25 de Abril de 2014 - Novo Auditório da Casa dos Patudos
INTERVENÇÃO DE MARIA GABRIELA COUTINHO, pela bancada do PPD/PSD-MPT/TPA
INTERVENÇÃO DE MARIA GABRIELA COUTINHO, pela bancada do PPD/PSD-MPT/TPA
Exmº Sr.Presidente da A.M.
Exmº Sr Presidente da C.M.
Exmºs Srs Deputados Municipais
Exmº Sr. Presidente da A.F.
Exmª Srª Presidente da J.F.
Exmºs Srs Vereadores
Comunicação Social
Convidados
Amigos Alpiarcenses
Comemora-se
hoje o quadragésimo aniversário do 25 de Abril.
Para quem,
como eu, viveu mais de 20 anos numa ditadura que nos emudecia, que nos levava até às prisões para
visitar familiares e amigos, que nos impedia
de expressar, mesmo cantando, os sentimentos
que nos enchiam a alma, o dia 25 de Abril não se pode definir
apenas por palavras.
O sentimento
de quem, como eu, o sonhou em silêncio, o viveu, de quem, como eu o cantava clandestinamente anos antes,
nas canções de Adriano Correia de
Oliveira, Zeca Afonso, Luís Cília, Sérgio Godinho, entre outros, é um sentimento tão intenso como o de
parir um filho.
Fui educada
assim, educada para me indignar contra as ditaduras, contra a falta de liberdade e contra a falta
de respeito pelas opiniões alheias,
mesmo que discorde delas.
A Liberdade é
um estado de alma sem dono, um bem que todos devíamos cultivar sem hipocrisias, respeitando os
outros como gostamos de ser respeitados.
A Liberdade é tudo o que eu vos quero dar e quero receber de vós. Sei que há muitos que não conseguem
ser livres e ainda vivem dentro da sua
própria prisão sem conseguir libertar-se e respeitar opiniões
diferentes. Mesmo esses merecem o respeito de quem se sente LIVRE.
Nem todos são
capazes de ler o que vêem porque se deixam encantar pelo canto de uma qualquer sereia que lhe tolda a
visão pela comoção das palavras falsas.
Para esses o nosso carinho porque são os poetas com alma de criança.
Neste dia com
tanto significado e tanta dificuldade em o qualificar, não vou evocar ninguém em particular. Para mim,
há tantos homens, mulheres e até
crianças que sofreram para que este dia acontecesse, tantos que arriscaram a vida, que abandonaram
tudo, que morreram para que esta
democracia se consolidasse...De uma ou outra forma houve muitas diferenças que se uniram neste
objetivo que foi, é e será a consagração
da LIBERDADE. LIBERDADE, grito que muitos sufocaram na garganta, que se pôde sentir ao longo de
muitas vidas sofridas, e se gritou há 40
anos, nessa madrugada de Abril que floriu em PAZ.
Mas, hoje,
essa liberdade conquistada não responde ao nosso sonho. A falta de valores que se instalou na sociedade
em que vivemos, deturpa o espírito de
Abril.
A verdade, a
honestidade, a solidariedade e o respeito têm sido cada vez mais postos em causa. Prometeram-nos um
mundo próspero e civilizado mas
convenceram muitos de nós que esse mundo se construía sobre sonhos em que não era preciso trabalhar
para ser rico e, consequentemente,
feliz, Como se a riqueza material pudesse ser
sinónimo de felicidade… Muitos acreditaram e morreram desiludidos.
Outros vivem
a poder gritar com o grito que Abril nos trouxe mas sem que ninguém os ouça.
E é nesta
ditadura que não é de esquerda nem de direita, nesta ditadura que nos é imposta em nome da
liberdade, que continuamos a estar
presos por amarras que não são visíveis mas que existem e tornam mais difícil o combate. É uma ditadura dos
oportunistas e dos corruptos. Uns,
porque não olham a meios para atingir os seus fins e outros que se aproveitam dos cargos que
ocupam para negociarem as nossas vidas.
Mas, embora
com algum grau de pessimismo próprio da minha idade, não aceito ser mais um "vencido da vida".
Quero transmitir esperança, quero
acreditar num futuro sem profetas da desgraça. Quero acreditar que as gerações vindouras vão cultivar os
valores que se perderam pois, sem eles, nunca serão verdadeiramente livres.
E, para
terminar, vou ler um poema de Fernando Pessoa que retrata bem o estado nebuloso em que o nosso país se
encontra, não deixando, no entanto, de
ser um grito de esperança que vos quero transmitir.
"Nevoeiro
Nem rei nem
lei, nem paz nem guerra
Define com
perfil e ser
Este fulgor
baço da terra
Que é
Portugal a entristecer —
Brilho sem
luz e sem arder,
Como o que o
fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe
que coisa quer.
Ninguém
conhece que alma tem,
Nem o que é
mal nem o que é bem.
(Que ânsia
distante perto chora?)
Tudo é
incerto e derradeiro.
Tudo é
disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal,
hoje és nevoeiro...
É a
Hora!"
É a hora de
começar um novo ciclo. Deixo aos mais jovens esse desafio.
Um abraço a
todos, em nome da bancada a que pertenço.
Viva a
Liberdade
Viva a
democracia
Viva Alpiarça