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domingo, 23 de outubro de 2011

País indecente


O salazarismo
… legou-nos um país atrasado, muito pobre, mas honrado. Controlado com mão de ferro, impunha as suas ideias pela força, mantinha os seus habitantes na ignorância e quase todos viviam na miséria – um país de pés-descalços e de analfabetos. Quem queria escapar a esta sina tinha que emigrar, quase sempre, clandestinamente. Mas os cofres do Estado estavam a abarrotar de ouro. Como era anacrónico, persistia em manter um império colonial numa altura em que essa prática já tinha sido abandonada. Para isso, os que dirigiam este país, não hesitavam em sacrificar os seus jovens, enviando-os para um destino incerto, alguns para uma morte certa. Como era inevitável, tal regime político acabou por cair de podre, às mãos dos mesmos jovens que insistira em sacrificar. E veio um tempo novo. De esperança num futuro risonho. Alguém se lembra?
O soarismo …
… depressa, uma nova classe dirigente, emergiu e medrou. Tudo gente do melhor. Verdadeiros democratas e amigos do povo.
Inimigos dos regimes que governavam com mão de ferro, eles eram, os verdadeiros campeões da liberdade: Soares, Filho & Companhia Lda.; Carlos Melancia; Monjardino; Abílio Curto; Almeida Santos, etc., etc., etc. Casos como o do aeroporto de Macau, do matadouro da Guarda e insinuações de negócios de diamantes em Angola, alguém se lembra?
O cavaquismo…
… para garantir a prosperidade do povo e consolidar a liberdade, surge numa figueira da foz, Cavaco Silva, homem providencial, acima de qualquer suspeita, muito sensato e poupadinho que soube escolher os melhores: Dias Loureiro; Oliveira e Costa; Duarte Lima; Mira Amaral, Ferreira do Amaral; Valentim Loureiro; Isaltino Morais, etc., etc., etc. Casos como o BPN, suspeitas de assassinato para sacar fortunas, reformas douradas depois de alguns anitos no Banco de Portugal, negociatas duvidosas com grandes grupos económicos, que assim que cumprem a missão patriótica de se devotarem à coisa pública, são convidados para a direção de empresas desses mesmos grupos, como na Lusoponte, suspeitas de lavagem de dinheiro, favorecimento em negócios, fuga aos impostos, alguém se lembra?
O guterrismo…
… a grande farra continua. A ‘picareta falante’, não renega a tradição (no seu segundo governo, o XIV constitucional, a democracia já atingira as 25 primaveras), revela a sua paixão pela educação e chama a si os mais cultos, instruídos e bem formados, aliás, em formação, na melhor e mais independente universidade do país - Armando Vara; José Sócrates & Companhia Lda. Aquele, revelara grandes preocupações com os condutores, transeuntes e peões, criando a famosa, e insuspeita, Fundação para a Segurança Rodovária. Mais tarde, já no socratismo, viriam a ser, infundadamente implicados no caso das sucatas Godinho e dos robalos, Casos como o Freeport e Cova da Beira, alguém se lembra?
Embora sem gravidade, mas sintomático e ilustrativo, não é possível esquecer o célebre e anedótico caso de Narciso Miranda, secretário de estado de Guterres, que embora sem possuir nem frequentar qualquer curso superior, terá justificado o uso do título académico de doutor com a relevância do cargo político que desempenhava.
O guterrismo foi fértil na revelação de autênticos animais políticos, na boa tradição do soarismo e seus digníssimos sucessores, cujo expoente máximo foi Jorge Coelho. Mas também Capoulas Santos, comedor de mioleira em plena crise das vacas loucas; Pina Moura; José Lello; Edite Estrela; Vieira da Silva; Augusto Santos Silva; etc., etc., etc.
Entretanto, atolado em tanta porcaria, o país tornou-se um imenso lago para onde escorreram durante um quarto de século todos estes esgotos sem tratamento. Guterres chamou-lhe pântano. E fugiu para tratar dos povos desfavorecidos, refugiados pobres e famintos, do resto do mundo. Nem reparou que abrira, abrira não, escancarara as portas que conduziam o seu próprio povo para um destino semelhante ao daqueles, isto é, condenados à pobreza e à fome.
A esta fuga seguiu-se a outra, de Durão Barroso, o ‘Cherne’, que passou a chamar-se José Manuel Barroso, vá lá saber-se porquê. Como se tem visto, sob a sua batuta, a União Europeia transformou-se numa orquestra cada vez mais desafinada. Esta, bem pode chamar-se “Os Paralelos do Ritmo”. Por mais que toquem nunca se encontram. Nem se entendem. Os países que a constituem, claro. Por cá, sucedeu-lhe uma grande figura do ‘jet-set’, Santana Lopes assessorado por Paulo Portas, homem previdente, que vendo o país a afundar-se no pântano, ou melhor, no esgoto, tratou de dar continuidade à compra de 3 (três) submarinos. Estivessem as finanças em bom estado e teria comprado um porta-aviões e uns contentores de bombas atómicas para garantir a nossa soberania, não fossem as grandes potências cobiçar o nosso precioso retângulo. Apesar de breve, durante o seu governo ainda houve tempo para, in extremis, é verdade, inventar o caso Portucale, alguém se lembra?
O socratismo…
… do tal animal feroz. A sua maioria absoluta iria tirar-nos do nojento chiqueiro laboriosamente criado ao longo de 30 anos. Com olho clínico, logo identificou os professores deste país como o grupo profissional mais indefeso, tratou de os vilipendiar e de lançar a opinião pública contra eles acusando-os de serem privilegiados. Falemos dos licenciados deste país ligados ao Estado, às empresas públicas e à função pública. Então os quadros técnicos superiores, os médicos, os magistrados, os oficiais das forças armadas e de segurança, os gestores, os políticos... não são privilegiados? Mestre da propaganda, o engenheiro(?) mostrou a sua coragem e determinação, com a ajuda de acólitos da craveira de Maria de Lurdes Rodrigues que, diga-se de passagem, percebe tanto de ensino básico e secundário como os sindicatos e Nuno Crato parecem perceber de avaliação de professores, isto é, nada, e mobilizando todos os meios ao seu alcance numa guerra contra estes, lançaram a inveja social sobre toda uma classe e congelaram os seus vencimentos, frustrando as suas expetativas de progressão. Teve o apoio entusiástico, entre outros, de figuras e comentadores da comunicação social (Fátima Campos Ferreira, Camilo Lourenço, João Marcelino, Miguel Sousa Tavares e outros) e de alguns políticos fora do PS (Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite). Entretanto, com o dinheiro assim poupado (muitos milhões de euros), atulharam as escolas com dezenas de milhar de computadores, milhares e milhares de quadros interactivos e projectores de vídeo, muitos dos quais nunca foram usados e alguns sequer instalados até hoje. Em boa verdade, em muitos casos, o último grito da tecnologia não passa de tralha que vai acabar na sucata sem nunca ter sido usada. Em muitíssimos casos o acesso à internet não funciona ou funciona mal e a manutenção é feita por ‘professores carolas’, à borla, que deviam ser bem pagos, como são os técnicos das empresas que desempenham tal tarefa. Serão ‘carolas’ parvos, mas continuam com fama de privilegiados. Como as TIC estão na moda e o dinheiro abunda, onde é que se havia de continuar a esbanjá-lo? Nos e-escolas e nos e-escolinhas, vulgo Magalhães. Imagine-se os negócios com as empresas do ramo. E ainda persistem políticos e comentadores que continuam a admirar e a elogiar os incompetentes responsáveis por estas políticas e insistem em espezinhar e invejar a classe docente. Se há, e haverá, professores incompetentes que não merecem o que ganham que se investigue, se apure quem são e se actue em conformidade. Mas a grande maioria é competente, empenhada, luta arduamente pela vida e não merece os ultrajes vergonhosos a que tem sido sujeita desde 2005. Deixem os professores em paz.
Depois disto, foi o que se viu e o que se sabe. À volta de Sócrates medraram nomes ímpares da política nacional que alcançarão a imortalidade pelos seus feitos e ficarão para a história como exemplo para as gerações vindouras. Figuras inesquecíveis como Manuel Pinho do Allgarve e Mário Lino do deserto ao sul do tejo, os famosos ‘Pino-Lino; Lino-Pino’ batizados pelo inenarrável democrata Hugo Chavez, aliás grande amigo de Sócrates, o vendedor de Magalhães em cimeiras iberoamericanas, estes últimos, grandes amigos e admiradores do defunto Kadafi. Foi ainda Sócrates quem nos brindou com tribunos de craveira mundial e nos revelou verdadeiros estadistas de gabarito galático – Francisco Assis; Augusto Santos Silva; Ricardo Rodrigues; Helena André; Sérgio Sousa Pinto; Laurentino Dias; Miranda Calha; Paulo Campos; Marcos Perestrelo; Jorge Lacão; Vitalino Canas; Pedro Silva Pereira; etc., etc., etc. Casos como os das parcerias público-privadas, da Parque Escolar, SCUTS, e, por fim, levou o país à bancarrota. Ah! É verdade, ainda não estamos na bancarrota. Pois não! Olhemos para os gregos e eis o que nos espera. E que tal a sensação?
Desde os tempos do soarismo que boatos e rumores de corrupção, tráfico de influências, oportunismo, não passam de coincidências, má-língua, inveja, ignorância…
Como é evidente, e toda a gente sabe, os casos anteriormente referidos nunca passaram de invenções delirantes que apenas serviram para pôr em causa o direito à honra (?) e ao bom nome destas ilustres personalidades, para entreter a polícia e ocupar a justiça. Quando, por ironia do destino, vão, injustamente, a julgamento, prescrevem as acusações, privando os suspeitos de se livrarem de suspeitas e, por conseguinte, de provarem as suas, insuspeitas, inocências. Ou então a justiça funciona e são absolvidos.
Muitos outros merecem ser louvados pela sua obra, pela sua competência e pelo seu exemplo. Basílio Horta (um exemplo de coerência política), Aguiar Branco (outro exemplo de coerência que ao mesmo tempo que criticava as políticas de Sócrates assessorava a Parque Escolar através do seu escritório de advogados), Vitor Constâncio (que apesar de usar óculos, nunca viu nada de estranho no BPN e NO BPP), Paulo Pedroso, Alberto João, Fátima Felgueiras (foi avisada para fugir à justiça por agentes que deviam tê-la detido), Avelino Ferreira Torres, José Penedos, Filho & Companhia Lda., etc., etc., etc.
E os professores é que são incompetentes? Dr. Passos Coelho e respectivo ministro da educação, mandem este modelo de avaliação da treta para o lixo; foi inventado por gente insana só para poupar dinheiro. Se não há dinheiro, continuem a cortar como estão a fazer, mas deixem os professores em paz, livrem-nos de tretas, reuniões parvas, tralha e papelada (poupem dinheiro), e já agora, criem uma avaliação séria.
Em qualquer país decente, os indecentes são punidos e os decentes premiados. Nos países indecentes, os indecentes são premiados e os decentes sacrificados.
Moral da história: Portugal é um país INDECENTE.
Um artigo de Luís Moura
Post colocado por Ramiro Marques

3 comentários:

Anónimo disse...

Luís Moura, traça aqui um panorama real, deste País à beira mar "pintado", de um modo soberbo.Com muita classe literária,rigor histórico e extraordinário sentido crítico.(Ah! E a respeitar já o novo acordo ortográfico).
Parabéns ao autor e a quem o trouxe até ao Jornal Alpiarcense.

M.C

Anónimo disse...

Emoldurem este texto, que fique como um dos resumos mais ilustrativos da nossa história recente. Palmas!

Anónimo disse...

Artigo 5 estrelas! Qualquer ser inteligente reconhece que esta é a verdadeira história de Portugal pós 25 de Abril.
Todas as outras versões, são estórias que nos querem contar.