Já se desconfiava, veio a confirmação:
os Antónios detestam-se. Os Antónios magoam-se. Os Antónios não divergem nas
ideias, divergem no carácter e no ego. Perdeu a política, perdeu sobretudo o
PS.
Num ponto António Costa tem razão:
António José Seguro está nesta campanha com uma energia e uma determinação que
antes não se lhe conhecia. Mas esse é também o drama de Costa – o seu lado
quase blasé lida mal com adversários mais agressivos, e Seguro terá sido apenas
o primeiro deles.
Este último debate teve momentos penosos
de ver – momentos penosos sobretudo para o PS.
Foi penoso ver dois candidatos à
liderança do Partido Socialista reconhecerem que, afinal, nada os divide no
campo das ideias, mas que tudo os separa porque se odeiam ao ponto de se ter
ficado sem perceber se são sequer capazes de se olhar olhos nos olhos a não ser
para atirar acusações um ao outro. Acusações que são sempre facadas venenosas.
Foi também penoso perceber, ao fim de
três debates, o pouco que dois líderes que pretendem ser o próximo
primeiro-ministro têm para dizer quando toca a concretrizar políticas, foi
penoso ver como continuam a esquivar-se a tudo o que é compromissos, como
continuam a atirar muito lá para diante dizerem como, com realismo, fariam
diferente.
Durante muitos anos olhámos para o PS
como um partido de ideias que, quando discutia lideranças, discutia
alinhamentos mais ou menos à esquerda ou à direita. O PSD é que era o partido
das lutas de galos, o partido que só se preocupava em escolher o melhor cavalo
para ganhar a próxima corrida eleitoral. Este debate, estes debates, mostraram
até que ponto esse PS é passado, até que ponto se quis reduzir a discussão a um
“eu sou melhor do que tu”, ou a um “tu é que traíste, tu é que tiveste medo dos
anos difíceis da oposição”. Pior: fica-se com a ideia de que, para além da
forma como pessoalmente se detestam, Costa e Seguro também se afastam de forma
dramática pelos apoios que trazem, pelo que representam do PS. E isso assusta
um bocadinho, porque é nebuloso e escorregadio.
Não sei se este debate mudou alguma
coisa no sentimento de quem vai votar no próximo domingo. Não sei se a
agressividade de Seguro não irritou demasiado o PS que ainda acredita que é PS.
Não sei se as fragilidades mostradas por Costa, que voltou a parecer intimidado
e pouco preparado, não contrinuiram para desiludir alguns dos seus apoiantes.
O pior para Costa de toda esta campanha
eleitoral, e destes debates, é que ficámos a conhecê-lo melhor, e isso não foi
bom para ele. Paradoxalmente, o Seguro desta campanha e destes debates
revelou-se melhor, mesmo nos seus excessos, do que o Seguro dos moles debates
parlamentares, e isso foi bom para ele.
Quanto ao Partido Socialista, foi quem mais saiu a perder do último debate dos Antónios.
Quanto ao Partido Socialista, foi quem mais saiu a perder do último debate dos Antónios.
«JMF/O Observador»
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