De: Isabel Coelho |
Cumpri a tradição, porque tal como em outros dias de
eleições fui buscar o meu avô Diamantino (avô Tino como é carinhosamente
tratado pelos bisnetos) para cumprir com o seu dever, ou seja, exercer o seu
direito de voto.
A novidade foi acompanhar o meu filho Pedro a exercer o seu
direito de voto pela primeira vez.
Sentia-me feliz, pois os meus filhos fizeram questão de
acompanhar o avô a votar e, é um orgulho constatar este encontro de gerações.
Aliás, o meu avô é uma referência para eles, pois é uma
pessoa, apesar dos seus 93 anos, muito lúcida, cheio de histórias para contar,
inteligente, humilde e de uma grande sabedoria. Graças ao esforço da sua Mãe (a
minha bisavó Luísa) sabe ler e escrever perfeitamente. Ainda hoje lê jornais,
revistas, vê os noticiários e os jogos de futebol e discute política e os
assuntos mais diversificados. Sabe quando toda a família faz anos, que anos de
escolaridade frequentam os bisnetos, o que estudam, etc. Tem um telemóvel que
lhe ofereci há 4 quatro anos e até há poucos anos andava de bicicleta e fazia
as suas próprias compras.
Como as pernas já não lhe permitem deslocar-se sózinho, no
dia das eleições, por volta das 13 horas dirigi-me com ele até à mesa de voto
nas Faias.
Quando chegámos à sua casa já estava na rua há algum tempo,
pois estes dias não querem atrasos. E lá estava ele, "pronto e
arranjadinho" à nossa espera, pois já tínhamos tudo combinado há algum
tempo.
Até aqui tudo normal. Íamos os quatro muito entusiasmados
com as "coisas" que ele nos ia contando pelo caminho.
O meu avô nunca falhou um ato eleitoral até aos dias de
hoje. É algo que ele faz com todo o gosto e prazer. É um verdadeiro dever por
ele assumido e mostra-se sempre muito indignado com as pessoas que não votam e
com a elevada abstenção.
O anormal aconteceu quando estacionei junto às Faias e o meu
avô saia do carro. Um pouco mais à frente, e em sentido contrário encontrava-se
estacionado um automóvel com uma pessoa, sentada ao volante, e outra debruçada
na janela.
De dentro do carro, e com um tom de voz altíssimo, que se
ouviu até alguma distância, a pessoa gritou: "isto é uma vergonha, andam
só a acartar velhos para votar".
De repente, ficámos os quatro incrédulos no meio da rua.
Como era possível alguém ter a ousadia de falar daquela forma, para um cidadão,
que independentemente da sua idade, vinha tão entusiasmado exercer o seu
direito de voto. Sim, aquele direito, pelo qual ele próprio tanto lutou. Não queríamos
acreditar. Mas o mais grave é que a pessoa que proferiu tal afirmação, foi só
nada mais, nada menos que o candidato a Presidente da Câmara pelo PPD/PSD, Sr.
Francisco Cunha.
Perante o que tínhamos acabado de ouvir o meu avô afirmou:
"Sou velho, mas estou vivo e acho que tenho direito a votar".
Fosse quem fosse, aquela frase não se devia pronunciar, mas
logo vinda de uma pessoa candidata a Presidente da Câmara? Ali parado, com o
carro quase em cima da mesa de voto.
Não queria acreditar. Não sei bem o que senti, sei que se
apoderou de mim uma grande tristeza e revolta e do meio da rua, também gritei
em tom bem alto "como é que é possivel uma pessoa candidata a Presidente
da Câmara ser tão mal formada?" e ainda o questionei "qual é que era
a diferença entre o direito de voto dele e o do meu avô?". E lá seguimos.
Muitas pessoas testemunharam este infeliz acontecimento. Quando entrei informei
os elementos da mesa do que se tínha passado e todos os presentes se mostraram
bastante indignados. Esta atitude caiu-me de tal maneira mal, que não conseguia
parar de tremer. Como o carro continuava parado no mesmo sitio, resolvi voltar
à rua e reiterar ao Senhor Francisco a sua mal formação e questionei-o se era
assim que pensava tratar os idosos de Alpiarça, caso fosse eleito, ao que me
respondeu que não tínha visto que era eu e que pensava que era um da Arpica.
Ainda mais indignada fiquei, tendo-lhe respondido que, por acaso o meu avô até
frequenta a Arpica. Mas por acaso os idosos da Arpica não são seres humanos como
os outros? Não são munícipes com os mesmos direitos?
De repente, ficámos os quatro incrédulos no meio da rua.
Como era possível alguém ter a ousadia de falar daquela forma, para um cidadão,
que independentemente da sua idade, vinha tão entusiasmado exercer o seu
direito de voto. Sim, aquele direito, pelo qual ele próprio tanto lutou. Não queríamos
acreditar. Mas o mais grave é que a pessoa que proferiu tal afirmação, foi só
nada mais, nada menos que o candidato a Presidente da Câmara pelo PPD/PSD, Sr.
Francisco Cunha.
Como todos os presentes testemunharam, quando voltei para
junto da mesa de voto já o meu avô vinha a dirigir-se à mesa, com os seus
preciosos votos na mão, colocando-os no local apropriado, não precisando dos
netos para nada, tendo o senhor Francisco abandonado o local só após
advertência de um elemento da mesa, no fim de nós já nos encontrarmos dentro do
carro.
Acreditem que seria um grande desgosto para o meu avô se não
fosse votar. Aliás, isso nem lhe passaria pela cabeça. E tenho a certeza que
votou conscientemente, em quem achou reunir as melhores condições para liderar
os destinos de Alpiarça, pois sobre a sua intenção de voto nem sequer falámos.
Só sei que voltámos para casa completamente abalados com
este infeliz acontecimento.
Entristece-me ainda mais este episódio ter sido presenciado
pelos meus filhos, a quem estou constantemente a incutir regras de boa
educação.
Mais uma vez, como em muitas outras ocasiões, o meu Avô foi
um orgulho para mim.
Confesso que ficaria muito apreensiva se o Senhor Francisco
tivesse sido eleito Presidente da Câmara, pois acho que esta não é forma de
tratar a população idosa.
Os idosos são um exemplo de Vida. Pela sua experiência,
pelos seus ensinamentos, pelas condições adversas em que muitos se encontram.
Tal como afirmei à pessoa da mesa, represente daquela
candidatura, isto não se trata de partidarismos ou de política. Tem a ver com
as atitudes das pessoas e a sua formação.
Afinal pensava que vivíamos num país desenvolvido,
democrático e em pleno século XXI, com uma constituição da república em vigor.
O meu avô foi e continuará a ser uma das pessoas mais
importantes da minha vida e que eu amo muito. Por isso, ele e todos os outros
com cabelos brancos merecem todo o nosso respeito e admiração.
Afinal quem quer ser respeitado deve dar-se ao
respeito