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segunda-feira, 23 de julho de 2012

De Portas escancaradas

Mestre da dissimulação, Paulo Portas acaba por padecer do mesmo mal que padecem os peixes:ser pela boca que morrem. Depois de continuar a fazer crer não ser aquilo que é, ministro deste governo, tomando os portugueses por tolos ou distraídos; depois de habilidosamente criticar o chefe do partido seu aliado por destempero institucional nas criticas que fez à decisão do Tribunal Constitucional sobre o corte de subsídios para, por outras mas não menos inocentes palavras, engrossar o coro contra os trabalhadores agora vítimas do saque dos seus rendimentos; depois de meses de fingida preocupação pelos reformados, desapossados dos seus subsídios pela mão do PSD e do CDS, sem que um pio lhe saisse da boca para fora – Paulo Portas deu asas à sua cartilha ideológica marcada por uma indisfarçável vinculação aos interesses do grande capital e ao acervo ultra reaccionário que a acompanha. Em abreviadas palavras, disse Portas que «se o défice é do Estado, não faz sentido ir buscar cortes aos trabalhadores do privado» acrescentando, com a arte de manipulação que o distingue, não ser «justo que o sector privado tenha a mesma responsabilidade».
Três anotações se justificam perante este exercício de oratória: primeiro, para sublinhar a confissão de Portas de que, em matéria de roubo de subsídios à administração pública e aos reformados, é para o lado que dorme melhor; segundo, para registar a cínica identificação do Estado – e, sobretudo, o que os seus milhares de trabalhadores asseguram de direitos e funções sociais indispensáveis à qualidade de vida de todos os portugueses, sejam eles do privado ou público – com o percurso ruinoso a que a política de direita conduziu o País em matéria de défices e endividamento; terceiro, para anotar a ardilosa manobra para, a pretexto de uma falsa defesa dos trabalhadores do privado, roubados todos os dias nos seus rendimentos e direitos pela política do governo a que pertence, deixar incólumes os únicos interesses privados com que se preocupa, os interesses do grande capital e dos grupos económicos que representa.
Fonte:«Jornal Avante» 
Enviado por um colaborador

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