Por: Antonieta Dias (*)
Reconhecendo a importância da interacção entre situações potencialmente stressantes e determinados factores da personalidade, assim como a influência de certas estratégias de intervenção na resposta de stress, Anderson e Williams (1988), propuseram um modelo que procura explicar a relação stress-lesões desportivas.
Este modelo constitui não só uma forma
de avaliar o risco de lesões, como sugere também possibilidades de
intervenção para reduzir a probabilidade de lesões nos atletas de alto
risco.
Segundo os autores, as situações desportivas potencialmente stressantes
(v.g. competição, treino, baixo rendimento) podem contribuir para o
aumento da vulnerabilidade do atleta para contrair lesões, dependendo da
forma como este percepciona a situação. Uma situação percepcionada como
ameaça aumenta o estado de ansiedade o que por sua vez provoca uma
série de alterações ao nível da atenção e ao nível da tensão muscular.
De acordo com este modelo, existem dois mecanismos básicos subjacentes à relação stress
e lesões desportivas que são respectivamente o aumento da tensão
muscular geral e os deficits da atenção, quando o atleta se encontra sob
stress.
Paralelamente, o modelo inclui três
importantes factores que interagem entre si contribuindo para a resposta
do indivíduo face à situação geradora de stress, são eles os factores da personalidade, a história de stressores e os recursos de confronto.
No que respeita à personalidade, existe
um conjunto de variáveis cuja investigação tem demonstrado
inequivocamente a sua influência, como é o caso da ansiedade
competitiva, do locus de controlo, da motivação e da resistência
psicológica.
Relativamente à história de factores de stress,
incluem-se aqui os acontecimentos da vida do atleta (positivos e
negativos), problemas diários e lesões anteriores. De acordo com este
modelo os pequenos problemas diários podem criar condições para a
ocorrência de uma lesão desportiva.
Além disso, as lesões anteriores são
consideradas como elemento crucial para a predição de futuras lesões,
pois um atleta que não se encontre psicologicamente recuperado de uma
lesão pode experienciar níveis muito elevados de stress que poderão desencadear uma nova lesão.
Por último, os recursos de confronto são aqueles que permitem aos atletas lidar com situações potencialmente stressantes. Os recursos de confronto incluem o comportamento de confronto e controlo do stress
e da ansiedade e um vasto leque de competências, comportamentos e
relações sociais que ajudam os atletas a lidar com as situações
geradoras de stress.
Estudos indicam que o baixo nível de recursos disponíveis constitui um forte preditor de lesões desportivas.
O elemento central no modelo de Anderson e Williams (1998) é a resposta de stress que se caracteriza por ser uma relação bidireccional entre a avaliação cognitiva da situação potencialmente geradora de stress e os elementos fisiológicos e atencionais da resposta ao stress. Os autores atribuem particular importância a algumas mudanças durante o stress da
situação competitiva como o aumento da tensão muscular geral, limitação
e diminuição do campo visual e aumento da distractibilidade.
A tensão muscular generalizada provoca
uma redução da flexibilidade, na coordenação motora e na eficiência
muscular que podem expor os atletas a várias entorses ou roturas (Cruz,
1996). A limitação e diminuição do campo visual, em particular da visão
periférica, em situações de stress tem sido provada ao longo
de diversos estudos. Segundo Anderson e Williams (1989, 1993), os
recursos disponíveis para o processamento da informação poderão estar
por trás da diminuição da visão periférica, em situações de stress, pois
quando uma situação competitiva excede os recursos do atleta, todos os
recursos disponíveis se focam nas tarefas mais centrais.
Por fim, o aumento da distractibilidade é
também um aspecto importante a considerar principalmente quando leva o
atleta a desviar a sua atenção da tarefa que está a realizar.
Anderson e Williams (1996), reservam
ainda no seu modelo uma parte relativa às possíveis intervenções que
podem ser realizadas no sentido de reduzir o risco de lesões
desportivas, nomeadamente em atletas de alto risco e mais vulneráveis,
do ponto de vista psicológico.
Segundo estes autores, “se os elementos centrais da resposta de stress (avaliações
cognitivas e mudanças fisiológicas e atencionais) puderam ser
positivamente modificados durante uma situação potencialmente geradora
de stress, então a probabilidade de lesão pode também ser
diminuída” (citado por Cruz, 1996). Neste sentido referem dois grupos de
possíveis intervenções focadas nestes elementos centrais da resposta ao
stress.
Relativamente às intervenções
cognitivas, as técnicas de intervenção sugeridas englobam técnicas que
promovam a confiança e o sentido de pertença, assim como técnicas para
diminuir e eliminar padrões de pensamentos que geram stress ou outras respostas mal adaptativas.
No que diz respeito às intervenções
propostas referentes às mudanças fisiológicas e atencionais, os
principais objectivos centram-se na diminuição da activação e no aumento
da concentração. Em resumo, este modelo vem sublinhar a importância de
factores como a personalidade, história de factores de stress e recursos de confronto na resposta de stress a situações desportivas potencialmente stressoras, sugerindo estratégias de intervenção para a diminuição do risco de sofrer lesões.
Muitos estudos têm comprovado as hipóteses formuladas pelos autores.
Parece ser assim evidente o papel central desempenhado pelos processos de avaliação cognitiva na compreensão do stress.
Como refere Smith(1986), “através dos processos de pensamento, as
pessoas criam a realidade psicológica a que respondem”. De acordo com
Cruz (1989), ênfase idêntica é também colocada por Martens (1977), ao
conceber o stress competitivo como uma reacção emocional,
sentida sempre que a auto-estima do atleta é ameaçada. Reconhece-se,
assim, a importância dos processos cognitivos mediadores, assumindo
particular importância o papel desempenhado pelas percepções do atleta. A
ameaça à auto-estima que por sua vez, gera a reacção de stress é criada pela auto-avaliação do atleta face à situação competitiva.
(*) Doutorada em Medicina
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