Têm uma quota-parte de responsabilidade na bancarrota e julgam-se donos do país
Não há festa nem dança em que não apareçam os sindicatos e os sindicalistas a debitar opiniões, a meter o nariz onde não são chamados. Os sindicatos têm uma esfera de accção perfeitamente definida. Existem para defender os seus associados em matérias muito concretas, como as remunerações e as condições de trabalho. Ponto. Mas em Portugal não é assim. As centenas de sindicatos e federações, tanto da UGT como da CGTP, têm a mania que devem ser ouvidos sobre tudo e sobre nada. E, verdade seja dita, políticos e jornalistas fazem-lhes a vontade. Não há dia em que não apareça alguém a questionar as políticas de saúde, educação, segurança interna, defesa nacional, obras públicas e transportes. Para descanso dos ouvidos, os sindicalistas ainda não se especializaram em política externa e relações diplomáticas, mas com certeza que irão lá chegar muito rapidamente. Dito isto, é verdadeiramente incrível que a privatização de uma empresa como a TAP, por exemplo, e o eventual interesse de brasileiros no negócio mereçam comentários de alguns dos muitos sindicatos que pululam na companhia aérea. A política de privatizações é uma matéria para a qual os sindicalistas não devem ser chamados. Na TAP, na EDP, nos CTT, nas Águas ou na RTP. Não têm nada a ver com isso. São assuntos de governo e oposição. São temas em que o debate é político e as decisões são políticas. É claro que os senhores sindicalistas, como tal ou na qualidade de cidadãos, sempre com via verde para a comunicação social, podem opinar sobre as privatizações, as nacionalizações ou as nomeações de administradores. Mas apenas isso. O mesmo se diga na educação com os poderosos sindicatos e federações do sector. Os senhores falam sobre tudo. Currículos, preços de manuais escolares, escolha de directores para as escolas, extinção de direcções regionais, orçamentos de funcionamento dos estabelecimentos de ensino, número de professores contratados pelo Estado, horas de matemática e português, enfim, são uns verdadeiros tudólogos da educação com o professor Mário Nogueira, líder da maior federação sindical, até preocupado e indignado com a falta de papel higiénico nas escolas. Há uns anos, muitos, Maldonado Gonelha disse que era preciso partir a espinha aos sindicatos. Na altura discutia-se a unicidade sindical e a criação de uma central alternativa à Intersindical comunista. Hoje, em 2011, com o país numa emergência nacional é urgente não só repetir a frase como pô-la em prática. Ainda por cima quando a irresponsabilidade sindical é patente em todos os domínios e os senhores teimam em não perceber que também ajudaram, e muito, a empurrar o país para a bancarrota. Quando dirigentes sindicais reivindicam aumentos salariais para 2012 até 4 % e outros já sonham com o que irão pedir quando a crise acabar, está tudo praticamente dito. Importa por isso que o governo, os ministros, o primeiro-ministro e os deputados que apoiam a coligação arrumem rapidamente os seus complexos de esquerda e comecem a falar muito grosso a uma classe de gente que se imagina dona do país e dos portugueses.
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