.

.

.

.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O tal «silêncio dos inocentes»

Por: Anabela Melão

Na sua mensagem natalícia, Passos falou de astronomia/astrologia ... e de um Portugal imaginário que vive entre Belém e São Bento. "este será o primeiro Natal, desde há muitos anos, em que os portugueses não terão nuvens negras no seu horizonte". contra as nuvens negras acenou com uma nova fase de "crescimento, de aumento do emprego e de recuperação dos rendimentos das famílias", com "o alívio fiscal" prometido pela reforma do IRS, e com "uma recuperação assinalável do poder de compra de muitos portugueses". 
Com toda esta panóplia de dissertações alucinogénas ainda alguns portugueses estão convencidos que chegou a hora do grito do ipiranga, dos vivas e dos festejos. Diz que para o ano tudo correrá melhor.
Ora, só para contrariar ...
- Mais de um milhão de portugueses aptos a trabalhar continuam sem trabalho. 
- O Eurostat fixou a taxa de desemprego nos 13,1. A que acresce o número de "desencorajados", aqueles 5,2% da população ativa que, conforme o Boletim Económico do Banco de Portugal, desistiram de procurar emprego. Se a estes juntarmos o desemprego jovem - 1 em cada 3 - e os mais de 350 mil portugueses que, nos últimos três anos, procuraram a sorte na emigração, chegamos a 2015 com uma taxa real de desemprego acima dos 20%. Ou seja: 1 em cada 5 portugueses aptos a trabalhar não encontra emprego em Portugal. Insistimos em ser um país com maiores desigualdades entre os seus pares europeus. Este é o balanço de três anos de políticas de austeridade. A este triste balanço, junte-se o número de casais em que ambos os cônjuges estão desempregados (são já 11 mil, mais 7 mil que em 2011) e o número de falências de empresas (são mais de 40 por dia decretadas na primeira instância), que continua a crescer e constata-se que não estamos, nem estaremos tão cedo, em maré de festejos.
Precipícios e desastres, mesmo os que não advém da natureza mas sim da incompetência de quem nos governa, são um mau agoiro para quem os sofre. E com este governo essa é uma realidade conhecida de muitos de nós: à beira do precipício e no meio do desastre dificilmente se consegue vislumbrar uma nota positiva que nos dê razões para festas. Como doentes, já passávamos bem sem a mensagem natalícia dos hospitais do primeiro causador da maleita que nos devora. 
Triste mesmo é suspirarmos para o ar como se o problema não fosse nosso e como se nossa não fosse a culpa do estado de coisas em que nos encontramos. Triste é termos sido nós [e em nada interessa quem fez parte dessa maioria vencedora que deu a vitória a Passos] a dar a este homenzinho o poder de nos conduzir direitinho ao abismo. Triste é a tal «maioria silenciosa» ... o tal «silêncio dos inocentes»! 

Sem comentários: