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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um governo é sempre um ovo Kinder

Não há muito tempo, um ex- -ministro de Durão Barroso, Nuno Morais Sarmento, a quem não é atribuída qualquer espécie de amizade e contemporização com Pedro Passos Coelho, menorizava as capacidades de liderança do primeiro-ministro indigitado, afirmando que Pedro Passos Coelho ainda era um "ovo Kinder". E de facto era. E é. Conseguiu o que muitos, mesmo no seu partido, julgaram impossível quase até à última hora - ser eleito primeiro-ministro com uma maioria confortável -, mas isto não faz dele, instantaneamente, um primeiro-ministro fantástico. Sobre as suas capacidades no cargo, continua tão ovo Kinder como antes. É a primeira vez, vai experimentar, vai ser testado num período terrível da vida nacional, tem de governar em coligação com um homem que o considera muito inferior a si próprio (Paulo Portas) e, no cenário catastrófico da Europa, ele pode ser um génio e correr tudo muito mal.
Não é só Passos que é um ovo Kinder; em geral todos os governos são ovos Kinder. Este, ao ser constituído, na sua maioria, por estreantes, faz com que as dúvidas sobre as suas capacidades sejam ainda mais naturais. Isto para o bem (existe sempre um estado de graça no desconhecimento) e para o mal (as críticas imediatas que a falta de currículo numa altura destas suscita logo às primeiras). Muitos estreantes serão seguramente muito melhores do que alguns poços de experiência, mas só se percebe que brinde vem dentro do Kinder depois de o partir.
Dito isto, resta saber como o novo ministro das Finanças, Vítor Gaspar, vai gerir a pasta sob tutela exterior e qual é a sua verdadeira relação com o primeiro-ministro, essencial para que a coisa funcione. Espantosamente, numa altura decisiva da vida nacional, em que os apelos à participação dos "melhores" se propagam, dois dos "melhores" de Passos Coelho, Eduardo Catroga e Vítor Bento, resolveram dizer que não. Há boas notícias, no entanto. Assunção Cristas também não percebia muito de macroeconomia antes de se ter tornado a deputada-revelação da última legislatura como porta-voz das Finanças do CDS - supõe-se que utilizará a mesma aplicação no Ambiente e na Agricultura. Nuno Crato tem passado os últimos anos a discorrer sobre políticas de educação - tem agora a sua hora. Paula Teixeira da Cruz é, na realidade, a pessoa que no PSD mais tem pensado sobre justiça desde o tempo da liderança de Marques Mendes - bem-vinda à acção.
A saúde precisa de um bom gestor e Paulo Macedo poderá cumprir a tarefa - se não deitar fora o menino (os cortes a que está obrigado pela troika) com a água do banho, o Serviço Nacional de Saúde decente a que os portugueses se habituaram nos últimos 15 anos. Francisco José Viegas e Carlos Moedas são do melhor que o PSD conseguiu ir buscar nos últimos tempos. De resto, Aguiar-Branco será um competente ministro da Defesa e Portas um satisfeito MNE. O chocolate do Kinder é, pelo menos, aceitável.
«In»

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