As
lesões assumem um papel extremamente importante no contexto desportivo,
representando um dos obstáculos mais significativos ao rendimento bem
sucedido na actividade desportiva. Muitos estudos se têm debruçado sobre
a problemática das lesões desportivas, salientando os aspectos e
factores psicológicos que se associam a estas e à actividade da
reabilitação e recuperação (Heil, 1993; Pargman, 1993; Williams e Ropke,
1993; Weinberg e Goul, 1995; Cruz e Dias, 1996; Buceta, 1996).
A
lesão desportiva é um acontecimento ao qual nenhum atleta está imune e
assume um grande impacto no contexto desportivo, pois implica um tempo
de inactividade com múltiplas consequências negativas, mais ou menos
prejudiciais, dependendo da gravidade da lesão, do momento em que ocorre
e da sua evolução. Muitas vezes uma lesão é responsável por uma
trajectória desportiva que não corresponde ao potencial do atleta
perdendo-se assim carreiras que poderiam ter sido brilhantes. Por vezes,
pode ainda ser a causa de abandono da prática desportiva deixando
sequelas que podem permanecer para o resto da vida.
Segundo
Heil (1993) uma lesão grave é o acontecimento mais traumático do ponto
de vista emocional e psicológico que pode acontecer a um atleta. Ainda
de acordo com este autor, “uma lesão representa não só um problema
físico mas também um desafio à manutenção do equilíbrio emocional e ao
jogo mental do atleta”.
Para muitos
atletas uma lesão e o seu processo de tratamento e reabilitação pode ser
extremamente stressante. Para aqueles que retiram grande parte da sua
auto - estima e percepção de competência a partir da sua performance, todo o processo da lesão e recuperação pode tornar-se particularmente desvastador.
Em
qualquer caso, uma lesão constitui um contratempo adverso que não é
possível de ser evitado totalmente, pois a própria actividade desportiva
tem implícito o risco de ocorrência de lesões (Buceta, 1996).
As
lesões desportivas podem ser consideradas como “acidentes de trabalho”
que decorrem como consequência da actividade desportiva. Neste sentido,
nenhum atleta profissional ou um simples praticante de desporto está
imune a este acontecimento traumático.
A
lesão assume-se como um acontecimento negativo e prejudicial por vários
motivos. Em primeiro lugar provoca dor e representa uma disfunção do
organismo que tem subjacente uma restrição do funcionamento normal de
um atleta.
Neste sentido está aqui
implícita a ideia de que envolve uma limitação da actividade desportiva
ou mesmo a sua interrupção encontrando-se aqui englobadas todas as
consequências negativas que daí advém.
De
um modo geral, as lesões implicam alterações na vida profissional,
social, familiar, e pessoal do atleta como consequência das restrições
impostas e como resultado das exigências da sua nova condição.
Segundo Heil (1993), as lesões podem agrupar-se em cinco categorias de acordo com os distintos níveis de gravidade.
De acordo com este autor, as lesões podem ser leves; moderadas; graves.
Graves
que provocam uma detioração crónica e por último, lesões que provocam
uma incapacidade permanente para regressar à competição.
Devido
ao facto da própria actividade desportiva ter implícito o risco de
ocorrência de lesões, torna-se fundamental prevenir, reabilitar o melhor
possível o atleta.
Neste sentido as
variáveis psicológicas que podem aumentar ou diminuir a vulnerabilidade
dos atletas às lesões, assumem aqui uma grande relevância assim como as
variáveis que influenciam o processo de recuperação e prevenção de
recaídas.
Estudos sobre as lesões em
contextos desportivos têm documentado a incidência destes acontecimentos
e a importância que representam para o exercício da actividade
desportiva.
Calvert (1979) salientou
que no contexto dos desportos interescolares, ocorriam anualmente nos
Estados Unidos cerca de 600 000 lesões entre os 5 milhões de
participantes. Mais tarde, Kraus e Conroy (1984) estimavam que
anualmente nos Estados Unidos lesionavam-se cerca de 3 a 5 milhões de
adultos e jovens em contextos desportivos, de exercício ou recreação. Ao
nível dos desportos amadores nos EUA, Hardy e Crace (1990) referem que
anualmente quase metade dos participantes sofre uma lesão que os impede
de participar ou competir. (Cruz e Dias, 1996).
Num
estudo de Williams e Roepke (1994, citado por Cruz e Dias, 1996), os
autores referem que nos EUA ocorrem mais de 70 milhões de lesões por ano
e que necessitam de atenção médica ou pelo menos um dia de
inactividade.
Ao nível da
investigação nacional, alguns estudos realizados em modalidades
específicas, sugerem também uma acentuada prevalência de lesões
desportivas. Em relação aos desportos colectivos é importante destacar
um primeiro estudo de Massada (1985) sobre as lesões traumáticas nos
voleibolistas. Dos 36 atletas observados, pertencentes a 4 das melhores
equipas portuguesas que disputavam o Campeonato Nacional da 1.ª
divisão, 86% referiram traumatismos que os obrigavam à paragem da
prática desportiva, registando-se um total de 112 lesões.
Numa
investigação Ribeiro (1992) estudou uma equipa de futebol profissional
(25 jogadores) ao longo de uma época e salientou a ocorrência de 49
lesões em jogos oficiais e de 37 lesões nos treinos. No total, as lesões
resultaram em 998 dias de tratamento e reabilitação.
Apesar
de grande parte das causas das lesões ser de natureza física (v.g.
sobrecarga de treino, mau equipamento, má nutrição, etc.), os factores
psicológicos encontram-se intimamente relacionados com a vulnerabilidade
às lesões, assim como desempenham um papel extremamente importante na
sua recuperação.
Ao mesmo tempo que
surge a lesão física pode ocorrer uma disfunção psicológica resultante
da incapacidade do atleta de lidar com a lesão e com todo o processo de
reabilitação. Quando ocorre a lesão existe uma perda temporária da
capacidade para participar na competição assim como uma ameaça
significativa à continuação com sucesso na actividade desportiva.
Dada
a elevada prevalência de lesões no contexto desportivo e o
reconhecimento da importância dos factores psicológicos associados às
lesões, têm sido realizados diversos estudos no sentido de clarificar as
variáveis de ordem psicológica relacionadas com uma maior
vulnerabilidade às lesões e quais as implicações na recuperação e na
reabilitação.
Em suma, os Centros de
Medicina Desportiva teriam um papel importante a desenvolver no
acompanhamento dos atletas lesionados, cujo impacto das lesões poderá
trazer consequências irremediáveis na sua carreira desportiva.
Estes
Centros, deveriam funcionar como Instituições diferenciadas no
tratamento dos atletas de elite lesionados, porém, infelizmente para
além de não conseguirem dar resposta à avaliação do exame de aptidão
médico desportiva, muito menos conseguem ter equipas multidisciplinares
de apoio integrado destinadas a responder de forma eficaz e atempada às
espectativas dos atletas e dos clubes, na recuperação das lesões, de
forma a minimizar as sequelas resultantes destes eventos negativos que
surgem imprevistamente na vida dos atletas.
O
desinvestimento nos recursos humanos, no equipamento e na manutenção
destes centros de apoio à alta competição têm vindo a degradar-se
progressivamente, exceptuando-se apenas, alguns casos muito pontuais
que conseguem responder de forma adequada aos objectivos para que foram
criados.
Importa, contudo referir o
trabalho meritório desenvolvido pelo Centro Nacional Anti Dopagem
(CNAD), que apesar de todos os constrangimentos e das restrições aí
geradas, consegue manter um nível de excelência no trabalho que
desenvolve.
(*)Doutorada em Medicina
Sem comentários:
Enviar um comentário