Por: Antonieta Dias (*) |
Infeções por citomegalovírus
(CMV)
A infeção por citomegalovírus é
uma doença viral que pode ser adquirida,
antes de nascer ou surgir em qualquer idade.
Num estudo efetuado em clínicas
destinadas a pesquisas de doenças infecto contagiosas nos Estados Unidos, foram
encontrados anticorpos para o CMV em cerca de 90% dos homens heterossexuais e
60% das mulheres observadas.
Sabe-se que este vírus infecta
cerca de metade da população de adultos novos nos Estados Unidos, sendo por
isso um vírus muito comum na comunidade, passando a sua infeção por vezes
despercebida.
Os doentes com infeção ativa
podem alojar o vírus na saliva e na urina durante meses.
O citomegalovírus é um vírus DNA
ubíquo, do grupo da família dos herpes vírus humanos, ao qual pertencem também
o vírus do Epstein Barr, o vírus da varicela zóster e o vulgar vírus herpes
simplex.
Relativamente à infeção pelo
vírus herpes –zóster, uma das precauções muito importantes a reter é que o
vírus herpes –zóster pode desencadear uma doença ocular, ou intestinal,
sobretudo em doentes com HIV, sendo a doença que provoca mais casos de cegueira
neste grupo de pacientes.
O diagnóstico é feito
habitualmente através de um teste laboratorial ”O Teste ELISA (Enzyme-Linked
Immunosorbent Assay”, podendo ser utilizados outros testes para esse efeito.
Na seriação das determinações
considera-se infeção aguda quando surge uma elevação quatro vezes mais em
intervalos de 10 a 14 dias.
O diagnóstico da doença é feito
com base nos resultados laboratoriais, associados à clinica do doente e depois
de excluir outras patologias.
Importa, referir que este vírus
(CMV), pode provocar uma retinite muito frequente nos doentes com SIDA, mas
produzem também lesões em vários locais do organismo humano, designadamente na
orofaringe, nos pulmões, no aparelho urinário, nomeadamente na bexiga ou nos
rins, no aparelho digestivo (fígado), e no cérebro.
Os estudos efetuados em dadores
de sangue saudáveis, realizados nas populações industrializadas, demonstraram
que 40 a 60%, destes indivíduos apresentavam marcadores de contacto (anticorpos)com
o CMV.
Porém, na maior parte das vezes
esta infeção é benigna, não desencadeia doença ativa devido à resposta eficaz
do nosso sistema imunológico, que nos defende da aquisição de doença, não sendo
por isso diagnosticada.
Excetuam-se os casos em que as
pessoas têm um sistema imunitário que se encontra deficitário como por exemplo
nos indivíduos com HIV, nos quais a doença se pode vir a desenvolver com sérias
complicações.
Se a infeção por CMV, surge em
grávidas pode ter riscos graves, por poder desencadear alterações no
desenvolvimento fetal.
Numa pessoa que tenha sido
infetada com este vírus, mesmo que a doença não se desenvolva, o CMV permanece
latente na saliva, no sémen, nas secreções vaginais, na urina e noutros fluidos
corporais, podendo ser transmitido através das relações sexuais e no contacto
do beijo, bem como noutras situações mais complexas como por exemplo nos
pacientes submetidos a transplantes de órgãos.
Este vírus quando inativo, pode
em situações de maior fragilidade imunitária reativar-se e provocar doença no
indivíduo onde se encontra alojado.
Entre 60 a 90% dos adultos
tiveram já um infeção em qualquer momento da sua vida, sem sintomatologia
manifestada.
Tendo por base as divulgações
reveladas nos Centers for Disease Control o CMV, esta doença representa 10 %
das infeções oportunistas nos doentes com SIDA.
Nas necrópsias realizadas neste
grupo de doentes, a infeção por CMV, foi identificada em 50% dos casos.
Porém, tendo em conta o número de
estirpes do CMV, as pessoas que já tenham sido infetadas, não ficam imunizadas
podendo ser reinfectadas, com novas estirpes de vírus.
Nos doentes infetados pelo HIV,
na década de 1980 a taxa de retinite aumentou seis vezes, esta situação pode
ser explicada na maior parte das vezes por uma reativação da infeção quiescente
e num numero muito pequeno de casos devida a reinfeção.
Os doentes que desenvolvem
retinite por CMV, queixam-se de visão turva, moscas volantes, sendo um fator de
procura da especialidade de oftalmologia.
O período de incubação da doença
após a infeção varia entre 4 e 12 semanas, todavia, os anticorpos IgM, surgem
logo no início e uma semana mais tarde surgem os anticorpos IgG.
Esta doença pode ser falsamente
interpretada como uma mononucleose infeciosa, quando se manifesta com sintomas
idênticos, com atingimento do sistema respiratório, digestivo, neurológico
(febre, astenia, poliartralgias, mal estar, leucopenia associada ou não a
trombocitopenia, hepatoesplenomegalia, erupções cutâneas , linfadenopatias,
sendo mais ou menos exuberantes conforme o estado imunitário do paciente.
Se esta doença se desenvolve numa
grávida, pode provocar lesões cerebrais irreversíveis, nomeadamente paralisia
cerebral, ou epilepsia, lesões oculares (cegueira), surdez, lesões
hépato-esplénicas, cuja gravidade é variável e depende da resposta do
hospedeiro.
Como meio de prevenção da doença
aconselha-se o uso de preservativo pelo menos no primeiro trimestre da
gravidez.
Os recém-nascidos infetados com o
CMV, eliminam o vírus pela saliva e pela urina, podendo vir a infetar as
crianças com quem convivem diariamente.
Não existem medicamentos preventivos da doença.
O tratamento da doença é feito
com antivíricos (por exemplo ganciclovir ou foscarnet). Contudo, estes fármacos
podem não curar a doença, porém minimizam ou atrasam a evolução da doença.
O tratamento com estes
medicamentos, implica uma vigilância periódica dos doentes, com intervalos
muito curtos, destinada a verificar não só a resposta do doente ao tratamento
instituído, mas também para controlar os efeitos laterais do mesmo, sendo que o
efeito colateral mais frequente do ganciclovir é a neutropenia, que na maior
parte das vezes regride com a interrupção do fármaco.
De acordo com a portaria n.º
21/95, o ganciclovir (ministrado por via endovenosa) é disponibilizado
gratuitamente pelo Ministério da Saúde.
Como se depreende estas
terapêuticas necessitam de uma vigilância médica permanente, com controlo
laboratorial apertado, são das infeções oportunistas mais frequentes nos
doentes infetados por HIV e podem ser também uma causa importante de doença em
qualquer grupo populacional saudável.
Em suma, apesar da infeção por
CMV, na grande maioria dos casos ficar silenciosa, devido à capacidade de
defesa do nosso sistema imunológico, isso não impede que se venha a manifestar
como doença que requer intervenção farmacológica agressiva pela gravidade do
quadro clínico que pode desencadear, não podendo por isso ser menosprezada e
muito menos, esquecida.
(*) Doutorada em medicina
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