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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Um Guarda-Redes na Politica


Artigo de Opinião

Portugal irá mudar. Essa é uma previsão com alto grau de certeza. Todas as outras, incluindo este ensaio, são meros exercícios mentais.

Em termos políticos estamos entre a areia segura e um mar agitado. Estamos com os pés na rebentação. E os próximos meses, que por mero acaso alinham com a época estival, serão determinantes para perceber se decidimos apanhar sol ou nos lançamos ao mar.

Deixando cair as metáforas para ascender à análise crua e dura do cenário das eleições legislativas.

Como sempre, e não podia ser de outra forma, esta tudo nas mãos do Grande Eleitor.

No centro da Batalha estão Sócrates e Pedro Passos Coelho.

Sócrates parece preparado para tudo, considerando todas provações que tem passado, seja por culpa própria ou alheia á sua vontade. Tem “pecado” politicamente por ser um líder desafiante das corporações, reformador e destemido na acção. Errou ao não entender que, em democracia, não se afrontam poderes instalados com avaliações de desempenho. Ou bem que é á força ou então não é. Mas viver em democracia, nestas matérias de “direitos adquiridos”, é como estar de grilhetas. Portugueses todos iguais nos seus direitos e deveres, do Pedreiro ao Professor? Era o que mais faltava.

Pedro Passos Coelho tem sido acusado de ter falta de experiencia ou de Curriculum (Manuela Ferreira leite dixit) para ser Primeiro-Ministro. Pessoalmente discordo. Foi líder da JSD e foi deputado. Para os padrões de exigência actuais tem perfil bastante. Trabalhou sob as orientações de Ângelo Correia, deu albergue e óleo de polir a Fernando Nobre, confiou as estratégia Financeira a Catroga e logo o extraditou para o Brasil, tem em Alberto João jardim a referência dos valores políticos e acredita que vender a Caixa Geral de Depósitos é a genialidade económica que mais brilhará desde a morte de Alves dos Reis.

Francisco Louçã já não está na puberdade política. A convivência com o poder criou-lhe uma catarse pessoal que pode ser fatal para o Bloco de Esquerda. O BE ficou preso entre o glamour de poder, coligar-se ou não ao PS, e o apego às causas dogmáticas. Está numa encruzilhada. Como a geração de 60, que se rebelou contras todos os valores dos pais, hesita em abraçar ainda com mais pujança o projecto que sempre renegou. Tornou-se neoliberal e capitalista. O erro crasso de estar no meio sem decidir vai provocar uma erosão brutal da massa crítica que se revia nos princípios fundadores.

Jerónimo de Sousa e a CDU, porque aqui não existem veleidades para protagonismos pessoais, vai continuar onde sempre tem estado desde 1974. Estáticos mas coerentes, os Comunistas serão fiéis a eles próprios. Combateram a reacção e têm hoje por missão combater…a reacção.

Paulo Portas poderá vir a ter um papel fundamental no futuro político de Portugal. Maduro, comunicador, e com uma bateria de Sound Bites preparada para qualquer ocasião, tem trilhado com persistência a aproximação do povo às elites do CDS ou, se quisermos, do Partido Popular. PP não é um nome ao acaso. A paródia do Paulinho das Feiras está a recolher frutos. O mundo actual percebe que já não se combate o fantasma do grande capitalismo. Pela razão cristalina de que todos abraçámos o grande capitalismo e o grande consumo. Gostamos de sofá, de comprar coisas inúteis e de ter as mãos sem calos. O que valorizamos é o conforto e a igualdade no acesso aos bens de consumo. Porta percebeu isso e tem um discurso de esquerda actualizado aos tempos modernos. Numa entrevista recente cedeu à vaidade e admitiu o desejo de ser primeiro-ministro. Não explicou de que forma mas é fácil entender.

Em caso de empate entre PS e PSD pode-se entrar num limbo politico com inspiração Belga, ou seja, não ser possível formar governo por falta de entendimento sobre quem assumirá o papel de primeiro-ministro. Sócrates, adivinha-se, não irá ceder. Passos Coelhos persegue um sonho de criança e com demasiadas promessas internas já assinaladas. O PCP é o PCP e padecerá do autismo típico da Coreia do Norte. O Bloco de Esquerda, esvaziado da identidade de outros tempos, preso entre o que quer ser e o que representa para os seus eleitores, não terá capacidade nem legitimidade negocial. Corre o risco de uma erosão como aconteceu ao PRD de Hermínio Martinho.

O Grande Eleitor, que está dentro de cada um de nós, terá de decidir entre um governo de Maioria Absoluta e um empate, seguido de prolongamento, com dolorosos e imprevisíveis penalties, onde o herói e salvador poderá ser um imprevisível guarda-redes de nome Portas. Em Espanha chamam “Porteros” aos guarda-redes.

Por: Pedro Miguel Gaspar





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