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segunda-feira, 1 de junho de 2009

Pedaços de história alpiarcense

A derrota dos Alpiarças

Ao fim de 25 séculos, as muralhas castrejas do Castelo da Amoreira, na serra do mesmo nome, sobranceira a Odivelas, cederam finalmente ao avanço dos intrusos.
…”A ameaça não veio dos inimigos tradicionais do povo de Alpiarça que no séc. V a. C., ergueu o castro de Amoreira, mas surgiu sob a forma de antenas de rádio e televisão e do cimento das casas clandestinas. Uma “invasão” que tem provocado a degradação da estação arqueológica, a qual continua a aguardar classificação como património cultural.
A mais recente agressão ao “campus” arqueológico foi o início da instalação no cimo da acrópole do monte de um retransmissor da Tele Difusora de Portugal (TDF) – equipamento suportado por uma torres de 50 metros de altura e de um edifício de apoio em alvenaria – que se veio juntar a uma “floresta” de antenas de rádio, utilizadas pelo bombeiros, judiciária, estações de rádio locais e ainda a um depósito de água dos Serviços Municipalizados de Loures. A autarquia não esteve com meias medidas e, ao abrigo de um parecer do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), embargou a obra da empresa difusora do sinal da RTP e SIC.
Em 1983, Carlos Valverde, então estudante em Odivelas, “tropeçou” ocasionalmente num machado polido: um acidente que trouxe arqueólogos até à serra da Amoreira (mais propriamente um monte, com 313 metros de altitude, assente sobre bancadas de calcário do Cenomaniano superior). Três anos depois, e após a descoberta de novos achados arqueológicos (sobretudo fragmentos de cerâmica), Gustavo Marques, arqueólogo do Museu de Loures identificava os vultuosos alinhamentos concêntricos de grandes pedras negras de basalto como mais uma estação da Cultura de Alpiarça, datada da época do Ferro Inicial. Do ponto de vista científico era mais uma “acha para a fogueira” da polémica ibérica sobre o que terão sido duas culturas em tempos diferentes – para os espanhóis estava-se no Bronze Final, para os arqueólogos portugueses eram do Ferro final os vestígios primeiramente encontrados em Alpiarça.
Para Gustavo Marques, acérrimo defensor da tese da cultura Alpiarcense, o castro da Amoreira tem “um semelhanças indesmentíveis com outros povoados da mesma cultura, que se localizam na sua proximidade. Seria o caso “do povoado da mesma época reconhecido no claustro da Sé de Lisboa e provável ocupação do Castelo, no povoado de Santa Eufémia (Sintra), no castro do Socorro (Torres Vedras), na Pena do Barro (Torres Vedras)… Todo um horizonte cultural que corresponde, em data, nos clássicos lusitanos da nossa proto-história – conclui o arqueólogo do Museu de Loures.
Pela importância da estação, o Museu pediu (em Junho de 86) a classificação do monumento ao então IPPC – uma classificação que ainda não foi deferida pelo IPPAR, o organismo seu sucessor na estrutura da Secretaria de Estado da Cultura. Contudo, segundo a legislação referente ao Património (Lei 13/85, de 6 de Julho), a partir do momento em que é aberto o processo de classificação, toda e qualquer obra na zona de protecção está condicionada, devendo ser submetida ao parecer do IPPAR….
Compilado por: António Centeio
Fonte: «Público, de 19.04.93

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