Por: Isabel Faria |
Há uns anos, quando a minha mãe estava
internada no Hospital Santa Maria, eu vinha muitas vezes a Alpiarça, buscar e
trazer o meu pai. Vínhamos sempre pela A13, tínhamos um Fiat Cinquecento,
velhinho, velhinho, que não andava a mais de 90 km à hora e havia viagens, que
ninguém nos ultrapassava.
Quando, três dias antes de partir, a minha
mãe foi transferida do Serviço de Medicina Intensivo para o 7º Piso do HSM,
lembro-me de, sentada nos bancos de madeira esfolados dos corredores de paredes
esfoladas, chão esburacado, portas cheias de riscos e a precisarem de pintura
há décadas, frios, com as janelas a deixarem entrar o vento frio daquela mês de
Dezembro gelado, me lembrar do Primeiro- Ministro Cavaco Silva. Quantos
quilómetros a menos, daquela autoestrada vazia que percorríamos, teriam sido
suficientes para tornar menos violenta a sensação de degradação daquele Piso
dum Hospital publico e central da capital do País? Sei bem que as paredes
pintadas não nos devolvem a vida nem a saúde dos nossos...mas, ajudam, e todos
os que já passaram por isso, sabem que assim é, a tornar a angústia dos dias um
bocadinho menos...pesada. E, além disso, são um direito, para quem ali trabalha
diariamente e tenta dar o melhor de si a quem ali luta, muitas vezes, entre a
vida a e morte.
Claro que, nesse ano de 2009, ainda não
imaginava que, quatro anos depois, os amigos de Cavaco Silva no Governo, me
obrigariam a ir à farmácia comprar um desinfectante para a cicatriz da cirurgia
do meu pai, que o Hospital de Santarém deixou de ter e que custa, na farmácia,
pouco mais de 8 euros. Ou que os médicos do Hospital Garcia da Horta, em
Almada, iriam meter baixa médica, por não suportarem assistir, sem nada poderem
fazer, ao sofrimento dos doentes terminais a quem é negada medicação que os
ajude a suportar as dores.
A foto que hoje aqui vos deixo (ver mais abaixo), é desse
Cavaco Silva, Primeiro-Ministro. É um documento de 1992. Cavaco Silva foi
Primeiro Ministro durante 10 anos e é Presidente da República há 8. Nos 40 anos
de democracia, o homem que não lê jornais, o amigo do BPN, o Presidente que se recusou
a ir ao funeral de Saramago, o homem das forças de bloqueio, das vacas que
riem, que demite em menos de 24 horas um assessor por ter assinado um documento
que contesta as politicas do Governo que sustenta, está no há Poder 18...e
prepara já os próximos 18. Coerentemente, apela incessantemente a um
consenso entre os três Partidos do arco do Poder, que se mantenha para depois
das eleições, independentemente dos resultados ..das eleições.
O que pode
saber de Democracia quem concede pensões aos agente da PIDE/DGS, por
serviços “excepcionais e relevantes” prestados “à Pátria” , não é?
O que pode saber de sofrimento o homem que chama serviços excepcionais à
Pátria, a repressão e a perseguição da Policia Politica do regime fascista?
A memória pode ser a nossa maior aliada na
luta contra os dias que correm. Para impedir que voltem os que Cavaco Silva
enaltecia e recompensava a 27 de Março de 1992, faz depois de amanhã, 22 anos.