São jovens, formados e agricultores. Criado há menos de um ano, o projeto Semear Penafiel já conta com 12 produtores em modo biológico. A iniciativa autárquica tem duas vertentes, a agricultura tradicional e a biológica, mas é esta última que tem despertado mais interesse.
Foi a realização de um sonho. Maria e António tornaram-se oficialmente agricultores biológicos nas horas vagas. O SAPO apadrinhou o início do projeto, a plantação das primeiras follhas bebés. Num dia de sorte para os supersticiosos... dia sete do sétimo mês do ano.
São um dos doze produtores biológicos do projeto Semear Penafiel. A iniciativa autárquica criada há menos de um ano tem duas vertentes, a agricultura tradicional e a produção em modo biológico, mas é nesta última que o projeto começa a criar raízes.
A nova plantação de Maria Merêncio, professora do 1º ciclo, é fruto de muita pesquisa, leitura e aconselhamento com outros agricultores. Juntamente com o marido, conseguiu financimento de 40% do programa comunitário PRODER para a constituição das estruturas físicas, e o restante veio das poupanças. Para a certificação dos terrenos contaram com a ajuda da Câmara Municipal de Penafiel, o maior suporte do projeto.
"O município definiu um plano de apoio ao aparecimento de novos produtores em modo biológico, nomeadamente na comparticipação da certificação dos terrenos, comparticipando 100% no primeiro ano, 50% no segundo e 25% no terceiro ano, dando também um apoio financeiro nas formações iniciais em agricultura biológica", explica Susana Oliveira, vereadora do Desenvolvimento Rural na Câmara Municipal de Penafiel.
"Procuramos também, dentro das nossas possibilidades e em parceria com a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, dar todo o apoio técnico de que esses produtores precisam. Estes são, digamos assim, os incentivos mais diretos para o aparecimento de produtores em modo biológico", remata Susana Oliveira.
"Exploro todos os recursos da quinta"
O desafio foi também aceite por Olga Oliveira. Licenciada em Engenharia Agrária, passou por vários trabalhos até que o desemprego lhe bateu à porta. Na quinta de sonho onde passou parte da infância produz há cerca de um ano vários hortícolas em modo biológico.
Sozinha na maior parte do tempo, passa os dias a arranjar os dois hectares de terra onde pensa em breve ter também alguns cereais e um pomar. Tal como os outros agricultores do projeto, vende os seus produtos na Feira Biológica de Penafiel, que se realiza aos sábados de manhã na cidade e onde tenta contrariar a ideia de que os produtos biológicos são mais caros.
"O facto de nos unirmos como produtores, concentrarmos a aquisição dos fatores de produção, reunirmo-nos todos para escoarmos os produtos - penso que será uma mais-valia e que poderemos baixar os preços a curto prazo", refere Olga Oliveira ao SAPO.
Esta agricultora biológica tenta explorar todos os recursos da quinta. "Vivo do que produzo e exploro com um pouquinho de imaginação todos os recursos que tenho aqui na quinta. Por exemplo, não compro susbtratos nem fertilizantes: vou ali à floresta, recolho húmus debaixo dos carvalhos", conta. O gerume de urtiga ou o preparado de cavalinha são dois produtos feitos pela própria na plantação.
"Como McDonalds, bebo Coca-Cola, mas sou agricultora"
Terra de agricultores, Penafiel foi desde sempre um concelho rural onde muitas famílias fazem desta atividade o seu ganha-pão. Na Quinta do Segade, Graça gere o negócio dos Sousa Pereira. Desde 2006 a produzir em modo biológico, foram dos primeiros agricultores a optar por uma produção "mais amiga do ambiente".
Foram também os mentores do projeto Semear Penafiel, por já não conseguirem dar resposta sozinhos a todos os pedidos, sobretudo na Feira Biológica do Porto. Através de programas de formação, a Quinta do Segade vai ensinar os novos produtores biológicos do concelho a não cometerem os erros normais de um estreante.
Além de dinamizar a economia local, o objetivo do projeto é combater o desemprego e o sedentarismo, visto que é direcionado apenas para os habitantes do concelho. Para Graça Sousa Pereira é também uma maneira de desmistificar o estereótipo do agricultor. "Eu falo cinco línguas, já visitei quase metade do mundo, uso Crocs, como McDonalds, bebo Coca-Cola mas... sou agricultora. Isto para desfazer aquela visão horrível que nós temos de que todas as pessoas que são agricultoras são velhas e sujas", afirma.
Com 12 agricultores a produzir em modo biológico e outros sete interessados em aderir à iniciativa, Penafiel explora assim um modelo de negócio com tradições, mas adaptado aos novos tempos.
«Sapo»
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