Por: Isabel Faria |
Gabriel
Garcia Marquez, nasceu há 87 anos o lugar de Aracataca na Colombia e faleceu
esta Quinta-Feira na Cidade do México.
Entre
uma data e outra, escreveu das maiores obras literárias de todos os tempos,
teve que penhorar o aquecedor para poder enviar o original de Cem Anos
de Solidão a um editor argentino, ganhou o prémio Nobel da Literatura,
percorreu mundo, vibrou com revoluções, foi jornalista, perseguido pela CIA nos
EUA, pelos seus laços de amizade com Fidel e a sua admiração pela Revolução
Cubana, amou, teve filhos e um dia, há uns anos, perdeu a memória.
Durante
todo este tempo, sempre mais vivos cada vez que voltamos a Macondo, a
pequena aldeia imaginária do seu livro maior, Gabo encheu o nosso mundo de
Buendias e Aurelianos, que foram passando dos nossos pais para nós, de nós para
os nossos filhos, numa teia fantástica de imaginação e magia.
Crónica
de Uma Morte Anunciada (1981), O Amor em Tempos de Cólera, (1985)
ou O General no Seu
Labirinto (1989) foram outras das suas obras com as quais
muitos de nós se fizeram e aprenderam a "ler".
Em
1975, ano em que foi editado o livro que ele haveria de considerar o seu melhor
livro, "O Outono do Patriarca", Garcia Marquez esteve em Portugal a
fazer uma reportagem sobre a Revolução dos Cravos, para a revista Alernativa,
jornal de Bogotá, fundado por si e por outros jornalistas de Esquerda.
É uma
relato emocionado e entusiasmado sobre o Verão Quente. Gabo fala dos
portugueses que com tanta alegria deixaram de "parar nos semáforos",
dos encontros com Vasco Gonçalves "o coronel,
Primeiro-Ministro" que não sabia "de ciência certa se era
comunista", descreve Lisboa como a maior aldeia do mundo, onde "toda
a gente fala e ninguém dorme" (aliás, acaba por vacinar que se a Revolução
falhar é por causa da conta da eletricidade, pois as luzes do escritórios, das
casas e dos Ministérios, ficam acesas a noite toda!) e termina a sua última
crónica afirmando que está convencido que os portugueses conseguirão inventar e
fazer o "socialismo à portuguesa".
Há uma
altura, numas destas suas reportagens para a Alternativa em que questiona
"o que pensará de tudo isto o povo?".
Muitos
anos antes, em 1967, termina assim os Cem Anos de Solidão: à
familia Buendia "não será dada uma segunda oportunidade sobre a terra".
Possivelmente
a nós também não. De qualquer forma poderemos sempre contar aos nossos netos
que o homem que aprendeu a escrever com a sua avó Tranquilina que lhe contava
histórias mágicas de fantasmas e almas penadas e com o seu avô Nicolás que lhe
contava histórias nada mágicas de guerra e mortes, um dia escreveu que
acreditava em nós. Que nós éramos capazes.
Quanto a Gabo, a esta hora deve estar com Saramago e com Blimunda a ouvir Aureliano Buendia contar do dia em que, ainda menino, descobre que o gelo queima. ou de como se voltou a lembrar disso, muitos anos depois, perante o pelotâo de fuzilamento.
Quanto a Gabo, a esta hora deve estar com Saramago e com Blimunda a ouvir Aureliano Buendia contar do dia em que, ainda menino, descobre que o gelo queima. ou de como se voltou a lembrar disso, muitos anos depois, perante o pelotâo de fuzilamento.
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