Por: José João Pais |
Vou dar mais alguns tópicos acerca da criação do
concelho de Alpiarça e que constituem o coração do livro “Alpiarça, um concelho
da Republica”. A intervenção política assume aqui particular relevância. Vou
tecer algumas considerações acerca do principal partido nacional, em 1914, e a
sua influência em Alpiarça.
O Partido Democrático é o herdeiro da História do Partido Republicano, ou, pelo menos, pretende que assim seja. Essa associação é importante para as pessoas. Em Alpiarça isso tem uma importância redobrada. Alpiarça é uma vila republicana por excelência, desde os tempos da propaganda republicana. Não admira que, aqui, os democráticos tenham uma ampla representação. Os elementos do Partido Democrático, ou seus simpatizantes, ocupam, de facto, a maioria dos postos nos órgãos municipais, desde o Senado, Comissão Executiva e administrador.
O domínio dos democráticos, em Alpiarça, é tão avassalador e tão consistente, que, nas eleições que decorrem em Junho de 1915, para senadores e deputados, as listas do Partido Democrático, da qual faz parte o alpiarcense Dr. João Maria da Costa, bem como António Maria Batista, Lima Basto, Francisco José Pereira e António Augusto Tavares Ferreira, obtêm 339 votos, enquanto os candidatos unionistas, José Maria Pereira, Ginestal Machado e Matias Boleto, não obtêm qualquer voto e os candidatos evolucionistas, Francisco Nunes Godinho, Manuel Maria Coelho e João António Arruda, tem que se contentar apenas com 1 voto. Era esmagadora a força do Partido Democrático em Alpiarça. Aliás, como tivemos ocasião de verificar, foram os deputados e senadores do Partido Democrático o grande suporte político para a criação do concelho de Alpiarça e também o serão para a anexação da freguesia de Vale de Cavalos. Lembramos apenas que os signatários das propostas, tanto para a criação do concelho, como para a anexação de Vale de Cavalos, são o Dr. Queiroz Vaz Guedes e Francisco José Pereira, ambos deputados da bancada dos democráticos, bem como Guilherme Nunes Godinho, que apoiou a primeira daquelas propostas. É inegável, e decisivo, tal apoio parlamentar. O mesmo se pode dizer da intervenção de José Relvas, que, embora não pertencendo ao grupo dos democráticos, pois estava afecto à bancada do Partido Unionista, cujo líder era Brito Camacho, conseguiu arrastar o número suficiente de senadores para viabilizar a criação do concelho no Senado.
A organização do Partido Republicano/Partido Democrático era idêntica á organização administrativa do país. Tinha uma comissão nacional, uma comissão distrital, uma comissão municipal e, correspondendo à freguesia, tinha uma comissão paroquial.
Fixemos, então, quem são os elementos da Comissão Municipal de Alpiarça do PRP/Partido Democrático, eleitos em Julho de 1914, conforme vem referenciado no jornal O Debate, do dia 9 de Julho desse ano. Como efectivos surgem os nomes de, Raimundo Rodrigues Mendes, Joaquim Silva Prates, Joaquim Lourenço Fernão Pires, Joaquim Duarte, Manuel Duarte Mendonça. Como suplentes encontramos os nomes de, Francisco José Varela, António dos Santos, Anselmo José Catela, Eduardo Mendes e José dos Santos Duarte.
A Comissão Paroquial de Alpiarça do mesmo partido é constituída por, Joaquim Silva Catarino, António Martins Santos, Jacinto Maria Nunes, José Nunes Pedro e António Silva Dores. Os substitutos são: José Fortunato Valério, Frederico Mendes, Alfredo Cláudio do Rosário, José António Pagamim e José Jerónimo Guardado. Quase todos farão parte dos órgãos do novo concelho, como senadores municipais, membros da comissão executiva e da administração. Sem funções definidas na estrutura partidária concelhia temos os nomes de Manuel Duarte e José da Costa Malhou, presidentes da primeira comissão executiva e da comissão instaladora da Camara Municipal de Alpiarça, respectivamente.
Os Democráticos, que tinham Afonso Costa como líder nacional, dominaram de uma forma esmagadora, como já vimos, as eleições que se realizam em Alpiarça, sobretudo as de 1913 (nacionais) e 1914 (municipais) e também as de 1915 (nacionais). Não admira, por isso, que integrem maioritariamente todas as estruturas do poder municipal no ano da sua criação. E assim continuará a ser nos anos seguintes.
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