mais austeridade. Papandreou resiste com muita coragem e dignidade mas não merecia esta humilhação, criada pelos erros e os gastos, não incluídos nos Orçamentos do passado, pelos Governos da Direita... Os verdadeiros europeístas devem ter a consciência de que urge, por todos os meios, ajudar Papandreou, um político corajoso e impoluto.
Contudo, na minha opinião, o mais grave de tudo é a União Europeia não ser capaz de ter a coragem de definir um plano concertado (entre todos os Estados membros da Zona Euro) para defender o euro, como moeda única, superior ao dólar, e ser incapaz de meter na ordem os mercados especuladores, as empresas de rating, destrutivas dos valores éticos essenciais e, em parte, responsáveis pela crise global que nos afecta a todos. Assim a União Europeia, com a cegueira política dos seus dirigentes, caminha a passos de gigante para a decadência...
A chanceler Merkel, dado o seu pragmatismo, sem valores nem ideologia, tem grandes responsabilidades na situação de descrédito que a União Europeia está a viver. Já passou aliás, pela vergonha de uma crítica pública em forma - e indignada - do seu antigo chefe Helmut Kohl. E a União se não mudar, rapidamente, de política, antes das suas próximas novas derrotas eleitorais, ficará na história como a coveira da Comunidade Europeia, pela qual os seus anteriores chanceleres, Adenauer, Willy Brandt, Schmidt, Kohl e Schröeder, tanto se bateram...
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