"Se quiser ser realista, a Europa tem de se preparar para aceitar uma redução da dívida"
O Nobel da economia diz que também a Grécia e a Irlanda não serão capazes de pagar as suas dívidas.
"Tornou-se evidente que a Grécia, a Irlanda e Portugal não serão capazes de pagar as suas dívidas na totalidade, embora Espanha talvez se aguente", escreve Paul Krugman num artigo de opinião do New York Times, publicado hoje pelo i.
O economista arrasa a política seguida pelo Banco Central Europeu, que insiste que a estabilidade da moeda e o equilíbrio orçamental são a resposta a todos os problemas financeiros que os países da Europa atravessam.
"Por trás desta insistência estão algumas fantasias económicas, em particular a da fada da confiança - isto é, a convicção de que cortar na despesa vai de facto criar emprego, porque a austeridade vai criar confiança no sector privado", escreve Krugman. "Infelizmente, a fada da confiança está a fazer-se rogada e a discussão em torno da melhor maneira de lidar com esta realidade desagradável ameaça tornar a Europa o centro de uma nova crise financeira."
Para Krugman, as condições do empréstimo à Grécia fizeram com que o país se endividasse demasiado: "Os líderes europeus ofereceram empréstimos de emergência aos países em crise, mas apenas em troca de compromissos com programas de austeridade selvagens, feitos sobretudo de cortes da despesa. A objecção de que estes programas põem em causa os seus próprios objectivos - não só impõem efeitos negativos drásticos à economia, mas ao agravar a recessão reduzem a receita fiscal -, foi ignorada."
O economista diz que só há uma solução: "Como a fada da confiança até agora ainda não apareceu", a crise tem-se agravado, "tornando-se evidente que a Grécia, Irlanda e Portugal não serão capazes de pagar as suas dívidas na totalidade". "Se quiser ser realista, a Europa tem de se preparar para aceitar uma redução da dívida, o que poderá ser feito através da ajuda das economias mais fortes e de perdões parciais impostos aos credores privados, que terão de se contentar com receber menos em troca de receber alguma coisa. Só que realismo é coisa que não parece abundar", sublinha.
Alemanha e BCE têm-se oposto a esta reestruturação da dívida, pondo em causa o próprio euro."Se os bancos gregos caírem, a Grécia pode ser forçada a sair do euro - e é fácil ver como isto pode ser a primeira peça de um dominó que se estende a grande parte da Europa. Então que estará o BCE a pensar?", questiona Krugman.
O Nobel da economia termina o texto com mais uma pergunta: "Estou convencido que isto é apenas falta de coragem para enfrentar o fracasso de uma fantasia. Parece-lhe tolo? Quem é que lhe disse que era o bom senso que governava o mundo?".
(Económico - 25/05/11) NR: Os nossos agradecimentos ao leitor que nos enviou o texto
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