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domingo, 5 de agosto de 2012

Modelo de stress e lesões desportivas

 
 
 
 
Por: Antonieta Dias (*)
Reconhecendo a importância da interacção entre situações potencialmente stressantes e determinados factores da personalidade, assim como a influência de certas estratégias de intervenção na resposta de stress, Anderson e Williams (1988), propuseram um modelo que procura explicar a relação stress-lesões  desportivas.
Este modelo constitui não só uma forma de avaliar o risco de lesões, como sugere também possibilidades de intervenção para reduzir a probabilidade de lesões nos atletas de alto risco.
Segundo os autores, as situações desportivas potencialmente stressantes (v.g. competição, treino, baixo rendimento) podem contribuir para o aumento da vulnerabilidade do atleta para contrair lesões, dependendo da forma como este percepciona a situação. Uma situação percepcionada como ameaça aumenta o estado de ansiedade o que por sua vez provoca uma série de alterações ao nível da atenção e ao nível da tensão muscular.
De acordo com este modelo, existem dois mecanismos básicos subjacentes à relação stress e lesões desportivas que são respectivamente o aumento da tensão muscular geral e os deficits da atenção, quando o atleta se encontra sob stress.
Paralelamente, o modelo inclui três importantes factores que interagem entre si contribuindo para a resposta do indivíduo face à situação geradora de stress, são eles os factores da personalidade, a história de stressores e os recursos de confronto.
No que respeita à personalidade, existe um conjunto de variáveis cuja investigação tem demonstrado inequivocamente a sua influência, como é o caso da ansiedade competitiva, do locus de controlo, da motivação e da resistência psicológica.
Relativamente à história de factores de stress, incluem-se aqui os acontecimentos da vida do atleta (positivos e negativos), problemas diários e lesões anteriores. De acordo com este modelo os pequenos problemas diários podem criar condições para a ocorrência de uma lesão desportiva.
Além disso, as lesões anteriores são consideradas como elemento crucial para a predição de futuras lesões, pois um atleta que não se encontre psicologicamente recuperado de uma lesão pode experienciar níveis muito elevados de stress que poderão desencadear uma nova lesão.
Por último, os recursos de confronto são aqueles que permitem aos atletas lidar com situações potencialmente stressantes. Os recursos de confronto incluem o comportamento de confronto e controlo do stress e da ansiedade e um vasto leque de competências, comportamentos e relações sociais que ajudam os atletas a lidar com as situações geradoras de stress.
Estudos indicam que o baixo nível de recursos disponíveis constitui um forte preditor de lesões desportivas.
O elemento central no modelo de Anderson e Williams (1998) é a resposta de stress que se caracteriza por ser uma relação bidireccional entre a avaliação cognitiva da situação potencialmente geradora de stress e os elementos fisiológicos e atencionais da resposta ao   stress. Os autores atribuem particular importância a algumas mudanças durante o stress da situação competitiva como o aumento da tensão muscular geral, limitação e diminuição do campo visual e aumento da distractibilidade.
A tensão muscular generalizada provoca uma redução da flexibilidade, na coordenação motora e na eficiência muscular que podem expor os atletas a várias entorses ou roturas (Cruz, 1996).  A limitação e diminuição do campo visual, em particular da visão periférica, em situações de stress tem sido provada ao longo de diversos estudos. Segundo Anderson e Williams (1989, 1993), os recursos disponíveis para o processamento da informação poderão estar por trás da diminuição da visão periférica, em situações de stress, pois quando uma situação competitiva excede os recursos do atleta, todos os recursos disponíveis se focam nas tarefas mais centrais.
Por fim, o aumento da distractibilidade é também um aspecto importante a considerar principalmente quando leva o atleta a desviar a sua atenção da tarefa que está a realizar.
Anderson e Williams (1996), reservam ainda no seu modelo uma parte relativa às possíveis intervenções que podem ser realizadas no sentido de reduzir o risco de lesões desportivas, nomeadamente em atletas de alto risco e mais vulneráveis, do ponto de vista psicológico.
Segundo estes autores, “se os elementos centrais da resposta de stress (avaliações cognitivas e mudanças fisiológicas e atencionais) puderam ser positivamente modificados durante uma situação potencialmente geradora de stress, então a probabilidade de lesão pode também ser diminuída” (citado por Cruz, 1996). Neste sentido referem dois grupos de possíveis intervenções focadas nestes elementos centrais da resposta ao stress.
Relativamente às intervenções cognitivas, as técnicas de intervenção sugeridas englobam técnicas que promovam a confiança e o sentido de pertença, assim como técnicas para diminuir e eliminar padrões de pensamentos que geram stress ou outras respostas mal adaptativas.
No que diz respeito às intervenções propostas referentes às mudanças fisiológicas e atencionais, os principais objectivos centram-se na diminuição da activação e no aumento da concentração. Em resumo, este modelo vem sublinhar a importância de factores como a personalidade, história de factores de stress e recursos de confronto na resposta de stress a situações desportivas potencialmente stressoras, sugerindo estratégias de intervenção para a diminuição do risco de sofrer lesões.
Muitos estudos têm comprovado as hipóteses formuladas pelos autores.
Parece ser assim evidente o papel central desempenhado pelos processos de avaliação cognitiva na compreensão do stress. Como refere Smith(1986), “através dos processos de pensamento, as pessoas criam a realidade  psicológica a que respondem”. De acordo com Cruz (1989), ênfase idêntica é também colocada por Martens (1977), ao conceber o stress competitivo como uma reacção emocional, sentida sempre que a auto-estima do atleta é ameaçada. Reconhece-se, assim, a importância dos processos cognitivos mediadores, assumindo particular importância o papel desempenhado pelas percepções do atleta. A ameaça à auto-estima que por sua vez, gera a reacção de stress é criada pela auto-avaliação do atleta face à situação competitiva.
(*) Doutorada em Medicina

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