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domingo, 10 de agosto de 2014

CULTURA AVIEIRA: O Projeto dos Avieiros


 
Por: Lurdes Véstia (*)

Dentro do campo de ação do PROVERE/QREN (Programa de Valorização Económica dos Recursos Endógenos) foi apresentado, em janeiro de 2009, um projeto de investimento à CCDR do Alentejo, por um consórcio constituído por 39 entidades, que tem por base a cultura Avieira do Tejo. Esta apresentação foi antecedida de um período de maturação que se iniciou em 2006 e teve início numa ideia de desenvolvimento e de cooperação que agregou duas instituições: a AIDIA- Associação Independente para o Desenvolvimento Integrado de Alpiarça e o Instituto Politécnico de Santarém (IPS). Mais tarde ligaram-se ao projeto várias entidades individuais e Instituições de todo o país.
A proposta de investimento prevê: criar a primeira Rota Turística do Tejo, com base na cultura dos Avieiros; recuperar aldeias Avieiras; construir aldeamentos turísticos; promover a investigação sobre a viabilidade dos recursos do rio; e dinamizar um eixo fundamental para o desenvolvimento económico regional, com base no rio Tejo.
O objetivo principal é o de integrar várias atividades económicas tendo por base a cultura Avieira tagana. Com esta intenção de investimento prevê-se que o Tejo e toda a zona ribeirinha, desde o grande estuário até à Golegã, mudem o atual aspeto. O consórcio, liderado pelo IPS, integra empresas e investidores individuais, Câmaras Municipais, Universidades, Institutos Politécnicos, Paróquias, Associações para o Desenvolvimento e uma Associação empresarial.       


“Quem se muda, Deus o ajuda” Ditado popular
            
Quem são os Avieiros

A escassez de trabalho e a falta de recursos económicos, em determinadas regiões do país propiciou, ao longo da história, registar em Portugal diversos movimentos migratórios internos que levaram as populações a deslocarem-se temporária ou definitivamente para outra região em busca de melhores condições de vida. Durante anos alguns grupos socioprofissionais viram-se obrigados muitas vezes à mendicidade. É o caso dos pescadores da região norte que, em grande parte, ganhavam a sobrevivência diariamente e viam-se obrigados a esmolar quando o temporal os impedia de pescar por algum tempo.
Esta situação de miséria cíclica aliada à escassez do pescado pelas múltiplas conjunturas da época parece ter sido um dos muitos fatores para uma emigração sucessiva da população marítima.
Numa fase embrionária as migrações de pescadores oriundos do litoral norte tiveram lugar apenas durante o Inverno, época em que fugiam da inclemência do mar e da concorrência dos arrastões espanhóis, em direção aos Vales do Tejo e Sado, procurando a subsistência nos locais que sempre atraíram populações em busca de melhores condições de vida.
Um dos movimentos migratórios mais importantes no país foi o dos pescadores oriundos das praias que se estendem de Espinho a Vieira de Leiria. Estes grupos de pescadores, que ficaram conhecidos por Murtoseiros (Murtosa), Ovarinos (Ovar), Vareiros ou Varinos (Aveiro, Ílhavo) e Avieiros (Vieira de Leiria), vinham desde a região da pesca por xávega até às margens tranquilas e férteis dos rios Tejo e Sado, deslocando-se de barco, diligências, comboio, carroças e muitos a pé.
A migração pendular dos Avieiros para as regiões da Borda d´Água ficou a dever-se principalmente à necessidade de abonarem melhores condições de vida para si e para os seus.
Pelas investigações já produzidas conclui-se que a grande massa migratória de pescadores para o Tejo corresponde á década de 1860/1869, em particular com maior incidência no ano de 1860.
Com o fim das campanhas do sável, lampreia, robalo e enguia, os Avieiros regressavam à Praia da Vieira, mas a fraca subsistência garantida pelo mar durante o Estio, fazia-os tornar cada vez com mais frequência ao rio Tejo e talvez por isso, no seu livro Avieiros, Alves Redol os alcunhe de “ciganos do rio” quem sabe por esta situação de nomadismo e precariedade a que eles estiveram sujeitos durante anos.
As dificuldades encontradas, quer pelas tarefas no rio quer pela vida cheia de complicações, exigiram sempre dos pescadores Avieiros e dos seus familiares uma dedicação total ao rio e à faina. Esta existência difícil substanciou-se na formação de comunidades muito fechadas, com costumes e formas de vida próprios, diferentes e estranhos para as comunidades já estabelecidas na Borda d´Água. Estas comunidades estavam, claramente, apartadas como consequência de vários aspetos essenciais como a religiosidade, o folclore, as crenças, entre outras.

(*) Mestre em Educação Social


Todos os domingos uma crónica assinada por Lurdes Véstia sobre a temática da “Cultura Avieira”