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domingo, 31 de agosto de 2014

CULTURA AVIEIRA: As vivências Avieiras – Assentamentos Avieiros

Por :Lurdes Véstia (*)
Nesta Crónica vamos fazer uma viagem pelos assentamentos Avieiros ainda existentes se bem que em alguns casos se vejam praticamente só ruínas…
 Os assentamentos avieiros estenderam-se, como já foi referido na Crónica passada, por um território vasto, porque abarca o Tejo, desde a Póvoa de Santa Iria até Abrantes, e ainda a foz do rio Sado, especialmente em Alcácer do Sal. Na Borda d´Água tagana ainda subsistem as aldeias Avieiras de Porto da Palha (Azambuja), Palhota (Cartaxo), Escaroupim (Salvaterra de Magos), Caneiras (Santarém), Patacão (Alpiarça) e Azinhaga (Golegã). As aldeias Avieiras do grande estuário, Vila Franca de Xira, Alhandra e Póvoa de Santa Iria foram arrasadas pela autarquia, em nome da modernidade, e substituídas por bairros sociais descaracterizados.
 Há aldeias que ainda guardam a “arquitetura” original das suas barracas e preservam as relações interpessoais com muita autenticidade. Por exemplo, se no Patacão (Alpiarça) as barracas foram abandonadas, por as famílias terem ido viver para a sede do concelho, na aldeia das Caneiras (Santarém) ainda há muitas famílias Avieiras que ai vivem e mantém a atividade piscatória.
Praia do Ribatejo (Vila Nova da Barquinha)
 Infelizmente já não resta qualquer vestígio da única casa palafítica ai existente. Em tempo útil alertámos para a necessidade de proteger esta barraca no concelho de Vila Nova da Barquinha, não fomos movidos por qualquer intuito conservador mas tão só o de preservar um património único e identitário.
  
Azinhaga (Golegã)

Esta barraca é a tradicional construção palafita e encontra-se perto da Ponte do Cação. Foi em tempos totalmente recuperada pelo seu proprietário, o Avieiro Custódio Petinga, com o apoio do Município da Golegã. Está suportada por colunas de tijolo e cimento, mas outrora esta estrutura era feita com troncos de madeira para deixar passar as águas em tempo de cheia do rio, o telhado é de duas águas, a fachada apresenta duas portas e uma janela e uma varanda o acesso é feito por uma escada.

Patacão (Alpiarça)

Em Alpiarça conhecem-se vários assentamentos Avieiros: Patacão de Cima e Patacão de Baixo, Touco, Quinta da Torre, Torrinha e Gouxa.
Destes só temos vestígios no Patacão. Este conjunto foi edificado junto ao dique de modo a ser a “rua” que liga todas barracas entre si.



Caneiras (Santarém)

Caneiras, no concelho de Santarém, possui cerca de 300 habitantes que se encontram divididos entre dois núcleos, um mais antigo situado junto ao rio Tejo, e outro mais recente criado quando os Avieiros começaram a virar-se para a agricultura e até para os serviços.
O conjunto mais antigo necessita de salvaguarda urgente pois corre o risco de total abandono, descaracterização e até a ruína.


Escaroupim (Salvaterra de Magos)

A cerca de 7 Km de Salvaterra de Magos situa-se a aldeia de Escaroupim, é uma típica aldeia piscatória, formada em meados dos anos 30. A Casa Museu Avieira foi um espaço criado pela autarquia, para preservar a memória coletiva dos Avieiros, é de madeira pintada de cores vivas e construída sobre estacas. No seu interior destacam-se três espaços: a cozinha onde o elemento que mais se realça é a lareira ladeada por tijolos e cheia com terra batida, a mesa das refeições e várias prateleiras completam esta divisão. A sala é a outra divisão onde estão dois baús para guardar roupa. Os dois quartos são de pequenas dimensões com camas de ferro. Por cima dos quartos, uma última divisão que serve de sótão para guardar os materiais de pesca.

Palhota (Cartaxo)

A Palhota é uma aldeia que pertence à freguesia de Valada, concelho do Cartaxo.

A aldeia Avieira da Palhota é toda ela erguida com casas de madeira, tipo palafitas, cuja origem se perde nos tempos. Nesta aldeia viveu Alves Redol (1911-1969) que aqui escreveu o seu romance “Avieiros”. O nome desta aldeia deriva do facto de na margem oposta se encontrar a Quinta da Palhota….

Porto da Palha (Azambuja)

Na propriedade do Lezirão, Azambuja, existe uma aldeia Avieira, Porto da Palha, uma comunidade de pescadores Avieiros, que foi assim alcunhada pelo facto de dai partirem muitas embarcações carregadas de palha para fazerem as “camas” dos cavalos na capital.
Síntese

A intenção de cimentar um projeto de desenvolvimento sustentável para a Borda d´Água tagana, com base na cultura Avieira e no rio Tejo, tem-nos obrigado a um trabalho continuado de divulgação e sensibilização para a necessidade de preservar e valorizar este património único e singular que existe, ainda, nas margens do rio Tejo.
(*) Mestre em Educaçao Social


1 comentário:

Anónimo disse...

Sem dúvida um bom trabalho sobre a cultura avieira, de autoria da Dra. Lurdes Véstia, amiga do nosso património identitário.
Está a autora e o JA de parabéns.
...Citando alguém:
“Povo que despreza o seu património e a sua memória coletiva, perde a sua “alma” e condena a sua identidade”, correndo o risco de ser ignorado por não ter diferenças para mostrar” e “Não haverá história se os marcos do passado não forem preservados”.

Amigo do Tejo