Por: Octávio Augusto Membro da Comissão Política do PCP |
Como é habitual nestas ocasiões, a comunicação social bombardeia-nos com notícias de ceias, cabazes e outros eventos de solidariedade. Não se questionando a nobreza de quem os promove, a verdade é que sobressaem dois aspectos: o ressurgimento da «caridadezinha» e uma situação social catastrófica.
Fala-se bem menos das causas que conduziram a uma tão grave situação onde há cada vez mais portugueses que, trabalhando, estão cada vez mais pobres.
Ouvimos Passos Coelho. Falou de um país que não existe, dos postos de trabalho criados mas que são ficção, dos sinais que já se sentem de uma recuperação que só existe na sua cabeça. Mentiu, manipulou e espalhou cinismo.
A verdade é que o País está de mal a pior. Mais endividado, mais dependente.
Por mais que procurem atirar areia para os olhos dos portugueses, a seguir à troika virá a troika. E com a troika, mais medidas de austeridade e o saque aos trabalhadores, aos reformados e pensionistas, aos pequenos e médios comerciantes e industriais, aos agricultores, aos mesmos de sempre.
E os grupos económicos, o capital financeiro continuam a encher os bolsos e a passar à margem dos sacrifícios impostos à imensa maioria dos portugueses.
Ao contrário do que muitos afirmam, os governantes são competentíssimos. Têm como objectivo intensificar de forma duradora e definitiva a exploração, reduzindo salários e direitos, criando uma imensa massa de mão-de-obra barata, precária e sem direitos.
Têm como objectivo o saque dos reformados e pensionistas.
Têm como objectivo a destruição dos serviços públicos e das funções sociais do estado. A destruição do serviço nacional de saúde, da escola pública, da segurança social.
Governantes, politólogos, comentadores, analistas e outrosistas de serviço e ao serviço do capital, de barriga cheia e alinhados pela batuta do dono, desdobram-se numa overdose ideológica de que não há outro caminho, de que os taissinais, embora ténues, nos indicam que estamos no rum o certo. Pressionam de forma descarada o Tribunal Constitucional, culpam a Constituição, desajustada, ultrapassada, bloqueadora, causadora de todos os males.
Anunciam o plano B, que não existe, mas existe. E com esse plano, prosseguirão na sua cavalgada de roubar e saquear os do costume e, ao mesmo tempo afundam ainda mais o País.
Sentem que não basta ignorarem a Constituição, apesar de terem jurado cumpri-la com uma mão e com a outra fazerem figas, é preciso acabar com ela. Uma outra Constituição mais moderna, mais de acordo com os novos tempos de regressão civilizacional.
Trata-se não só de reduzir a zero a democracia social, económica, cultural que a Constituição de Abril de Abril consagra, mas também de produzir profundas e nefastas transformações que conduzam à destruição da própria democracia política nela consagrada.
Os senhores do dinheiro dizem agora de forma clara que é preciso um acordo que vá muito para além da actual legislatura, que envolva os partidos do chamado arco da governação, ou seja PSD, PS, CDS, que produza essas mudanças e que garanta ao capital a perpetuação da sua hegemonia. Dito de outra forma: que o poder político se subordine ao poder económico sem sobressaltos, por muitos e muitos anos, com um presidente, um governo e uma maioria que, alternando entre si, lhes garanta de forma duradora o poder que reconquistaram.
Está nas mãos dos trabalhadores e do nosso povo derrotá-los, ao seu governo e à sua política de direita.
Que em 2014 se amplifiquem e se multipliquem as lutas, pequenas e grandes, alicerçadas na magnífica e dinâmica luta de massas desenvolvida no ano que agora terminou, que à crescente indignação e revolta se junte cada vez mais a disponibilidade para a acção e para a luta.
Que em 2014 o Partido se reforce ainda mais, que transforme a crescente simpatia e identificação de milhares e milhares de portugueses com o PCP, sua análise e propostas, em mais força organizada.
Que 2014 seja o ano em que se ponha fim a este Governo e à política de direita e se abram as portas para a concretização de uma política patriótica e de esquerda, alicerçada nos valores de Abril.
Vamos a isso!
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