Por: Isabel Faria |
ESCREVER é um vício e uma necessidade. A
intervenção politica uma necessidade e um princípio.
Intervenho porque não desisto de mudar o
Mundo. Escrevo porque sei que não o conseguirei fazer sozinha e porque, muitas
vezes, não suporto a impotência de não o saber nem poder fazer acompanhada.
Escrever é, pois, um acto libertador. Sobretudo libertador da impotência e do
desencanto.
Saí de Alpiarça há muitos anos. Mas foi
aqui que vivi o 25 de Abril e aqui que o meu filho viveu os seus primeiros anos
de vida. Daqui partiu a minha mãe para a sua última viagem. Aqui quero ainda
ter o meu pai por muitos anos. Não é necessário que uns afectos morram para que
outros nasçam, foi-nos ensinando a vida…cá dentro, no lugar onde guardamos os
lugares que nos fizeram, cabe Alpiarça, onde nasci, Lisboa, onde vivo há quase
40 anos, o Porto onde o meu filho procura estrelas e planetas e sei lá eu que
mais…
Sou trabalhadora, membro da Comissão de
Trabalhadores da minha empresa, de Esquerda, desde que me lembro de mim menina,
militei e fui dirigente do Bloco de Esquerda durante nove anos, sou
anti-capitalista, acredito no Socialismo, na Liberdade e na Justiça Social. Já
trilhei muitos caminhos. Em alguns, tenho a certeza que nos cruzámos…noutros,
tenho a certeza que assim não foi. De uns e de outros guardei amigos, camaradas
e companheiros. Algumas vezes discussões acesas e desencontros…raramente
rancores. A minha indisponibilidade para lutas fratricidas é tão grande como a
minha indisponibilidade para calar divergências ou fazer favores políticos.
Quando o
António Centeio me convidou para colaborar com o Jornal, depois da 1ª crónica
que, gentilmente, aceitou publicar sem me conhecer de lado nenhum,
avisei-o que não conhecia muito bem o jornal (assim sendo, notem, muito pouco
sei do seu presente e menos ainda do seu passado – se já por aqui se passaram
guerras mundiais ou algo semelhante…eu parafraseio a Mafalda do Quino e
garanto-vos que Vim Depois) e avisei-o ainda que nem tudo o que escreverei será
tão pacífico e tão consensual como o texto Mulheres de Abril…ele disse-me que
não fazia mal…
Por isso, aqui estou. Quando tiver alguma coisa para dizer, direi. Se
acharem que merece a pena ser lida, será muito gratificante para mim…se não,
continuarei a escrever como sempre fiz. Porque preciso. Para estar viva, entre
outas miudezas…
Ah, e haverá um dia, que acredito que será breve, em que não me verão por
aqui certamente. Quando chegar a hora de voltar a sair à rua para resgatar
Abril., encontrar-nos-emos, sei-o, nas esquinas dos caminhos onde se derrotará
a política de austeridade que nos mata a vida e nos tenta matar os sonhos e o
futuro. E, se tivermos tempo de escolher uma banda sonora…sugiro esta:
)NR: Isabel Faria inicia com esta crónica a sua colaboração no Jornal Alpiarcense escrevendo sobre os mais diversos temas
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