.

.

.

.

domingo, 22 de julho de 2012

Centros de Medicina Desportiva não dão resposta à avaliação e acompanhamento dos atletas de elite lesionados

 Por: Antonieta Dias (*)


 As lesões assumem um papel extremamente importante no contexto desportivo, representando um dos obstáculos mais significativos ao rendimento bem sucedido na actividade desportiva. Muitos estudos se têm debruçado sobre a problemática das lesões desportivas, salientando os aspectos e factores psicológicos que se associam a estas e à actividade da reabilitação e recuperação (Heil, 1993; Pargman, 1993; Williams e Ropke, 1993; Weinberg e Goul, 1995; Cruz e Dias, 1996; Buceta, 1996).
A lesão desportiva é um acontecimento ao qual nenhum atleta está imune e assume um grande impacto no contexto desportivo, pois implica um tempo de inactividade com múltiplas consequências negativas, mais ou menos prejudiciais, dependendo da gravidade da lesão, do momento em que ocorre e da sua evolução. Muitas vezes uma lesão é responsável por uma trajectória desportiva que não corresponde ao potencial do atleta perdendo-se assim carreiras que poderiam ter sido brilhantes. Por vezes, pode ainda ser a causa de abandono da prática desportiva deixando sequelas que podem permanecer para o resto da vida.
Segundo Heil (1993) uma lesão grave é o acontecimento mais traumático do ponto de vista emocional e psicológico que pode acontecer a um atleta. Ainda de acordo com este autor, “uma lesão representa não só um problema físico mas também um desafio à manutenção do equilíbrio emocional e ao jogo mental do atleta”.
Para muitos atletas uma lesão e o seu processo de tratamento e reabilitação pode ser extremamente stressante. Para aqueles que retiram grande parte da sua auto - estima e percepção de competência a partir da sua performance, todo o processo da lesão e recuperação pode tornar-se particularmente desvastador.
Em qualquer caso, uma lesão constitui um contratempo adverso que não é possível de ser evitado totalmente, pois a própria actividade desportiva tem implícito o risco de ocorrência de lesões (Buceta, 1996).
As lesões desportivas podem ser consideradas como “acidentes de trabalho” que decorrem como consequência da actividade desportiva. Neste sentido, nenhum atleta profissional ou um simples praticante de desporto está imune a este acontecimento traumático.
A lesão assume-se como um acontecimento negativo e prejudicial por vários motivos. Em primeiro lugar provoca dor e representa uma disfunção do organismo que tem subjacente  uma restrição do funcionamento normal de um atleta.
Neste sentido está aqui implícita a ideia de que envolve uma limitação da actividade desportiva ou mesmo a sua interrupção encontrando-se aqui englobadas todas as consequências negativas que daí advém.
De um modo geral, as lesões implicam alterações na vida profissional, social, familiar, e pessoal do atleta como consequência das restrições impostas e como resultado das exigências da sua nova condição.
Segundo Heil (1993), as lesões podem agrupar-se em cinco categorias de acordo com os distintos níveis de gravidade.
De acordo com este autor, as lesões podem ser leves; moderadas; graves.
Graves que provocam uma detioração crónica e por último, lesões que provocam uma incapacidade permanente para regressar à competição.
Devido ao facto da própria actividade desportiva ter implícito o risco de ocorrência de lesões, torna-se fundamental prevenir, reabilitar o melhor possível o atleta.
Neste sentido as variáveis psicológicas que podem aumentar ou diminuir a vulnerabilidade dos atletas às lesões, assumem aqui uma grande relevância assim como as variáveis que influenciam o processo de recuperação e prevenção de recaídas.
Estudos sobre as lesões em contextos desportivos têm documentado a incidência destes acontecimentos e a importância que representam para o exercício da actividade desportiva.
Calvert (1979) salientou que no contexto dos desportos interescolares, ocorriam anualmente nos Estados Unidos cerca de 600 000 lesões entre os 5 milhões de participantes. Mais tarde, Kraus e Conroy (1984) estimavam que anualmente nos Estados Unidos lesionavam-se cerca de 3 a 5 milhões de adultos e jovens em contextos desportivos, de exercício ou recreação. Ao nível dos desportos amadores nos EUA, Hardy e Crace (1990) referem que anualmente quase metade dos participantes sofre uma lesão que os impede de participar ou competir. (Cruz e Dias, 1996).
Num estudo de Williams e Roepke (1994, citado por Cruz e Dias, 1996), os autores referem que nos EUA ocorrem mais de 70 milhões de lesões por ano e que necessitam de atenção médica ou pelo menos um dia de inactividade.
 Ao nível da investigação nacional, alguns estudos realizados em modalidades específicas, sugerem também uma acentuada prevalência de lesões desportivas. Em relação aos desportos colectivos é importante destacar um primeiro estudo de Massada (1985) sobre as lesões traumáticas nos voleibolistas. Dos 36 atletas observados, pertencentes a 4 das melhores equipas portuguesas que disputavam  o Campeonato Nacional da 1.ª divisão, 86% referiram traumatismos que os obrigavam  à paragem da prática desportiva, registando-se um total de 112 lesões.
Numa investigação Ribeiro (1992) estudou uma equipa de futebol profissional (25 jogadores) ao longo de uma época e salientou a ocorrência de 49 lesões em jogos oficiais e de 37 lesões nos treinos. No total, as lesões resultaram em 998 dias de tratamento e reabilitação.
Apesar de grande parte das causas das lesões ser de natureza física (v.g. sobrecarga de treino, mau equipamento, má nutrição, etc.), os factores psicológicos encontram-se intimamente relacionados com a vulnerabilidade às lesões, assim como desempenham um papel extremamente importante na sua recuperação.
Ao mesmo tempo que surge a lesão física pode ocorrer uma disfunção psicológica resultante da incapacidade do atleta de lidar com a lesão e com todo o processo de reabilitação. Quando ocorre a lesão existe uma perda temporária da capacidade para participar na competição assim como uma ameaça significativa à continuação com sucesso na actividade desportiva.
Dada a elevada prevalência de lesões no contexto desportivo e o reconhecimento da importância dos factores psicológicos associados às lesões, têm sido realizados diversos estudos no sentido de clarificar as variáveis de ordem psicológica relacionadas com uma maior vulnerabilidade às lesões  e quais as implicações na recuperação e na reabilitação.
Em suma, os Centros de Medicina Desportiva teriam um papel importante a desenvolver no acompanhamento dos atletas lesionados, cujo impacto das lesões poderá trazer consequências irremediáveis na sua carreira desportiva.
Estes Centros,  deveriam funcionar como Instituições diferenciadas no tratamento dos atletas de elite lesionados, porém, infelizmente para além de não conseguirem dar resposta à avaliação do exame de aptidão médico desportiva, muito menos conseguem ter equipas multidisciplinares de apoio integrado destinadas a responder de forma eficaz e atempada às espectativas dos atletas e dos clubes, na recuperação das lesões, de forma a minimizar as sequelas resultantes destes eventos negativos que surgem imprevistamente na vida dos atletas.
O desinvestimento nos recursos humanos, no equipamento e na manutenção destes centros de apoio à alta competição têm vindo a degradar-se progressivamente, exceptuando-se  apenas, alguns casos  muito pontuais  que conseguem responder de forma adequada aos objectivos para que foram criados.
Importa, contudo referir o trabalho meritório desenvolvido pelo Centro Nacional Anti Dopagem (CNAD), que apesar de todos os constrangimentos e das restrições aí geradas, consegue manter um nível de excelência no trabalho que desenvolve.
(*)Doutorada em Medicina

Sem comentários: