Dentro do campo de ação do PROVERE/QREN
(Programa de Valorização Económica dos Recursos Endógenos) foi apresentado, em
janeiro de 2009, um projeto de investimento à CCDR do Alentejo, por um
consórcio constituído por 39 entidades, que tem por base a cultura Avieira do
Tejo. Esta apresentação foi antecedida de um período de maturação que se
iniciou em 2006 e teve início numa ideia de desenvolvimento e de cooperação que
agregou duas instituições: a AIDIA- Associação Independente para o
Desenvolvimento Integrado de Alpiarça e o Instituto Politécnico de Santarém
(IPS). Mais tarde ligaram-se ao projeto várias entidades individuais e
Instituições de todo o país.
A proposta de investimento prevê: criar a
primeira Rota Turística do Tejo, com base na cultura dos Avieiros; recuperar
aldeias Avieiras; construir aldeamentos turísticos; promover a investigação
sobre a viabilidade dos recursos do rio; e dinamizar um eixo fundamental para o
desenvolvimento económico regional, com base no rio Tejo.
O objetivo principal é o de integrar
várias atividades económicas tendo por base a cultura Avieira tagana. Com esta
intenção de investimento prevê-se que o Tejo e toda a zona ribeirinha, desde o
grande estuário até à Golegã, mudem o atual aspeto. O consórcio, liderado pelo
IPS, integra empresas e investidores individuais, Câmaras Municipais,
Universidades, Institutos Politécnicos, Paróquias, Associações para o
Desenvolvimento e uma Associação empresarial.
“Quem se muda, Deus o ajuda” Ditado popular |
Quem são os Avieiros
A escassez de trabalho e a falta de
recursos económicos, em determinadas regiões do país propiciou, ao longo da
história, registar em Portugal diversos movimentos migratórios internos que
levaram as populações a deslocarem-se temporária ou definitivamente para outra
região em busca de melhores condições de vida. Durante anos alguns grupos
socioprofissionais viram-se obrigados muitas vezes à mendicidade. É o caso dos
pescadores da região norte que, em grande parte, ganhavam a sobrevivência
diariamente e viam-se obrigados a esmolar quando o temporal os impedia de
pescar por algum tempo.
Esta situação de miséria cíclica aliada à
escassez do pescado pelas múltiplas conjunturas da época parece ter sido um dos
muitos fatores para uma emigração sucessiva da população marítima.
Numa fase embrionária as migrações de
pescadores oriundos do litoral norte tiveram lugar apenas durante o Inverno,
época em que fugiam da inclemência do mar e da concorrência dos arrastões
espanhóis, em direção aos Vales do Tejo e Sado, procurando a subsistência nos
locais que sempre atraíram populações em busca de melhores condições de vida.
Um dos movimentos migratórios mais
importantes no país foi o dos pescadores oriundos das praias que se estendem de
Espinho a Vieira de Leiria. Estes grupos de pescadores, que ficaram conhecidos
por Murtoseiros (Murtosa), Ovarinos (Ovar), Vareiros ou Varinos (Aveiro,
Ílhavo) e Avieiros (Vieira de Leiria), vinham desde a região da pesca por
xávega até às margens tranquilas e férteis dos rios Tejo e Sado, deslocando-se
de barco, diligências, comboio, carroças e muitos a pé.
A migração pendular dos Avieiros para as
regiões da Borda d´Água ficou a dever-se principalmente à necessidade de
abonarem melhores condições de vida para si e para os seus.
Pelas investigações já produzidas
conclui-se que a grande massa migratória de pescadores para o Tejo corresponde
á década de 1860/1869, em particular com maior incidência no ano de 1860.
Com o fim das campanhas do sável,
lampreia, robalo e enguia, os Avieiros regressavam à Praia da Vieira, mas a
fraca subsistência garantida pelo mar durante o Estio, fazia-os tornar cada vez
com mais frequência ao rio Tejo e talvez por isso, no seu livro Avieiros, Alves
Redol os alcunhe de “ciganos do rio” quem sabe por esta situação de nomadismo
e precariedade a que eles estiveram sujeitos durante anos.
As dificuldades encontradas, quer pelas
tarefas no rio quer pela vida cheia de complicações, exigiram sempre dos
pescadores Avieiros e dos seus familiares uma dedicação total ao rio e à faina.
Esta existência difícil substanciou-se na formação de comunidades muito
fechadas, com costumes e formas de vida próprios, diferentes e estranhos para
as comunidades já estabelecidas na Borda d´Água. Estas comunidades estavam,
claramente, apartadas como consequência de vários aspetos essenciais como a
religiosidade, o folclore, as crenças, entre outras.
(*) Mestre em Educação
Social
Todos
os domingos uma crónica assinada por Lurdes Véstia sobre a temática da “Cultura
Avieira”