Mestre da dissimulação, Paulo Portas acaba por
padecer do mesmo mal que padecem os peixes:ser pela boca que morrem.
Depois de continuar a fazer crer não ser aquilo que é, ministro deste
governo, tomando os portugueses por tolos ou distraídos; depois de
habilidosamente criticar o chefe do partido seu aliado por destempero
institucional nas criticas que fez à decisão do Tribunal Constitucional
sobre o corte de subsídios para, por outras mas não menos inocentes
palavras, engrossar o coro contra os trabalhadores agora vítimas do
saque dos seus rendimentos; depois de meses de fingida preocupação pelos
reformados, desapossados dos seus subsídios pela mão do PSD e do CDS,
sem que um pio lhe saisse da boca para fora – Paulo Portas deu asas à
sua cartilha ideológica marcada por uma indisfarçável vinculação aos
interesses do grande capital e ao acervo ultra reaccionário que a
acompanha. Em abreviadas palavras, disse Portas que «se o défice é do
Estado, não faz sentido ir buscar cortes aos trabalhadores do privado»
acrescentando, com a arte de manipulação que o distingue, não ser «justo
que o sector privado tenha a mesma responsabilidade».
Três
anotações se justificam perante este exercício de oratória: primeiro,
para sublinhar a confissão de Portas de que, em matéria de roubo de
subsídios à administração pública e aos reformados, é para o lado que
dorme melhor; segundo, para registar a cínica identificação do Estado –
e, sobretudo, o que os seus milhares de trabalhadores asseguram de
direitos e funções sociais indispensáveis à qualidade de vida de todos
os portugueses, sejam eles do privado ou público – com o percurso
ruinoso a que a política de direita conduziu o País em matéria de
défices e endividamento; terceiro, para anotar a ardilosa manobra para, a
pretexto de uma falsa defesa dos trabalhadores do privado, roubados
todos os dias nos seus rendimentos e direitos pela política do governo a
que pertence, deixar incólumes os únicos interesses privados com que se
preocupa, os interesses do grande capital e dos grupos económicos que
representa.Fonte:«Jornal Avante»
Enviado por um colaborador
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